Iphan lança livro Samba de Roda no Recôncavo Baiano

publicado em 04 de junho de 2007, às 16h50

 

O material é resultado do processo de registro dessa manifestação popular como patrimônio imaterial brasileiro

O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, vai entregar o livro Samba de Roda no Recôncavo Baiano à Associação de Sambadores e Sambadeiras do estado da Bahia. A cerimônia que vai marcar o lançamento do livro ocorrerá no dia 6 de junho, às 18h30min, no Forte de Santo Antônio, em Salvador (BA). Cerca de 20 grupos de vários municípios do Recôncavo vão se apresentar no evento.

O Samba de Roda no Recôncavo Baiano foi registrado como patrimônio cultural imaterial brasileiro em 2004. No ano seguinte, foi inscrito na lista das Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade, selecionado pelo Comitê da Unesco, que considera o patrimônio imaterial um repositório da diversidade cultural, essencial para a identidade dos povos e das comunidades.

O livro a ser lançado pelo Iphan contém o texto do dossiê apreciado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural quando houve o registro do samba de roda. Com 213 páginas, a obra reúne toda a história e a riqueza dos elementos que constituem essa prática cultural popular.

Expressão popular
O samba de roda é uma expressão musical, coreográfica, poética e festiva. Presente em todo o estado da Bahia, ele é especialmente forte e melhor conhecido na região do Recôncavo, a faixa de terra que se estende por trás da Baía de Todos os Santos. Seus primeiros registros, já com o nome e com muitas das características que ainda hoje o identificam, datam dos anos 1860.

Herança negro-africana, mesclou-se de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses, como certos instrumentos musicais (viola e pandeiro principalmente), e à própria língua portuguesa e elementos de suas formas poéticas. Essa manifestação cultural está ligada a tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes, que incluem, entre outros, o culto aos orixás e caboclos, o jogo da capoeira e a chamada “comida de azeite”.

Não há ocasiões exclusivas para a realização do samba de roda, mas há aquelas na qual ele é indispensável. É comum ser realizado em associação com o calendário festivo – caso, entre outros, dos sambas de São Cosme e Damião (setembro), do samba da Boa Morte em Cachoeira (agosto), e de sambas em “toques” para caboclos em terreiros de candomblé; mas pode também ser realizado a qualquer momento, como uma diversão coletiva, pelo prazer de sambar.

Referência nacional
Historiadores da música popular consideram o samba de roda baiano a principal fonte do samba carioca, que como se sabe veio a tornar-se, no decorrer do Século 20, um símbolo indiscutível de brasilidade. A narrativa de origem do samba carioca remete à migração de negros baianos para o Rio de Janeiro no final do Século 19, que teriam buscado reproduzir, nos bairros situados entre o canal do mangue e o cais do porto, seu ambiente cultural de origem, onde a religião, a culinária, as festas e o samba eram partes destacadas. Parece indiscutível que as famosas “tias” baianas – como tia Amélia, tia Perciliana e, sobretudo tia Ciata – e seus filhos – como Donga e João da Baiana – tiveram  papel  de  relevo  na  fase  pioneira  do  samba  no Rio de  Janeiro, sobretudo até meados dos anos 1920.

Depois disso, o samba de roda baiano continuou sendo uma das referências do samba nacional, presente de maneira mais ou menos explícita nas obras de expoentes da MPB como Dorival Caymmi, Ary Barroso e Caetano Veloso, assim como na “ala das baianas” das escolas de samba e nas letras de inúmeros compositores de sambas de todo o país. Estas são razões a mais para que o samba de roda seja devidamente conhecido e valorizado, não como matriz longínqua e coisa do passado, mas como parte da vida atual de mulheres e homens da Bahia.

Segundo o etnomusicólogo e coordenador da pesquisa sobre o samba, Carlos Sandroni, trata-se de uma das jóias da cultura brasileira, por suas qualidades intrínsecas de beleza, perfeição técnica, poesia e bom-humor. “Ele vem desempenhando um papel proeminente nas próprias definições da identidade nacional”, afirmou Sandroni.

Mais Informações:
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta do Ministério da Cultura
(61) 3326 6864

 

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