Barroco Mineiro e O Toque dos Sinos
Uma forte influência da matriz cultural africana está presente na forma como os sinos eram e são tocados. Em Minas Gerais o barroco permanece, não apenas como estilo e expressão artística dominante no patrimônio cultural do estado, mas, ainda, como uma espécie de ethos ou visão de mundo que marca as cidades do ciclo do ouro e a expressão contemporânea do toque dos sinos. Esta, por sua vez, envolve uma complexa rede de relações entre irmandades, liturgia católica, religiosidade popular, musicalidade e sineiros, aos quais cabe manter e transmitir seus conhecimentos, habilidades e repertório de toques às novas gerações.
O toque dos sinos é expressão reveladora da identidade das cidades inventariadas e da diversidade cultural brasileira. Seus habitantes se reconhecem e se distinguem daqueles de outras cidades porque atribuem um significado particular ao toque dos sinos, ao repertório dos toques, e ao som diferenciado de cada um dos sinos de bronze das torres das várias igrejas das suas cidades. A paisagem, quer visual ou sonora, deve ser passível de contemplação por todos. No caso da paisagem sonora sineira, ela é objeto de audição e transcendência extremamente necessária à vida humana.
Especialmente por ter uma associação direta com a Igreja, os sinos são vistos como uma forma de comunicação com Deus. Está entre os objetivos da política do patrimônio cultural, portanto, contribuir para que a apreensão da paisagem não fique restrita a poucos e resgatar a função comunicativa dos toques de sinos, fundamental no passado e que, nos últimos tempos, veio se enfraquecendo. Da mesma forma, o vínculo dos sinos com os aspectos religiosos. Não se pretende, de modo algum, negligenciar tais aspectos dos toques (o religioso e o comunicativo), apenas destacar um processo de transformação em curso.