Achados preciosos reforçam valor cultural da Catedral Basílica de Salvador (BA)
Monumento do Século XVII é considerado como a mais importante construção sacra do Brasil colonial
Um rico acervo e 13 crânios humanos são, até agora, as grandes surpresas para a equipe de profissionais que estão, desde o início deste ano, atuando nas obras de restauração da Catedral Basílica de Salvador (BA). As ossadas foram encontradas quando o retábulo da capela de Santo Inácio de Loyola foi aberto por um mestre de obras. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável por todo o trabalho, que é faz parte do PAC Cidades Históricas. O investimento é de R$ 12 milhões e a previsão de execução é de 18 meses. A licitação, na modalidade de Regime Diferenciado de Contratação Presencial, foi realizada pelo Iphan-BA em dezembro de 2014, para contratar empresa especializada em obras de restauração.
A intervenção na Catedral Basílica contempla a execução de obras de restauro dos bens integrados e das imagens de Arte Sacra, guardadas no interior da igreja, além de requalificar os espaços internos. Também estão sendo realizados serviços para assegurar a conservação do monumento, a exemplo reparos gerais na cobertura, instalações elétricas, impermeabilizações e tratamentos, pintura. Com a realização dessas obras, que revitalizaram a estrutura do templo, foi possível dar início à recuperação das esculturas e pinturas.
Além de crânios, à medida em que o trabalho dos restauradores avança, a riqueza do acervo também se revela e emociona a equipe. O processo de recuperação inclui a investigação de quantas camadas de tinta as obras levaram em restaurações anteriores, até chegar às cores originais. Por cima das peças primitivas, os técnicos já encontram argamassa nos mármores e até purpurina em áreas revestidas de ouro. A cada camada que é retirada, surgem quadros com imagens de santos jesuítas escurecidos pelo tempo. Técnicas modernas são aplicadas também nos azulejos da igreja, fabricados em oficinas de Lisboa. Especialistas estão removendo as peças, com todo o cuidado necessário para evitar danos maiores, garantindo, assim, a restauração de cada uma delas. Para o restauro dos bens móveis e integrados, produtos químicos chegam de São Paulo; folhas de ouro de 23 quilates são importadas de Florença, na Itália, para recobrir a igreja; madeira e resina estão sendo aplicadas nos locais onde há massa corrida.
As esculturas, muitas atacadas por cupins, recebem tratamento especial. Nos fundos do altar mor, onde funcionava uma biblioteca dos jesuítas, foi implantado um atelier para o tratamento individual das peças sacras. O supervisor dos trabalhos é um dos mais conceituados profissionais do país, o restaurador e professor mineiro Antonio Fernando dos Santos, contratado pela Marsou Engenharia, vencedora da licitação realizada pelo Iphan.
Conhecido como Toninho, ele é responsável pela recuperação dos profetas esculpidos por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG), e dos painéis de Cândido Portinari que adornam a Igreja São Francisco de Assis, cartão-postal modernista da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). Também faz parte do seu currículo o resgate da imagem de Nossa Senhora das Mercês, de autoria de Aleijadinho, desaparecida de Ouro Preto (MG) desde 1962.
Toninho é graduado em Comunicação Visual pela Universidade Mineira de Arte, especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pela UFMG e em Arte e Cultura Barroca pela Ufop, mestre em Artes Visuais com concentração em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pela UFMG/Cecor e doutor em Artes Visuais – Conservação e Restauração do Patrimônio Histórico-artístico pela Universidade Politécnica de Valencia (Espanha). Foi restaurador do Iphan e professor do Curso de Design da Universidade Fumec.
Intervenções
Restauração das capelas: Capela-mor; altares de Nossa Senhora das Dores, Santíssimo Sacramento, Santo Inácio de Loyola (Evangelho), São Pedro (nave/Evangelho), Santana Mestra, Santos Mártires, São Francisco de Borja, N. Senhora da Conceição, Santa Úrsula, Virgens Mártires, São José, São Francisco Xavier (epístola).
Restauração das imagens: do Cristo Crucificado, Sagrado Coração de Jesus, N. Senhora das Dores, Senhor Morto, Santo Inácio de Loyola, São Luiz Gonzaga, São Stanislau Kotska, São Francisco Xavier, Santos Jesuítas, Santo Antônio, São Pedro, São José / lírio - resplendor, Santana Mestra com resplendor, São Francisco de Borja, Nossa Senhora da Conceição, Sagrada Família (séc. XIX), Santa Úrsula; bustos das Virgens Mártires e de São Francisco de Regis.
A Catedral Basílica de Salvador
Construída entre 1652 e 1672, o monumento é parte do desaparecido Convento e Escola dos Jesuítas, o maior e mais importante do Brasil colonial. Por todo o seu acervo artístico e sua monumentalidade, é considerada, por vários especialistas, como a mais importante construção sacra do Brasil colonial. Foi individualmente tombada pelo Iphan em 25 de maio de 1938 e o tombamento inclui todo o seu acervo, um dos mais valiosos do Brasil.
No templo há 13 altares, sendo os dois primeiros construídos em estilo renascentista maneirista, de 1650. O altar mor é de 1670. O projeto arquitetônico é do irmão Francisco Dias, que chegou a Salvador em 1577. A fachada é toda em pedras de lioz, importadas de Portugal. Nos nichos sobre as portas estão as imagens de três santos jesuítas: Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier e São Francisco de Borja. Abriga peças do mobiliário do século XVI. A sacristia tem piso e altares em mármores coloridos, telas de diversos autores seiscentistas, móveis em jacarandá, com encartes em madrepérola e objetos sacros em ouro e prata. Com a saída dos jesuítas do Brasil a igreja foi abandonada. O convento foi utilizado como hospital militar, e em 1808, como Escola de Medicina, a primeira do Brasil.
A atual Catedral é a quarta igreja e último remanescente do conjunto arquitetônico do Colégio de Jesus. Sua planta é típica das igrejas luso-brasileiras, construída sob projeto do irmão Francisco Dias, chegado à Bahia em 1577 para construir o Colégio. Segundo o projeto, a igreja estaria no eixo do conjunto, ladeada por dois corpos que se organizariam a partir de um pátio.
A planta da Catedral apresenta um transepto inscrito no retângulo da edificação e capelas laterais interligadas com tribunas superpostas. A capela-mor é ladeada por duas capelas e corredores que dão acesso à sacristia transversal. Sua fachada, em lioz, procura conciliar o tradicional modelo português, com duas torres e a nova fachada jesuítica com volutas e sem torres.
Destacam-se no seu interior, a sacristia, os retábulos de diferentes períodos nas capelas e o forro em caixotão da nave. Quanto ao antigo colégio, um dos pátios foi destruído pelo fogo em 1801, instalando-se em 1808, o Real Hospital na ala que restara. Novo incêndio, em 1905, consumiu o edifício que foi reerguido em estilo eclético para abrigar a Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira do país, aí instalada desde 1833.
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