Iphan elabora projeto de Conservação e Restauração da Casa de Chico Mendes

A enchente do Rio Acre, no mês passado, no município de Xapuri, deixou danos por toda a cidade. Um dos pontos atingidos foi a casa do líder seringueiro, Chico Mendes.  Com a cheia, o local ficou submerso pelas águas. Para restaurar o bem tombado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) vai elaborar um projeto voltado para requalificação urbanística e ambiental para as margens do córrego, na área de entorno da Casa de Chico Mendes.

O objetivo é garantir à área boas condições de segurança, saneamento, salubridade e conforto ambiental. Para isso, será preciso a estabilização do solo, em processo gradual de escorregamento nos fundos do imóvel, o condicionamento correto das águas de superfície e subterrâneas, e a elaboração de projeto paisagístico. 

Por se tratar de um bem tombado, o Projeto de Conservação e Restauração já existente na Casa será revisto e, com sua conclusão, a expectativa é que o Instituto possa viabilizar as obras no segundo semestre deste ano.

O acervo da Casa de Chico Mendes, que também é tombado, foi retirado do imóvel antes da cheia o atingir. A Fundação de Cultura e Comunicação Elias Mansur do Estado do Acre, que realizou a ação, mantém o acervo sob seus cuidados. Os profissionais receberão orientações de técnicos especialistas do Iphan para tratar das questões referentes a conservação do acervo e para a realização do Inventário de Bens Móveis da Casa de Chico Mendes.

Sobre a Casa
A Casa de Chico Mendes fica à Rua Batista de Moraes, nº 10, Setor 1, Distrito 1, Lote 290, no centro de Xapuri, município do Acre. Foi lá que o líder sindical e seringueiro Francisco Alves Mendes Filho passou os últimos dois anos da sua vida, dedicada ao seringalismo, ao movimento de resistência dos trabalhadores locais e à luta contra a devastação da Amazônia. Foi nesta casa, onde hoje funciona uma sala de memória em sua homenagem, que ele morreu assassinado há 20 anos, na noite de 22 de dezembro de 1988, após ter escapado de sucessivos atentados.

O pedido de tombamento da casa foi entregue ao Iphan por Elenira Mendes, sua filha e presidente do Instituto Chico Mendes, em conjunto com o Comitê Chico Mendes, representativo de mais de vinte instituições, entre elas o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular (CDHEP), o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e a União das Nações Indígenas do Acre e Sul do Amazonas (UNI).

A casa de Chico Mendes é um imóvel simplório, que obedece a um sistema construtivo tradicional da região, ainda de uso frequente. A casa cabloca em madeira coberta de telha de barro possui apenas 4m de largura e pode ser edificada em menos de uma semana. Todo composto de tábuas verticais, inclusive as portas e janelas, o imóvel possui telhado em formato de V, de telha francesa.

A necessidade de proteção dessa singela construção de madeira, pintada de azul turquesa, surgiu a partir de 2005, devido a uma descaracterização do bosque que compõe a paisagem da casa, com a derrubada de algumas árvores e uma invasão urbana. O parecer de tombamento faz alusão à Constituição Federal, que, em seu artigo 216, define que “constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira”.

Segundo José Aguilera, o arquiteto do Iphan que apreciou o processo, “a chamada Casa de Chico Mendes é, sem sombra de dúvida, uma casa histórica, porque remete simbolicamente à memória de uma pessoa importante que se notabilizou pela sua ação incansável em prol dos trabalhadores rurais, índios e seringueiros e pelas suas ideias preservacionistas que encontraram acolhida no mundo inteiro”. Ele discorre, em seu parecer, sobre a história de vida de Chico Mendes em prol “das lutas dos humildes para defender, não a posse da terra que não lhes interessa, mas da possibilidade de cuidá-la, de trocar favores com ela sem violentá-la”.

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