Romarias, feiras e carros alegóricos

Luiz BragaEm anos recentes, o trajeto da procissão do Cirio de Nazaré foi sendo ampliado, agregando uma série de outras celebrações, tais como a romaria rodoviária, a romaria fluvial e a romaria dos motoqueiros. Dias antes da procissão, a Av. Nazaré, em Belém, no trecho da Praça da República até a Basílica, é decorada com arcos, utilizando-se motivos que homenageiam a santa e que são escolhidos por meio de concurso. Caixas de som são estrategicamente colocadas nos postes e mangueiras, ao longo do trajeto, para a sonorização da procissão.Também são construídas arquibancadas na praça, pela Av. Presidente Vargas, sendo os espaços vendidos aos fiéis e turistas que quiserem assistir a procissão de forma mais cômoda. 

Além do caráter religioso, desde a origem a celebração está envolta por práticas profanas, entre elas a montagem de um arraial dedicado ao comércio, onde as barraquinhas vendem alimentos, bebidas e produtos regionais, realizam jogos e outras diversões. O arraial é um ponto de encontro de devotos e não devotos. Depois da procissão principal do Círio, as famílias se reúnem para uma grande confraternização em volta dos pratos da cozinha regional paraense, especialmente o pato-no-tucupi e a maniçoba.

Centenas de vendedores ambulantes espalham-se por todo o trajeto, oferecendo produtos como água mineral, sucos, refrigerantes, cerveja, brinquedos de miriti e fitinhas do Círio. São montados palcos ao longo do trajeto, onde ocorrem homenagens à Nossa Senhora de Nazaré, como apresentações de corais, canto lírico e hinos de louvor à Santa. Quase toda a cidade participa da procissão, de uma forma ou de outra. Mesmo os que ficam em casa acompanham-na pela televisão ou pelo rádio. Os jornais locais fazem edições especiais, com cadernos dedicados exclusivamente ao evento, oferecendo pôsteres coloridos da imagem da santa. A publicidade gira em torno do acontecimento. O nome da santa e o fato de aquele ser um dia especial são evocados. Todos ressaltam que este é o “maior dia dos paraenses” e, para alguns, “o Natal dos paraenses”.

Para poder acompanhar as mudanças ocorridas no ritual do Círio, é necessário considerar não apenas sua estrutura, mas também os diversos elementos que, ao longo do tempo, o caracterizam como tal. Deve-se destacar a presença de vários elementos que combinam, em uma mesma festa, a carnavalização, o civismo e a devoção, pois se tratam de aspectos essenciais de uma representação simbólica da sociedade brasileira, pensada pela ótica do ritual, na concepção do antropólogo Roberto da Matta.

Muitos dos elementos que compõem o Círio são verdadeiros carros alegóricos, semelhantes aos que desfilam no carnaval, embora sejam denominados simplesmente de alegorias. Essas alegorias são outro ponto alto da festa e diferentes carros também o acompanham a procissão com os elementos simbólicos que constituem essa devoção: carros da Santíssima Trindade, do caboclo Plácido, dos anjos e dos milagres, além barcos de miriti (Nossa Senhora de Nazaré é considerada a protetora dos navegantes). Muitas procissões, festejos e celebrações compõe o calendário de homenagens à santa, como o círio das crianças, a procissão dos motoqueiros, a procissão pelo rio, entre outras manifestações.

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