Conselho do Iphan aprecia registro do tambor de crioula como patrimônio imaterial

publicado em 13 de junho de 2007, às 16h37

 

Essa autêntica manifestação da cultura maranhense vai ganhar uma grande festa popular em sua homenagem

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural vai se reunir na próxima segunda-feira, 18 de junho, às 15h, na Casa das Minas, em São Luís do Maranhão, para apreciar o pedido de registro do tambor de crioula como patrimônio imaterial brasileiro. Após a reunião, prevista para acabar às 17h30min o Ministro Gilberto Gil, o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida e 62 grupos de tambor de crioula farão uma procissão em homenagem a São Benedito na Rua de São Pantaleão, que será fechada, ornada de 50 painéis homenageando os brincantes do tambor e totalmente decorada com flores e chita.

O cortejo vai terminar na mesma rua, em frente à Fábrica das Artes, que será transformada em Museu do Tambor de Crioula. Lá há uma capela de São Benedito onde será feito o depósito do andor com a imagem do santo. Em seguida, o ministro Gil e representantes de comunidades locais, do governo federal, do estado e da prefeitura vão dar início a uma cerimônia com a inauguração de uma escultura e o lançamento do selo comemorativo dos Correios em tributo ao tambor de crioula. Ao final da solenidade, haverá a apresentação de um grupo composto pelos principais mestres do tambor.

No interior da Fábrica das Artes haverá a inauguração de duas exposições. Uma delas, Tambores da Ilha, exibe o trabalho do fotógrafo Edgar Rocha, que acompanhou o inventário realizado pelo Iphan para o processo de registro. Paulista de 64 anos, Edgar é conhecido por registrar festas e manifestações populares, inclusive as religiosas. 

A outra mostra reúne obras de artes plásticas de artistas maranhenses, inspirados nos elementos do tambor de crioula. A Fábrica também será transformada em um grande arraial, com várias barracas de comidas típicas da região, já que o tambor faz parte das manifestações do São João, assim como o Bumba-Meu-Boi.

A Fábrica das Artes fica instalada em um conjunto de prédios tombados, situados no coração do centro histórico de São Luís. Dividida em diversos espaços, sedia ensaios de grupos folclóricos, como os juninos e carnavalescos, e realiza exposições. A cidade de São Luís, fundada pelos franceses em 1612, comemora, em 2007, 10 anos do título de Patrimônio Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco em 1997.

Local histórico
A Casa das Minas, tombada pelo Iphan, é um terreiro que fica situado no Centro Histórico e foi fundado na década de 1840 por escravos africanos do Daomé, atual República do Benin. Ela possui uma organização matriarcal, sendo chefiada apenas por mulheres. Segundo Pierre Verger, o local teria sido fundado pela rainha Nan Agontime, viúva do Rei Agonglô (1789-1797), vendida como escrava por Adondozã (1797-1818), que governou o Daomé após o falecimento do pai e foi destronado pelo meio irmão, Ghezo, filho da rainha (1818-1858). Ghezo chegou a organizar uma embaixada às Américas para procurar a sua mãe, que não foi encontrada.

Tambor de mina é a denominação mais difundida das religiões afro-brasileiras no Maranhão e na Amazônia. A Casa das Minas influenciou bastante o modelo de organização dos terreiros de tambor de mina e desperta, desde meados da década de 30, o interesse de pesquisadores nacionais e do exterior por seu patrimônio musical, coreográfico, histórico, etnoligüístico e cultural.

Projetos culturais
Antes da reunião, os conselheiros e Luiz Fernando de Almeida vão conhecer projetos desenvolvidos pelo Iphan em São Luís. Como, por exemplo, a Oficina-Escola, inaugurada em 2006, onde jovens de 18 a 24 anos recebem formação profissional em restauro e construção civil, e têm ainda oportunidade de praticar o que aprendem em um canteiro de obras. A prioridade deste projeto é proporcionar condições para que os jovens e a comunidade possam participar da revitalização, preservação e conservação do Centro Histórico.

Outro local a ser visitado é o Centro de Referência do Patrimônio Azulejar, ainda em obra, que será instalado no complexo formado pelos 2 primeiros imóveis restaurados pela Oficina-Escola, localizados na Rua da Palma, 360. O Centro abrigará a sede permanente da Escola de Azulejaria e uma loja de venda das peças produzidas pelos alunos e um centro de exposições, informações e pesquisas sobre a arte azulejar e deve funcionar de forma interativa com os visitantes e pesquisadores. Haverá ainda uma exposição permanente de várias peças do patrimônio azulejar de São Luís e de outras partes do mundo.

Patrimônio imaterial
Entende-se por patrimônio cultural imaterial representações da cultura brasileira como: as práticas, as forma de ver e pensar o mundo, as cerimônias (festejos e rituais religiosos), as danças, as músicas, as lendas e contos, a história, as brincadeiras e modos de fazer (comidas, artesanato, etc.) – junto com os instrumentos, objetos e lugares que lhes são associados – cuja tradição é transmitida de geração em geração pelas comunidades brasileiras.

O instrumento legal que assegura a preservação do patrimônio cultural imaterial do Brasil é o registro, instituído pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Já há dez bens culturais registrados no Brasil: a Arte Kusiwa dos Índios Wajãpi; o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras; o Samba de Roda no Recôncavo Baiano; o Círio de Nossa Senhora de Nazaré; o Ofício das Baianas de Acarajé; o Modo de Fazer Viola-de-Cocho; o Jongo; a Cachoeira de Iauaretê e, mais recentemente, a Feira de Caruaru e o Frevo. Os bens de natureza imaterial são inscritos em um dos quatro livros de registro: das Celebrações, das Formas de Expressão, dos Saberes e dos Lugares.

A metodologia desenvolvida pelo Iphan para a identificação e catalogação desses bens imateriais é o Inventário Nacional de Referências Culturais – INRC. O inventário, desenvolvido a partir de métodos etnográficos, sistematizou e deu consistência aos procedimentos que antecedem o registro e demais atividades de salvaguarda.

Com o INRC é possível documentar aspectos da vida social que podem ser considerados referências de identidade para um grupo ou uma comunidade. Ele reúne uma série de materiais multimídia que catalogam as práticas da cultura estudada. O conceito de referência cultural, como objeto de preservação do Estado, diz respeito a representações que configuram uma identidade da região para seus habitantes.

Como resultado do trabalho de pesquisa e registro desses bens culturais, o Iphan produz um vídeo-documentário e um livro que contém o texto do dossiê apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural. Constituído de 22 representantes da sociedade civil, o Conselho delibera a respeito dos registros e tombamentos do patrimônio nacional.

Serviço
53ª Reunião do Conselho Consultivo do Iphan

Registro do tambor de crioula como patrimônio imaterial no livro das Formas de Expressão
Data: 18 de junho de 2007
Horário: das 15h às 17h30
Local: Casa das Minas - Rua de São Pantaleão, nº 857 – São Luís (MA)

Mais Informações:
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta
Tels: (61) 3326-8907 / 3326-8014

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