Iphan lança plataforma digital sobre baianas de acarajé
publicada em 08 de junho de 2015, às 13h48
Informações sobre a vida e o ofício das baianas de acarajé estarão disponíveis, a partir do mês de julho, em um banco de dados digitalizados, batizado de Plataforma Oyá Digital. A iniciativa pioneira é da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional na Bahia (Iphan-BA), em comemoração aos 10 anos do registro como Patrimônio Cultural do Brasil desta prática tradicional ligada ao culto dos orixás. O lançamento oficial acontecerá durante a cerimônia de posse do Conselho Gestor da Salvaguarda do Ofício das Baianas de Acarajé.
O Iphan investiu R$ 100 mil no desenvolvimento do projeto de organização e digitalização do acervo documental e na implantação da plataforma digital, que contém os dados cadastrais da Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares (Abam), da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop) de Salvador e da Federação Nacional do Culto Afro-Brasileiro (Fenacab). A ação teve o apoio do Instituto Palmares.
No Brasil, há mais de cinco mil baianas de acarajé, sendo que a maioria se concentra no estado da Bahia e um expressivo número em Salvador. Segundo o superintendente do Iphan na Bahia, Carlos Amorim, “a Plataforma Digital é um instrumento de valorização, difusão e divulgação junto à sociedade de um bem cultural plenamente incorporado à cultura brasileira”.
Oyá Digital
O nome Plataforma Oyá Digital é uma homenagem ao orixá patrono do ofício de baiana de acarajé. A plataforma permitirá a localização das baianas em um mapa e disponibiliza ferramentas de pesquisa para obter dados sobre as mesmas, utilizando diversas categorias e possibilitando o desenvolvimento de informações sobre o perfil sócio-econômico das baianas de acarajé. O arquivo físico de documentos cadastrais está tratado, digitalizado e disponível para acesso.
Para a antropóloga do Iphan e coordenadora do projeto, Maria Paula Adinolfi, com a realização desta ação, o Instituto cumpre uma das metas prioritárias em relação à salvaguarda do ofício das baianas de acarajé, que é a produção de conhecimento sobre o perfil das baianas, em termos quantitativos e qualitativos.
A Plataforma Oyá Digital poderá subsidiar os pesquisadores na produção de pesquisas mais detalhadas e os gestores no planejamento e execução de políticas públicas que beneficiarão as baianas de acarajé. Além disso, vai “permitir que o público geral tenha acesso rápido e eficiente às informações, localize a baiana mais próxima de onde estiver, favorecendo assim a divulgação e o potencial de venda do acarajé pelas tradicionais baianas”, ressalta Maria Paula.
Patrimônio Imaterial
O ofício das baianas de acarajé, registrado como Patrimônio Imaterial Brasileiro pelo Iphan é a prática tradicional de produção e venda nos espaços públicos, em tabuleiro, das chamadas comidas de baiana, feitas com azeite de dendê e ligadas ao culto dos orixás, amplamente disseminadas, principalmente na cidade de Salvador.
Dentre as comidas de baiana destaca-se o acarajé, bolinho de feijão fradinho preparado de maneira artesanal, na qual o feijão é moído em um pilão de pedra (pedra de acarajé), temperado e posteriormente frito no azeite de dendê fervente. Para sua comercialização são utilizados vatapá, caruru e camarão seco, como recheio, e no tabuleiro também são encontrados outros quitutes tais como abará, passarinha (baço bovino frito), mingaus, lelê, bolinho de estudante, cocadas, pé de moleque e outros.
A indumentária das baianas, característica dos ritos do candomblé, constitui também um forte elemento de identificação desse ofício, sendo composta por turbantes, panos e colares de conta que simbolizam a intenção religiosa.
Sua receita é originária do Golfo do Benim, na África Ocidental, tendo sido trazida para o Brasil pelos escravos trazidos daquela região. Os bolinhos de feijão fradinho, destituídos do recheio utilizado para o comércio, são, inclusive oferecidos nos cultos às divindades do candomblé, especialmente a Xangô e Oiá (Iansã).
Os aspectos referentes ao ofício das baianas de acarajé e sua ritualização compreendem: o modo de fazer as comidas de baianas, com distinções referentes à oferta religiosa ou à venda informal em logradouros soteropolitanos; os elementos associados à venda, como a indumentária própria da baiana e a preparação do tabuleiro e dos locais onde se instalam; os significados atribuídos pelas baianas ao seu ofício e os sentidos conferidos pela sociedade local e nacional a esse elemento simbólico constituinte da identidade baiana. A feitura das comidas de baiana constitui uma prática cultural de longa continuidade histórica, reiterada no cotidiano dos ritos do candomblé e constituinte de forte fator de identidade na cidade de Salvador.
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