Imagem peregrina

Imagem de Nossa Senhora de Nazaré, a santa peregrina.As festividades do Círio de Nazaré, em Belém (PA), começam em agosto e no segundo sábado de outubro é realizada a Trasladação, procissão que antecede o Círio, quando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré é conduzida do Colégio Gentil até a Catedral da Sé, de onde sairá a principal procissão. No dia seguinte, a multidão percorre cerca de cinco quilômetros que correspondem ao traslado da imagem peregrina da Catedral da Sé (bairro da Cidade Velha) até à Praça Santuário (bairro de Nazaré). À noite, a procissão ganha um brilho especial com as velas acesas carregadas pelos devotos que pagam promessas, rezam e cantam o hino de Nossa Senhora de Nazaré.

Na origem do Círio de Nazaré estão mitos que se misturam aos fatos históricos. As festividades em torno do Círio são centradas devoção à imagem de Nossa Senhora de Nazaré que, segundo a história, foi encontrada por um caboclo chamado Plácido, às margens do igarapé Murutucu. Segundo a tradição, a pequena imagem foi encontrada entre as pedras cobertas de trepadeiras, atualmente o local da Basílica de Nazaré. Plácido levou-a para casa e, no dia seguinte, ao acordar, viu que a imagem havia desaparecido. Assustado, correu ao local onde a encontrara e percebeu que ela havia “voltado” para o mesmo lugar.

O fenômeno se repetiu várias vezes, até que o governador da época mandou que a imagem fosse levada para a capela do Palácio do Governo, onde ficou guardada pelos soldados. No dia seguinte, a imagem foi de novo encontrada às margens do igarapé com gotas de orvalho e carrapichos presos a seu manto, “prova” da longa caminhada. A notícia do “milagre” espalhou-se rapidamente, atraindo para a palhoça do caboclo habitantes da cidade que, de curiosos, passaram a engrossar as fileiras dos devotos da santa milagrosa. Desde essa época, a população revive esse trajeto feito pela santa e o movimento de ir e vir do palácio para o igarapé repete-se nas procissões: primeiro na Transladação e depois no Círio.

As imagens de Nossa Senhora de Nazaré estão sempre presentes nos lares, escritórios, comércios, feiras e mercados, mas é durante o Círio de Nazaré que se tornam o centro de todas as atenções. A ligação dos devotos com Deus se faz, principalmente, por essa imagem e não pelo clero, fenômeno comum no catolicismo popular brasileiro. Os fiéis confeccionam mantos para vestir suas réplicas da santa e envolvem-nas em fitas decorativas. A imagem original (a que foi encontrada por Plácido) permanece guardada, durante todo o ano, no altar mais alto da Basílica de Nazaré e durante a celebração é colocada em local mais próximo dos fiéis. 

Corda - Os participantes da procissão conduzem objetos artesanais feitos do caule da palmeira miriti como as miniaturas de embarcações, objetos do trabalho cotidiano, aviões e figuras humanas, para receber as bênçãos da santa. A corda é um dos elementos mais característicos, na procissão do Círio: com cerca de 450 metros, é segurada pelos devotos que disputam um espaço para colocar as mãos e puxá-la. Simboliza a ligação dos participantes com Nossa Senhora de Nazaré e foi inserida no Círio em 1855, para que os devotos pudessem ajudar a tirar a berlinda (andor onde a imagem é transportada) de um atoleiro. Com o passar dos anos, perdeu seu significado prático original, causando polêmica e discórdia entre a Igreja e os devotos. Em 1868, a corda foi oficializada como parte da procissão, ganhou novos significados e, atualmente, é disputado como fonte de status entre os participantes que lutam por esse lugar considerado privilegiado.

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