Presidente do Iphan conhece as novas pinturas da Igrejinha
publicada em 18 de junho de 2009, às 15h09
Painéis de Francisco Galeno da Igrejinha provoca divergências entre os fiéis
O presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, e o superintendente do Iphan no Distrito Federal, Alfredo Gastal, visitaram na tarde de ontem a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, também conhecida como Igrejinha. O monumento, que está em fase final de restauração, é alvo de uma polêmica criada a partir da repercussão das pinturas realizadas no interior do templo pelo pintor Francisco Galeno – artista plástico piauiense radicado em Brasília.
As pinturas de Galeno, que tomam as duas paredes laterais e a parede do altar mor da igreja projetada por Oscar Niemeyer, representam as três crianças que presenciaram o aparecimento de Nossa Senhora, em Fátima (Portugal), além da imagem da própria virgem, que aparece bem ao centro. O trabalho já está em fase final e a opinião dos fiéis está dividida. Uma parte aprecia a obra do artista. Outra parte não ficou satisfeita. Um grupo de 68 pessoas assinou um documento que foi entregue à procuradoria federal, que recomendou ao Iphan a suspensão das obras, no que foi atendida temporariamente.
Ontem, quarta, Galeno retornou com seus pincéis ao trabalho. Ele finaliza o fundo azul do painel central (num tom muito próximo daquele utilizado nos painéis de azulejo de Athos Bulcão, que decoram o exterior da igreja). As pinturas substituem os afrescos originais, que Alfredo Volpi elaborou no período de construção da igreja. Essa pintura se perdeu poucos anos depois da inauguração da igreja e os testes que o Iphan fez no local determinaram que o afresco é irrecuperável.
Já que não era mais possível ter Volpi de volta, a solução encontra foi fazer novos painéis para o interior da Igreja. Francisco Galeno foi o escolhido não só por seu talento, mas também por seu trabalho geométrico (que segue a linguagem da arquitetura da igreja) e por sua relação direta com Volpi. A nova imagem dialoga perfeitamente com os azulejos de Athos Bulcão e comunga com o estilo de Volpi.
Nas paredes pintadas por Galeno, imagens geométricas representam as crianças e seus brinquedos, além de estarem presentes também na imagem de Nossa Senhora que, na altura das mãos, exibe uma pipa que é circundada por um terço de pequenos carretéis coloridos. “Ela (Nossa Senhora) se apresentou para as crianças, então, nada mais natural que usarmos elementos do universo infantil: carretel e pipa”, diz Galeno. Por todos os lados, as bandeirinhas remetem diretamente a Volpi.
Segundo o superintendente do Iphan do Distrito Federal, Alfredo Gastal, a comunidade participou do processo de criação dos painéis. Galeno chegou a submeter seus estudos à comunidade, que sugeriu várias mudanças que foram incorporadas ao trabalho final. Porém, de acordo com o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, “a linguagem moderna do artista não pode ser alterada. Afinal, esse trabalho segue o princípio de ser uma intervenção moderna em um monumento moderno”, conclui.
A polêmica gerada em torno da pintura não vai alterar o resultado final. Especialmente porque as críticas fazem parte da arte e da arquitetura moderna. Para Luiz Fernando, “Brasília é uma cidade moderna e o conservadorismo reinante agora foi o mesmo que destruiu a obra de Volpi”, comentou o presidente do Iphan em uma alusão ao fato de terem destruído a imagem original no início da década de 1960.
Tombada pelo Iphan em 2007, a Igrejinha está passando por uma série de obras que vão devolver todas as suas características originais. Orçado em R$ 250 mil, a iniciativa do Iphan visa a preparar o monumento para as comemorações dos 50 anos de Brasília, em 2010. O trabalho deve ser concluído nos próximos dois meses.
As obras de recuperação incluem a restauração de pisos, paredes, do painel de azulejos de Athos Bulcão (que estava bastante deteriorado), da porta frontal, do mobiliário interno (os bancos, por exemplo, já estão no local e em uso), além do jardim, do piso e do mobiliário urbano no entorno do monumento. Internamente, será feita a recomposição da ambientação modernista, devolvendo peças com características originais, como o castiçal de metal feito também por Athos Bulcão, e o ambão (suporte para a bíblia), ambos utilizados no altar.
Paralelamente, o governo do Distrito Federal, por meio da Brasiliatur e da Companhia Energética de Brasília – CEB –, está executando o projeto de iluminação externa de todo o entorno da Igrejinha.
Histórico
A Igreja de Nossa Senhora de Fátima, ou Igrejinha, que fica nas quadras 307/308 Sul, em Brasília, foi construída por causa de uma promessa feita pela então primeira dama, D. Sarah Kubitschek. Sua filha, Márcia, tinha 14 anos quando foi acometida de uma doença que parecia irrecuperável. Mesmo depois de procurar ajuda no exterior, não houve melhoras no quadro. Foi quando veio ao Brasil o presidente de Portugal, Craveiro Lopes, acompanhado de sua esposa. Foi ela quem aconselhou D. Sarah a recorrer a Nossa Senhora de Fátima, de quem era devota e já tinha recebido muitas graças.
Promessa feita, Márcia recuperou a saúde. Assim D. Sarah pediu a construção de uma igreja dedicada à santa. A igreja foi projetada por Oscar Niemeyer e a pedra fundamental foi lançada em 1957. Um ano depois, a Igreja de Nossa Senhora de Fátima foi inaugurada.
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