Festa do Divino é Patrimônio Cultural do Brasil

Reunindo fé e tradição a celebração do Divino Espírito Santo, todos os anos, mobiliza a cidade de Pirenópolis em Goiás, recriando as festas de santos trazidas pelo colonizador português

O sagrado e o profano; a realeza e o popular; a diversidade e a singularidade. Anos e anos de fé e dedicação fizeram da Festa do Divino Espírito Santo em Pirenópolis, estado de Goiás, a mais rica expressão da religiosidade popular cristã da cidade, onde os moradores se preparam durante um ano inteiro para festejar e participar da histórica celebração. Todos os rituais da festa foram aprovados pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, que se reuniu hoje, 15 de abril, no Rio de Janeiro. Registrada pelo Iphan como patrimônio cultural brasileiro a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis é a segunda manifestação religiosa registrada no Livro das Celebrações. 

As festas de santos, trazidas pelos colonizadores europeus como devoção religiosa e como expressão da cultura popular e medieval, se espalharam pelo Brasil, durante o processo de colonização e ocupação do território, sendo mescladas aos cultos de matriz africana e às crenças religiosas indígenas. Entre as que se destacam, como as festas juninas e as de Nossa Senhora do Rosário, estão as do Divino Espírito Santo, popularizadas por todo o Brasil, a partir do século XVII, por jesuítas e colonos açorianos. O culto ao Divino Espírito Santo está relacionado às comemorações do fim do ciclo agrícola, época festiva da colheita de cereais, e remete à celebração judaica de Pentecostes, quando se ofertavam os primeiros frutos da colheita ao Espírito Santo. No dogma católico, o Espírito Santo integra a Santíssima Trindade, ao lado de Deus Pai e de seu Filho Jesus, e se manifesta como uma pomba branca ou como línguas de fogo.

Os festejos em Pirenópolis
A Festa do Divino de Pirenópolis é realizada anualmente desde 1819, data do primeiro registro na lista local de imperadores. Desde então, ano após ano, essa listagem é atualizada e publicada na programação da festa. É considerada uma das mais expressivas celebrações do Espírito Santo no país, especialmente pelo grande número de seus rituais, personagens e componentes, como as cavalhadas de mouros e cristãos e os mascarados montados a cavalo. Enraizada no cotidiano dos moradores de Pirenópolis, a Festa do Divino determina os padrões de sociabilidade local, consolidando-se como elemento fundamental da identidade cultural da cidade.

Os rituais têm início no domingo de Páscoa e seguem até o domingo seguinte ao feriado de Corpus Christi. O clímax da festa é no Domingo de Pentecostes ou do Divino. Os elementos essenciais incluem as Folias da Roça e da Rua, a coroa, as cerimônias e rituais do Império, com alvoradas, cortejos do Imperador, novena, jantares, cafés, missas cantadas, levantamento do mastro, queima de fogos, distribuição de “verônicas”, sorteio e coroação do novo Imperador.

Já as Cavalhadas encenam batalhas medievais entre mouros e cristãos – em honra do Imperador e do Espírito Santo. Elas começam no domingo de Pentecostes e vão até terça-feira à noite, quando rezam ao Divino e descarregam as armas, encerrando o Império. A festa é aberta no sábado pelos Mascarados – onças, capetas, caveiras, bois com grandes chifres e monstros – que ao meio-dia anunciam a abertura da festa na véspera de Pentecostes. Eles circulam pela cidade e no Campo das Cavalhadas, no intervalo das encenações. 

Medidas de Salvaguarda
A pesquisa realizada pelo Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan constatou que a Festa do Divino Espírito Santo de Pirenópolis apresenta todos os pressupostos que permitem entendê-la como um “fato social total”. É um sistema de produção e circulação de bens e de dádivas baseados na reciprocidade, interferindo em todas as dimensões da vida social local. A própria comunidade descreve a festa como “patrimônio de valor inestimável” e investe na manutenção da tradição. 

No entanto, o Iphan detectou o risco de alguns problemas pontuais, como a possibilidade do impacto negativo com a utilização da Festa apenas como atrativo turístico. Desta forma, as medidas de salvaguarda visam enfrentar os problemas que possam ameaçar a manifestação cultural. 

O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
O Conselho que avalia os processos de tombamento e registro, presidido por Luiz Fernando de Almeida, presidente do Iphan, é formado por especialistas de diversas áreas, como cultura, turismo, arquitetura e arqueologia. Ao todo, são 22 conselheiros de instituições como Ministério do Turismo, Instituto dos Arquitetos do Brasil, Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB, Ministério da Educação, Sociedade Brasileira de Antropologia e Instituto Brasileiro de Museus – Ibram e da sociedade civil.

Mais informações:
Assessoria de Comunicação Iphan 
Adélia Soares – adelia.soares@iphan.gov.br
(61) 2024-5449
www.iphan.gov.br

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