Monumentos e Espaços Públicos Tombados - Sabará (MG)

Igreja de Nossa Senhora do Carmo (Igreja de Nossa Senhora do Monte do Carmo) - Deve-se à Ordem Terceira do Carmo a iniciativa da construção da igreja, cujas obras foram contratadas com o mestre Tiago Moreira, autor do risco e iniciadas em 1763. Quatro anos depois, procedeu-se a entronização da imagem de Nossa Sra. do Carmo. Entretanto, em 1768, a Ordem decidiu modificar o projeto original do frontispício. As obras compreenderam o período de 1771/1774 e contaram com a participação de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a quem se atribui a autoria dos trabalhos de escultura que ornamentam o frontispício, especialmente a portada.

O Aleijadinho e seus oficiais foram responsáveis, também, pelos trabalhos de escultura dos púlpitos, coro e balaustradas, conforme documentos datados de 1779 e 1781, sendo igualmente de sua autoria as imagens de São João da Cruz e São Simão Stock, concluídas em 1779. Todos os trabalhos ornamentais em pedra-sabão ali executados são atribuídos ao Aleijadinho e seus oficiais, verificando-se, entretanto, que os ornatos da cimalha e das sobrevergas das janelas não apresentam o mesmo apuro técnico conferido à portada. Os anjos laterais e o querubim central dão excepcional realce à composição central.

Supõe-se ter Aleijadinho executado pessoalmente a portada, cabendo-lhe apenas a autoria do risco nos demais elementos ornamentais. Internamente, tanto a nave como a capela-mor apresentam piso em campas e forros curvos, de tabuado liso, com pintura decorativa. Estas são separadas por grades de madeira torneada, de desenho modulado, que se repetem na balaustrada do coro, de autoria de Aleijadinho, em concepção arrojada, cujas linhas moduladas acentuam o efeito de profundidade e monumentalidade. É guarnecido por bela balaustrada em madeira torneada, com colunas e ornatos dos suportes de gosto rococó. 

Destacam-se, lateralmente, duas expressivas esculturas de atlantes. Também de autoria do Aleijadinho, os púlpitos possuem enquadramento das portas e suportes em pedra trabalhada e tambores em madeira com superfícies onduladas, com esculturas em baixo-relevo reproduzindo cenas do Novo Testamento nas faces centrais. Dos três altares existentes, os dois do arco-cruzeiro caracterizam-se pela boa qualidade da talha e decoração de gosto rococó. As pinturas principais são de autoria de Joaquim Gonçalves da Rocha, existindo, porém, indícios de acréscimos e repinturas. No conjunto de imagens, destacam-se as de São João da Cruz e de São Simão Stock, alojadas nos altares do arco-cruzeiro, esculpidas pelo Aleijadinho.

Igreja de Santana (Capela de Santana) - Construída, presumivelmente, na metade do século XVIII, uma vez que a alvenaria de pedra empregada na sua estrutura, não é comum às edificações religiosas das primeiras décadas desse século. Destacam-se peças como o conjunto composto por Sant'Ana, São José e São Joaquim, dispostos no trono da padroeira, duas imagens da Virgem e uma bela imagem de São Miguel Arcanjo. Na sacristia encontra-se antigo oratório, contendo a imagem de Sant'Ana Mestra, com interessante pintura interna de caráter ingênuo.

Igreja de Nossa Senhora das Mercês - Coube à Irmandade de Nossa Senhora das Mercês, agremiação de homens negros, a iniciativa de construção da capela, na primeira metade do século XVIII. Implantada em sítio elevado, a igreja das Mercês apresenta planta em partido tradicional das primeiras construções religiosas de Minas Gerais, composto por nave e capela-mor no corpo principal, corredores e sacristias laterais. A fachada, bastante simples, possui frontão triangular, cimalha em cachorros, cunhais e enquadramento dos vãos em madeira. Internamente caracteriza-se pelo despojamento decorativo. Possui coro com balaústres de madeira, apoiado em pilastras também de madeira, nave e capela-mor com piso em tabuado liso e arco-cruzeiro de madeira. A ornamentação simples, apenas dois altares rústicos de tábuas lisas, sem qualquer ornamentação, dispostos na nave, junto ao arco-cruzeiro. O altar-mor, no mesmo material, apresenta o vão do trono e dois nichos laterais com os perfis ingenuamente recortados.

Igreja de Nossa Senhora do Ó - Os devotos iniciaram a construção da capela, em 1717. Supõe-se que nela teriam trabalhado artesãos provindos das possessões portuguesas do Oriente e que o pintor Jacinto Ribeiro, seja autor das "chinesices" da capela uma vez que o documento datado de 1721, refere-se ao artista como natural da Índia e morador na capitania das Minas, desde 1711. Destacam-se paredes revestidas de painéis emoldurados e teto em caixotões também com moldura. Tratam-se de quinze painéis emoldurados, com pintura decorativa em ramagens e cartelas contendo símbolos da Virgem, enquanto nas paredes laterais encontram-se quatorze painéis contendo pinturas figurativas alusivas ao nascimento e infância de Cristo. 

Também o arco-cruzeiro, com trabalhos em talha dourada, apresenta pintura em pequenos painéis em moldura octogonal, em estilo e motivos chineses, delicadamente pintados em ouro sobre o azul, além de painéis no forro sobre a vida de Maria e, nas paredes laterais, cenas diversas alusivas à Sagrada Família. A unidade decorativa do seu interior advém, principalmente, da harmonia conferida pelos elementos de policromia, o ouro, o vermelho e o azul, de gosto orientalizante, inspirado talvez na louça de Macau, largamente usada no Brasil naquela época.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário (Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Barra) -  A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos da Barra do Sabará, fundada em 1713, iniciou a construção da igreja, em substituição à primitiva capelinha de madeira. As obras foram iniciadas em 1767 e concluídas em 1780. A partir daí, as obras sofrem várias interrupções, por falta de recursos, sendo depois retomadas através de sucessivos contratos firmados com Leonardo de Moinhos, em 1798, mestre Antônio Ferreira da Costa, em 1805, mestre Antônio José Dias, em 1819, e mestre pedreiro Antônio José da Silva Guimarães, em 1856. Entre esse ano e o de 1878, os Irmãos do Rosário não mediram esforços para concluir as obras da igreja, mas foram impedidos pela dispersão religiosa dos negros, fruto da Abolição que se daria mais tarde.  

Igreja de São Francisco de Assis (Igreja de São Francisco de Assis sob a invocação de Nossa Senhora dos Anjos) - Construída para substituir a primitiva capelinha dedicada a Nossa Senhora Rainha dos Anjos (Arquiconfraria do Cordão de São Francisco). Sua construção ocorreu a partir 1781 e, em 1822, as obras de cantariam concluídas. Com proporções grandiosas, a ornamentação interna não chegou a se completar. A capela-mor apresenta piso em campas, tribunas laterais com grade de madeira torneada, destacando-se no forro pintura decorativa representando Nossa Senhora Rainha dos Anjos e figuras dos Evangelistas. Entre as imagens, destacam-se o Senhor Morto, São Francisco de Assis, Nossa Senhora Rainha dos Anjos, além dos expressivos santos de roca existentes em nichos da sacristia. 

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Construída entre 1700 e 1714, a suntuosa ornamentação interna se deveu ao padre José de Queiroz Coimbra, vigário da paróquia por mais de 60 anos. A igreja se encontrava bem paramentada, ostentando riqueza em sua ornamentação, e foi elogiada pelo naturalista francês, Auguste de Saint-Hilaire, devido aos quadros sobe as passagens da vida de Cristo, existentes no coro. É uma das mais ricas de Minas Gerais pela exuberância da talha dourada que reveste seu interior, traduzindo diferentes momentos do barroco.  O piso da nave central é de campas e o teto artesoado em caixotões, com pinturas bastante simples contendo símbolos da ladainha de Nossa Senhora, emolduradas por filetes dourados. 

Apresenta oito altares nas naves laterais, sendo três de cada lado e dois colaterais ao arco-cruzeiro, compostos por colunas torsas ou salomônicas, obedecendo ao estilo nacional português, característico da primeira fase do barroco em Minas. A exemplo da igrejinha de Nossa Senhora do Ó, a matriz de Sabará manifesta em sua decoração traços de influência oriental, devida talvez à colaboração de artesões oriundos das possessões portuguesas na Ásia. Complementam a ornamentação da igreja valiosas peças de mobiliário, alfaia e imaginária, destacando-se, pelas dimensões e apuro de acabamento, as cômodas ou arcazes de madeira escura existentes nas sacristias, além da imagem da padroeira que teria vindo de Portugal, por volta de 1750.

Capela de Santo Antônio (Capela de Santo Antônio do Pompeu) - A localidade de Pompeu é uma das mais antigas da área sabarense, tendo suas minas pertencido ou ao paulista Padre Guilherme Pompeu de Almeida, falecido em 1713, ou ao sertanista José Pompeu. Desconhece-se, entretanto, documentação referente à construção da capela, sabendo-se que a mesma já existia em 1731, conforme indica registro de batizado ali realizado naquele ano. Ignora-se ainda a autoria da ornamentação da capela, que deve ter ocorrido em princípios do século XVIII, uma vez que seu único altar possui talha característica da primeira fase do barroco em Minas. A riqueza da ornamentação é reservada à capela-mor, cujo retábulo se sobressai, não só pela riqueza dos elementos decorativos, como também pela policromia em dourado, azul e vermelho. O estilo do retábulo remonta à primeira fase do barroco em Minas Gerais, mas já apresentando sinais de evolução. Sylvio de Vasconcelos observa a influência orientalizante, particularmente na pintura da talha e na feição dos anjos.

Casa Borba Gato (atual Centro de Memória do Museu do Ouro) - A chamada Casa Borba Gato é uma construção típica do apogeu da Vila de Nossa Senhora do Sabará, do século XVIII. Situada na antiga Rua da Cadeia, ocupa posição de destaque dentre as construções vizinhas, apresentando belas sacadas originais com balaústres torneados. A origem do nome decorre do fato da Câmara Municipal, ao comemorar o bicentenário da elevação de Sabará à vila, em 1911, ter batizado a antiga rua da "Cadeia", onde se localiza o prédio, com o nome do bandeirante paulista descobridor das minas do rio das Velhas. O imóvel foi utilizado como residência a partir de 1828, pelo então proprietário, o padre João de Souza Guimarães. De 1871 a 1896 funcionou como Escola de Primeiras Letras. Em 1983 foi alugado pelo Museu do Ouro e passou a funcionar como Centro de Difusão Cultural, sendo reconhecido como bem de utilidade pública pelo município em 1984. Após sua restauração, passou a funcionar como Centro de Memória do Museu do Ouro, reunindo documentos históricos dos séculos XVIII e XIX, relativos à antiga Comarca do Rio das Velhas. 

Teatro Municipal - Chamado inicialmente "Casa de Ópera", localizado à rua D. Pedro II, foi edificado em meados do século XIX. É um dos mais interessantes edifícios de Minas Gerais, principalmente por ser o teatro um programa pouco comum à época, tendo ali se exibido os melhores conjuntos teatrais então existentes para uma plateia exigente e culta. Em 1831, viveu grandes momentos, quando recebeu a visita de D. Pedro II. Sabe-se que o teatro foi construído em terreno pertencente ao alferes Francisco da Costa Soares, com a constituição de uma sociedade anônima da qual o povo participou e reuniu recursos para a obra. Aos poucos, os cotistas proprietários do teatro foram doando suas ações à Santa Casa de Sabará, que mantinha a maioria das cotas na ocasião de seu tombamento em 1963. No século XIX transformou-se em Cine -Teatro Borba Gato, entrando em total decadência. Destaca-se a sala do tipo italiano, em forma de ferradura, com vasto palco elevado e ótima visibilidade. Em toda a volta, três andares de camarotes e galerias, com piso ascendente, a partir do palco. As portas de entrada pertenceram à antiga cadeia. A cortina do pano de boca foi pintada pelo conhecido pintor alemão George Grimm que veio ao Brasil em 1874, tendo sido por algum tempo professor na Academia de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.

Paço Municipal (Casa à rua Dom Pedro II, Solar Jacinto Dias e Solar do Padre Correia) - Sede da Prefeitura Municipal de Sabará. A casa foi construída por iniciativa do padre José Correia da Silva, seu primeiro proprietário, em 1773, e considerada a residência de mais nobre arquitetura e maior conforto da época. Recebeu hóspedes ilustres no decorrer do século XIX e XX, como os imperadores Pedro I e Pedro II e o Duque de Saxe  e o Presidente da República, Washington Luís, eleito em 1926.

Passo do Carmo (Passo de Nossa Senhora do Carmo, Passo do Calvário) - Construção em adobe, funcionou como capelinha autônoma, dedicada a Santa Luzia, cuja imagem pertencia ao pequeno altar existente. Observa-se o alto grau de apuro ornamental conferido ao seu interior, em relação aos demais passos remanescentes na cidade. As paredes externas são pintadas a cal e todas as peças aparentes de madeira em azul, entorno da edificação em seixos rolados, e soleira e degrau de entrada em pedra. Internamente, possui piso em lajotas, e paredes laterais revestidas de madeira com pintura decorativa, em barrados, rocailles e em motivos florais, enquadrando, em cada uma, três painéis com pinturas figurativas, representando episódios da Via Crucis, contendo os barrados inscrições latinas. Cabe destacar a superioridade da pintura do forro em relação às demais representações pictóricas que decoram o Passo, cuja composição lembra a pintura do forro d a sala-capela do Hospício da Terra Santa da mesma cidade, provavelmente da mesma autoria.

Casa Azul (Casa à Rua Dom Pedro II, 215) - Sabe-se somente que pertenceu ao Padre Antônio Correia da Silva, que ali viveu no século XVIII. Trata-se de uma edificação térrea, composta por degraus de acesso em pedra e madeira. A fachada apresenta cunhais e enquadramento dos vãos em madeira, cobertura de telhas curvas, em quatro águas, com beirais em cimalha de madeira. A ambientação interna é complementada pelo rico mobiliário e peças de antiguidade. Em frente ao vestíbulo, encontra-se uma pequena sala-capela, em cujo teto aparece pintura alusiva ao Espírito Santo, entre flores e rocailles. O retábulo, em madeira trabalhada e pintada, compõe-se de decoração em relevo dourado. O trono é substituído por tela a óleo representando a figura de Nossa Senhora das Dores e, sobre o sacrário, ornato em rocaille. A mesa do altar apresenta frontal com pintura em marmorizado e, segundo consta, teria pertencido à capela da atual Prefeitura Municipal. 

Casa da Intendência (Real Intendência do Ouro) - Atual sede do Museu do Ouro, anteriormente sede da Casa da Intendência e Fundição da Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, foi construída em 1730, pelo mestre de campo Faustino Rabelo Barbosa. Após a extinção da Fundição, pelo Imperador D. Pedro II, em 1833, o casarão ficou abandonado até fins do século XIX. Levado a leilão, acabou sendo arrematado pelo Comendador Francisco de Paula Rocha que fez funcionar no local um colégio, depois vendido à Companhia Siderúrgica Belgo Mineira. O Museu reúne objetos de valor histórico e artístico relacionados à indústria da mineração, resgatando, dessa forma, os aspectos principais da sua evolução e técnica, de sua influência no desenvolvimento econômico e na formação social de Minas Gerais e do Brasil.

Entre as peças do acervo, destaca-se a mais antiga prensa de cunhar barras, datada de 1670, e as peças de arte sacra e prataria. Entre as peças de ouro, está uma barra de ouro com cerca de um quilo, quinhentos e cinquenta gramas, o maior exemplar da fase colonial. Outra peça de interesse é o engenho de triturar minério, movido a água, construído e projetado pelo Barão de Eschwege, no século XIX. No acervo arquivístico, ampliado gradativamente, estão mais de 80 mil documentos, enquanto no acervo bibliográfico há um vasto material especializado sobre o ciclo do ouro, incluindo-se valiosa coleção de obras raras. Maquetes e coleção de minérios que fornece amostras do solo, também fazem parte do acervo.

Chafariz do Caquende - Situado na rua do Caquende, foi edificado em 1757, por João Duarte e José de Sousa. Em torno de sua história existe uma crença popular que admite que a água do Caquende desaparecerá quando mãos humanas tentarem restringir ou controlar o seu uso, assim como admite que o forasteiro que beber de sua água nunca mais deixará a cidade. É um dos mais simples chafarizes de Sabará, apresentando características própria: todo construído em pedra, constitui um conjunto singelo, mostrando, no alto das bicas, belo trabalho de escultura em pedra-sabão e inúmeras pinturas sobre as pedras. A água que serve ao chafariz brota espontaneamente do chão, a pouca distância do mesmo, e vem canalizada até as bicas, de onde cai numa enorme pedra ali colocada na época de sua construção. Segundo análises rigorosas, trata-se de uma água límpida, do tipo oligomineral, contendo elementos que se combinam harmoniosamente.

Chafariz do Rosário - Apenas dois chafarizes, relativamente bem conservados, constituem o remanescente das fontes públicas da antiga Sabará: o do Caquende, construído em 1750 e o do Rosário, mais harmonioso e imponente no seu conjunto, construído em 1752 em outro local da cidade, sendo transferido para a Praça Melo Viana em época desconhecida.

Hospício da Terra Santa e Capela de Nossa Senhora do Pilar (Hospício de Jerusalém e Igreja do Pilar) - A construção do hospício e da capela ocorreu entre os anos 1740 e 1762, cabendo a inciativa de sua construção a Frei Manuel de Sant'Ana, vice-comissário da Terra Santa de 1761 a 1799. O gosto ornamental rococó adotado para a decoração interna, indicam uma demanda de vários anos na complementação das obras. Embora desconheça-se a autoria do risco, o alto nível de acabamento das obras, notadamente da ornamentação, pressupõe a participação dos mais exímios oficiais de Sabará. Tudo indica que a ornamentação da capela seja contemporânea à da igreja local da Ordem Terceira do Carmo, também marcada pelo gosto rococó, então vigente nas últimas décadas do século XVIII. Germain Bazin considera que o altar-mor e os dois pequenos altares da nave denunciam a influência do Aleijadinho.

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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