Mapas Antigos

  • As partidas de demarcação e a Guerra Guaranítica
    O CAMINHO DAS DUAS ARMADAS S. MAG.DE FIDELL.MA E CATÓLICA. As partidas de demarcação e a Guerra Guaranítica
  • CONFINS DO BRAZIL COM AS TERRAS DA COROA DA ESPANHA NA AMERICA MERIDIONAL
    Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa da Espanha na America Meridional. Mapa das Côrtes. [1749]
  • Vacaria Nova
    Descripción ò mapa de la Vaqª. [Vaqueria] nueba. [século XVIII]
  • Missão de S. Miguel
    Planta da Missão de São Miguel Arcanjo. [1756, data atribuída devido à ocupação das tropas portuguesas]
  • Paraquaria
    Paraquaria vulgo Paraguay: Joannes Blaeu [1662]

Paraquaria vulgo Paraguay; Joannes Blaeu [1662].
PARAQUARIA 

Contexto histórico 

A ação de catequese na Paraquaria (Paraguai em latim) se iniciou na região do Guairá (atualmente localizada no oeste do Paraná) e no Itatim (hoje no sul do Mato Grosso). Devido aos ataques de bandeirantes paulistas em busca de índios para escravizar, as populações nativas abandonaram suas incipientes reduções, deslocando-se a pé até a região do Tape (centro do Rio Grande do Sul). Novamente atacados, deslocaram-se para a outra margem do Rio Uruguai (nordeste da Argentina) de onde retornaram no final do século 17, consolidando Sete Povos no oeste do Rio Grande do Sul: São Francisco de Borja (1682), São Nicolau (1687), São Luis Gonzaga (1687), São Miguel Arcanjo (1687), São Lourenço Mártir (1690), São João Batista (1697) e Santo  ngelo Custódio (1706).

Missão de S. Miguel. Planta da Missão de São Miguel Arcanjo. [1756, data atribuída devido à ocupação das tropas portuguesas]
MISSÃO DE S. MIGUEL 

Arquitetura, urbanismo e cotidiano

Uma redução, como eram chamados os povoados, geralmente se localizava sobre uma colina. Atendendo às orientações da Companhia e das regras estabelecidas nas Leis das Índias, o sítio era dividido em duas partes: uma destinada aos padres e a outra aos índios. No centro do povoado, localizava-se a grande praça, onde se cruzavam as duas ruas principais. 
A praça, com a grande igreja como pano de fundo, era o ponto de encontro da redução. Nesse grande espaço aberto, eram realizadas atividades religiosas (procissões, teatros sacros, festas de santos), esportivas (jogos com bola ou tejos), recepções (a visitantes), assim como era o local para aplicação das punições (açoites), que eram públicas. 

Dominando a área dos religiosos, estava a igreja e, de um lado, a residência dos padres com colégio, oficinas e depósitos ao redor de pátios com galerias ao seu redor. No lado oposto, o cemitério destinado aos índios, uma vez que os padres eram sepultados dentro da igreja. Na parte posterior, localizava-se a quinta, com pomar, horta e jardim, cercada por muros. 
Na área dos índios, pavilhões de habitação coletiva, como as casas grandes das aldeias Guarani, formavam quarteirões. As casas dos índios eram divididas tendo um cômodo para cada família. Todos os pavilhões eram cercados por galerias cobertas. Os forasteiros eram hospedados temporariamente no tambo, local que provavelmente também abrigava um curral para ordenha de vacas. As órfãs e viúvas eram abrigadas no cotiguaçú. Encontram-se referências da existência de hospital, padaria etc. 

A administração de uma redução era feita por dois religiosos, um padre e um companheiro, e podia agrupar até seis mil índios. Um dos padres tratava dos aspectos espirituais (missas, batizados, casamentos, confissões etc.) e o outro, dos temporais (alimentação, vestuário, obras etc.). Os índios das diferentes comunidades ou parcialidades participavam do cabildo, onde o conselho dos caciques se reunia e tomava decisões sobre o funcionamento da redução. O cabildo indígena se reunia em um salão num dos pavilhões junto à praça.

Descripción ò mapa de la Vaqª. [Vaqueria] nueba. [século XVIII]
VACARIA NOVA 

Base econômica

O sistema reducional criado pelos jesuítas funcionava de forma cooperativa e tinha como base econômica a criação de gado e o cultivo da erva-mate, produtos que alcançaram grande aceitação comercial nos mercados coloniais e eram utilizados na manutenção dos índios e para financiar obras nos povoados. 

A pecuária desenvolveu-se com criação do gado franqueiro, de grande porte e chifres longos, trazido pelos jesuítas espanhóis, nas vacarias ou estâncias que ocuparam os imensos campos planos do pampa, com encostas e coxilhas cortadas por rios e arroios. Para as estruturas mais distantes e nas invernadas estruturavam-se postos de guarda que podiam incluir capelas. 
As vacarias se expandiram com gado solto no campo, que era cuidado a partir de postos de vigia distribuídos no território. A vacaria do mar chegava às proximidades da orla Atlântida, e a dos pinhais, a vacaria nova, nos campos de cima da serra. Além da carne, consumida fresca ou armazenada salgada, eram comerciados o couro, os chifres. 

A erva-mate, ilex paraguariensis, planta nativa, era uma bebida tradicionalmente utilizada na cultura Guarani. Pouco a pouco seu consumo foi sendo admitido no sistema reducional, considerando que era apreciada não apenas pelos índios, mas tinha ampla aceitação na nova sociedade paraguaia. Logo os padres compreenderam a importância de ter ervais perto dos povoados e os ervais silvestres foram sendo domesticados e o cultivo, ampliado e intensificado. Os índios também plantavam a erva-mate nas lavouras familiares do Abambaé. 
A erva-mate transformou-se em um dos principais bens econômicos, como moeda de troca, no período reducional, um produto de grande interesse nos mercados de Buenos Aires e Assunção. A posse e os limites entre os ervais dos povoados também foi, em alguns casos, objeto de disputa. Nas reduções, a erva-mate era armazenada em depósitos localizados no pátio dos artífices, junto com o milho e o algodão.

Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa da Espanha na America Meridional. Mapa das Côrtes. [1749]
CONFINS DO BRAZIL COM AS TERRAS DA COROA DA ESPANHA NA AMERICA MERIDIONAL 

Preparando o Tratado de Madrid - Mapa das Côrtes 

Durante as navegações do século XV, os impérios de Portugal e Espanha disputavam a posse das novas terras descobertas. Para definir estes limites, em 1494 foi firmado o Tratado de Tordesilhas que estabeleceu uma linha divisória de referência. 

Na América do Sul, os portugueses iniciam a ocupação pelo litoral, mas logo diferentes incursões de reconhecimento, as Entradas, e de preia de índios, as Bandeiras, avançam para além da linha divisória, nas direções Norte, Centro e Sul. Em 1680, a Coroa portuguesa funda a Colônia de Sacramento, defronte a Buenos Aires, sobre o Rio da Prata. Isto obrigou que os espanhóis fundassem outra povoação junto ao Monte Videu. 

No século XVII, as incursões, assentamentos, novas fortificações, tencionam pela redefinição das fronteiras, em distintas direções. Para preparar as bases para um novo acordo, os portugueses reuniram diferentes documentos que incluíram mapas, desenhos e descrições realizadas por geógrafos, cartógrafos, viajantes e religiosos. 

O trabalho foi coordenado em Lisboa, em 1749, por Alexandre de Gusmão e teve como resultado o Mapa dos confins do Brazil com as terras da Coroa de Espanha na América Meridional. Os espanhóis realizaram adequações e o documento foi assumido pelas duas coroas como a denominação de Mapa das Côrtes. 

O Tratado de Madri, firmado em 13 de janeiro de 1750, redefiniu amplamente as fronteiras das possessões das Coroas na América. Baseou-se nos princípios do direito internacional do uti possidetis, segundo o qual cada nação tem direito apenas às terras que efetivamente ocupa. Ele previa, no Sul, a troca da Colônia do Sacramento por Sete Povos das missões jesuíticas localizados no lado Oriental do Rio Uruguai. 

Assim que o Tratado foi divulgado, ocorreu uma ampla oposição tanto de portugueses como de espanhóis. Mesmo assim, as Comissões de Demarcação das duas côrtes iniciaram a demarcação dos novos limites, instalando marcos físicos no território. Logo passaram a enfrentar, no campo, a resistência permanente dos Guarani.


O CAMINHO DAS DUAS ARMADAS S. MAG.DE FIDELL.MA E CATÓLICA  

As partidas de demarcação e a Guerra Guaranítica 

Para integrar sua comissão de demarcação, os portugueses contrataram engenheiros, cartógrafos, astrônomos e matemáticos com a finalidade de documentar o processo, mapear a geografia e as potencialidades e instalar os marcos de limites. Na parte sul, as representações das duas Coroas trabalharam em conjunto, a partir de 1752. Definiram três partidas: a primeira de Castilhos Grande até a foz do Ibicuí; a segunda, na região dos Sete Povos, e a terceira, pelo Rio Paraná até encontrar a comissão da Amazônia. 

Desde o início os demarcadores enfrentaram vigilância e resistência dos indígenas, em afrontas e ataques de escaramuças. Os cabildos indígenas e os padres enviaram cartas às autoridades protestando contra o Tratado. Receberam apoio de povoados da outra margem do rio Uruguai. 

Em 1753, a segunda partida foi bloqueada em Santa Tecla, sede da estância de São Miguel. Os demarcadores decidiram então se retirar para Colônia, Arraial de Veras, Montevidéu e Rio Grande, onde se organizaram para enfrentar os Guarani que atacaram por duas vezes a fortificação portuguesa Jesus Maria José. 

Em 1754, os portugueses voltaram e acamparam no Passo do Jacuí. Ali, sucederam-se encontros, negociações, ameaças, deserções e conchavos. Após um acordo com os missioneiros, eles foram para Rio Grande. No início de 1756, os demarcadores retornaram, com dois exércitos muito equipados, encontrando-se no Passo do Aceguá, de onde prosseguiram para desocupar as Missões. 

A reação indígena era liderada por Sepé Tiaraju, alferes-mór de São Miguel, e pelo morubixaba (cacique) Nicolau Neenguiru, corregedor de Concepción. Os demarcadores abateram Sepé em 7 de fevereiro de 1756. Três dias depois, 1.500 missioneiros foram mortos na Batalha de Caiboaté em pouco mais de uma hora de combate. Os índios ainda tentaram resistir no Passo do Cherubi, mas foram vencidos. A Guerra Guaranítica acabou com a ocupação de São Miguel. 

O Tratado de Madri foi anulado pelo Tratado de El Pardo em 1761. Como decorrência do processo, os Jesuítas foram expulsos da América em 1767. Os povoados missioneiros receberam novas administrações civis e religiosas e entraram em decadência com o abandono dos indígenas. Em 1777 foi assinado o Tratado de Santo Ildefonso, que reestabeleceu limites semelhantes aos de 1750.