A celebração do Espírito Santo é uma manifestação cultural e religiosa, de origem portuguesa, disseminada no período da colonização e ainda hoje presente em todas as Regiões do Brasil, com variações em torno de uma estrutura básica: a Folia, a Coroação de um imperador, e o Império do Divino, símbolos principais do ritual. A esta estrutura básica, a Festa do Divino de Paraty vêm incorporando outros ritos e representações que agregam elementos próprios e específicos relacionados à história e à formação de sua sociedade.
O conhecimento produzido para a instrução do processo permitiu identificar os elementos constitutivos deste bem cultural, desde sua origem até sua expressão contemporânea, cuja síntese é a seguinte: a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, Rio Janeiro – inscrita no Livro de Registro das Celebrações, em 2013 - é uma celebração profundamente enraizada no cotidiano dos moradores daquela cidade, um espaço de reiteração de sua identidade e determinante dos padrões de sociabilidade local.
Constituída por vários rituais religiosos e expressões culturais, a Festa se realiza a cada ano, iniciando no Domingo de Páscoa, com o levantamento do mastro, e suas manifestações e rituais ocorrem ao longo da semana que antecede o Domingo de Pentecostes, principal dia da festa. A celebração propicia momentos importantes, símbolos de caridade e de colaboração entre a comunidade, como o almoço do Divino, a distribuição de carne abençoada e de doces.
A Festa do Divino Espírito Santo é a festa religiosa mais complexa do município de Paraty, não somente por agregar o maior número de pessoas, mas igualmente por se constituir de intensa preparação por parte da comissão coordenada pelo festeiro, durante todo o ano que antecede a Festa, e reunir um conjunto de celebrações, formas de expressão, lugares, ofícios, práticas e saberes. Sua realização mobiliza uma significativa solidariedade social, suscitando doações por parte dos fiéis, espontâneas ou motivadas por eventos que evocam grande sociabilidade. Leia mais
Nos últimos cem anos, o universo no qual se realizam as festas religiosas em Paraty, da material-dade dos espaços às suas formas rituais, manteve alguns aspectos bastante inalterados, enquanto outros se modificaram ou deixaram de existir, como as irmandades religiosas. As festas de santos alcançavam maior projeção quando realizadas por irmandades. Marina de Mello e Souza mostra em sua pesquisa que as irmandades tiveram grande papel social na manutenção dos cultos aos santos e na religiosidade do povo de Paraty, ao promover uma sociabilidade própria.
Durante as procissões, as irmandades exibiam sua riqueza, organização e esforço para realizar a festa em favor do santo de devoção, quando os irmãos percorriam as ruas da cidade vestidos com suas opas de gala, carregando cruzes, bastões de prata e andores ricamente ornamentados que sustentavam a imagem dos santos cheios de joias, juntamente com danças de mascarados, numa mistura inseparável entre manifestações de devoção e divertimento público.
A associação entre a devoção ao Divino Espírito Santo em Paraty e as festas realizadas nas Ilhas dos Açores, tornou-se explicação corrente não somente entre pesquisadores que evidenciam a herança portuguesa da manifestação, como também entre os moradores de Paraty que, podemos dizer, encontraram nessa explicação um mito de origem para a realização e a permanência da Festa do Divino na cidade. De uma maneira geral, é atribuída forte tradição lusitana às festas do Divino Espírito Santo que acontecem no Brasil, e alguns historiadores costumam aludir a origem do culto à expressiva devoção de Rainha Isabel (1271-1336), e à construção da Igreja do Divino Espírito Santo em Alenquer, Portugal.
Dentre os estudiosos do tema, há ainda quem sustente que o culto ao Divino Espírito Santo estaria relacionado à aparição da Ordem dos Hospitalários do Espírito Santo, fundada por Guy Montpellier, que cuidava dos pobres no hospital do Espírito Santo, fundado em 1193, em Pyla-Saint-Gely, na França. Em 1208, Inocêncio III organizou a confraria do Espírito Santo para auxílio no atendimento a pobres e doentes, regulamentando uma cerimônia com a procissão do Santo Sudário para esta igreja – vinculada a um hospital – em que foram distribuídas esmolas para trezentos internos e mais de mil pobres. Fechar
No Banco de Dados dos Bens Culturais Registrados estão disponíveis os documentos contendo todas as informações sobre Festa do Divino Espírito Santo de Paraty (legislação, dossiê, fotografias, vídeos, músicas, pareceres técnicos e jurídi-cos dos processos desse bem cultural imaterial).
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Festa do Divino Espírito Santo de Paraty
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Dossiê Festa do Divino Espírito Santo de Paraty
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