Iauaretê, a Cachoeira da Onça
A região de Iauaretê é banhada pelos rios Uaupés e Papuri, que formam a chamada “cabeça do cachorro” no mapa do Brasil e delimitam um bom trecho da fronteira com a Colômbia. Também demarcam o limite oeste da Terra Indígena Alto Rio Negro, no noroeste do Amazonas. As calhas destes rios são habitadas por povos indígenas pertencentes a diversas etnias da família linguística Tukano Oriental, Aruak e Maku, distribuídos ao longo de suas margens e de seus afluentes em mais de uma centena de comunidades e povoados.
Iauaretê é uma palavra de origem tupi, significa “Cachoeira da Onça”. O nome faz alusão aos primeiros moradores do local, os Yaí-Masa (palavra tukano traduzida por ‘gente-onça’), que habitavam a região no tempo em que os primeiros ancestrais dos povos indígenas chegaram. Conta-se que os Yaí-Masa começaram então a perseguir os ancestrais a fim de devorá-los, travando uma série de batalhas contra Ohkômi, ancestral do povo Tariano. Mas Ohkômi era esperto e sempre se transformava em algum animal, fruta ou objeto para fugir das investidas de seu perseguidor.
As marcas dessa história são, atualmente, visíveis nos diversos acidentes geográficos que formam a Cachoeira da Onça: pedras, lajes, fendas, paranás e ilhas e cada local foi nomeado de acordo com o episódio dessas batalhas ancestrais. É o conjunto dessas marcas visíveis nas pedras que formam uma rede de pontos sagrados, distribuída num extenso trecho dos rios Uaupés e Papuri. Considerar esse local sagrado como Patrimônio Cultural do Brasil é uma forma de reconhecer a importância da memória coletiva dos povos indígenas para a formação cultural do país. É também o reconhecimento da íntima relação que há no universo indígena entre patrimônio cultural e ambiental, na conformação dessas paisagens.