CNFCP/Iphan divulga monografias vencedoras e menções honrosas do Concurso Sílvio Romero 2008
publicado em 09 de dezembro de 2008, às 16h20
O Concurso Sílvio Romero de Monografias sobre Folclore e Cultura Popular, instituído em 1959 e realizado anualmente pelo Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP), vinculado ao Iphan, recebeu em 2008 um total de 74 trabalhos, de vários estados do país, abordando diversas áreas temáticas. O resultado foi divulgado no dia 08 de dezembro e a cerimônia de entrega dos prêmios será realizada em janeiro de 2009. Os trabalhos classificados em primeiro e segundo lugares recebem R$ 10 mil e R$ 7 mil, respectivamente.
Após a avaliação e classificação das 65 monografias habilitadas, os jurados destacaram a diversidade de temas e a qualidade dos trabalhos e deliberaram pela concessão dos prêmios e menções honrosas das monografias abaixo:
1° prêmio- A bandeira e a máscara: estudo sobre a circulação de objetos rituais nas Folias de Reis - de Daniel Bitter.
A pesquisa aborda o lugar que certos objetos ocupam em sistemas de trocas de natureza ritual. Enfatiza o modo como eles estabelecem mediações entre domínios sociais e cosmológicos diversos, desencadeando transformações sociais e simbólicas. O foco da descrição e análise é a circulação da bandeira e da máscara no contexto social e ritual das Folias de Reis, empreendimento festivo que ocorre em grande parte do território brasileiro. Etnograficamente, a bandeira e a máscara se insinuam enquanto símbolos dominantes, apresentando-se de forma complementar e produzindo reflexos no plano das ações sociais e rituais. Procura-se mostrar como esses objetos, ligados entre si pelas pessoas que coletivamente os manipulam, materializam vínculos fundamentais, colocando o sistema em movimento e permitindo a emergência de novas idéias e sentidos.
2° prêmio- Palavras sem fronteira: tradições orais e performance nos limites do Brasil - de Luciana Hartmann.
O trabalho aborda o contexto de produção e transmissão das tradições orais em uma região em que o Brasil faz fronteira com a Argentina e o Uruguai. O referencial etnográfico derivou no mapeamento das características da oralidade na região: quem são os contadores, quais são os temas recorrentes de seus "causos", como executam suas performances, quais são os locais onde ocorrem as "rodas de causo", os horários preferidos para a narração e como se caracteriza a participação dos ouvintes. A análise desse material é realizada com base em duas perspectivas, das narrativas como expressão da experiência (com foco sobre os temas narrados) e das narrativas como performance (como foco sobre os eventos narrativos), a partir das quais são discutidas especificidades da cultura e do ethos local (gaúcho ou gaucho).
1ª menção honrosa à monografia Um bocadinho de cada coisa: a escuta singular de Pixinguinha- de Virgínia de Almeira Bessa.
A monografia aborda diversos aspectos do universo do entretenimento no Rio de Janeiro das décadas de 1920 a 1930 em sua articulação com a música e os músicos populares. Seu fio condutor é a trajetória do compositor, instrumentista, arranjador e maestro Alfredo Vianna da Rocha Filho, o Pixinguinha, que atuou e colaborou nos diversos meios do entretenimento do Rio de Janeiro. O percurso é longo: dos cafés-concertos ao rádio, com uma longa pausa na indústria fonográfica. Parte-se do pressuposto que a música popular desempenhou papel mais que relevante naquele contexto. Das rodas de choro ao Palácio do Catete, do morro aos estúdios de gravação, ela esteve presente nos diversos espaços da cidade, revelando vários dos dilemas existentes no país naquele momento: moderna ou típica? negra ou branca? Folclórica ou popular?. A autora privilegiou como objeto de análise a escuta do compositor, revelada em suas composições, interpretações e, sobretudo, em seus arranjos, os quais nos permitem escutar sua escuta, e desvendar os modos de inserção e barreiras encontrados pelo músico nesse universo em constante transformação.
2ª menção honrosa à monografia Os irmãos Piriás: a gramática moral de uma lenda contemporânea - de Giulle Adriana Vieira da Mata.
A pesquisa tem por objeto uma série de lendas que surgiram em torno de dois irmãos na cidade de Sete Lagoas, a 70 quilômetros ao norte de Belo Horizonte (MG). O que a autora denomina de lenda é o resultado da interação comunicativa onde interlocutores apresentam sua versão do que "realmente aconteceu" com os irmãos Orlando e Sebastião Patrício no ano de 1978. São narrativas que têm por base argumentativa um conflito cuja origem está na experiência de desrespeito social sofrido pelos Piriás, ao qual os protagonistas reagem engajando-se em uma verdadeira luta por reconhecimento da sua condição de trabalhadores e dos valores ordenados à essa condição. Sendo assim, narrar os feitos lendários dos Piriás é elevar o valor social daquilo que esses dois personagens representam em termos de significação moral.
3ª menção honrosa à monografia Explosão de xuni -, de Eduardo Pires Rosse
Os maxakali, ameríndios de língua jê que vivem atualmente no nordeste de Minas Gerais, são pessoas que desafiam qualquer lógica materialista objetiva: apesar de toda a violência colonial, seguida da limitação e do empobrecimento natural de seus territórios, os maxakali continuam não só vivos mas demonstrando uma enorme vitalidade cultural. Mantêm uma relação freqüente com um grande número de espíritos aliados, que são responsáveis pela saúde e pela concentração dos seres humanos nas aldeias, cuja razão principal é a realização de momentos festivos onde esses espíritos vêm cantar principalmente para as mulheres, recebendo em troca alimentos e esposas. Uma etnografia e análise de cantos, danças, formas poéticas, formas de organização do espaço, ligadas ao pano de fundo da exegese nativa e à literatura etnológica amazonista geral, abrem caminho para uma refelexão sobre a sociedade e a temporalidade maxakali.