Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá completa 15 anos de tombamento

A Casa de Xangô, como também é conhecido, fica em Salvador (Ba) e foi o segundo templo de culto afro-brasileiro a ganhar status de patrimônio nacional.. Foto: Acervo IphanUm dos símbolos da resistência cultural dos descendentes dos africanos escravizados, o atuante terreiro de candomblé Ilê Axé Opô Afonjá completa 15 anos de tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nesta terça, dia 28. A Casa de Xangô, como também é conhecido, fica em Salvador (BA) e foi o segundo templo de culto afro-brasileiro a ganhar status de patrimônio nacional.
 
Em 1910, um grupo dissidente do Terreiro da Casa Branca do Engenho Velho, comandado por Eugenia Anna dos Santos, a Mãe Aninha, fundou em uma fazenda o Ilê Axé Opô Afonjá, cujo significado é Casa da Força sustentada por Xangô. De rito Ketu, de nação Nagô, o terreiro presta um inestimável serviço a favor da preservação do culto aos orixás, dentro de uma estrutura sócio religiosa.
 
Em uma área de 39 mil metros quadrados há uma grande extensão de vegetação densa preservada, edificações de uso habitacional e religioso — dentre eles o barracão, o templo principal, a Casa de Xangô, os santuários de Oxalá e de Iemanjá, a fonte de Oxum, e a Escola Eugênia Anna dos Santos. Há também o Museu Ilê Ohum Ilailai e a Biblioteca Ikojppo Ilê Iwe Axé Opô Afonjá, espaços de formação, preservação e difusão da memória daquela comunidade e da história dos africanos no Brasil.
 
A Mãe Aninha foi a Iyá responsável pela liberação legal do culto aos orixás, depois de uma audiência no Rio de Janeiro com o então presidente Getúlio Vargas, em 1936; é dela a famosa frase: "Quero todos meus filhos aos pés de Xangô com anel de doutor". Foi a matriarca soteropolitana, filha de negros da nação grunce, que chamou Salvador de "Roma Negra".

Após a morte de Mãe Aninha, em 1938, o Terreiro foi liderado por Mãe Senhora, em seguida por Mãe Ondina e, desde 1976, é comandado por Maria Stella de Azevedo Santos, Mãe Stella de Oxóssi. A atual Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá escreveu livros, atuou publicamente contra o chamado sincretismo religioso que une a imagem de santos católicos à de orixás, construiu escola, biblioteca, idealizou o museu Ilê Ohun Lailai (Casa das coisas antigas), pregou a necessidade do registro escrito contra os lapsos de memória, contribui para pesquisas respeitosas em torno da temática do candomblé que ela dirige.
 
O tombamento em 28 de julho de 2000 garantiu a continuação do terreiro no local, impede que as construções sejam demolidas, atribui valor simbólico e inclui o terreiro no rol do que é considerado patrimônio e que deve ser preservado para as próximas gerações. Além disso, possibilita a realização de intervenções para garantir sua integridade utilizando recursos públicos. No caso dos terreiros, a preservação ultrapassa a materialidade — de suma importância —, pois permite que rituais e celebrações sejam realizados e perpetuados.
 
O terreiro Ilê Axé Opô Afonjá passou por reformas em 2010, com investimentos de R$ 560 mil do Iphan. Com as obras, as Casas de Oxalá e de Iemanjá do Terreiro do Ilê Axé Opô Afonjá receberam nova estrutura de sustentação do telhado; reforma e recomposição de paredes e alvenarias; nivelamento e execução de novos pisos; readequação dos espaços internos; instalação de gás; revisão geral e execução de novas instalações elétricas e hidro sanitárias; e pintura geral. 
 
O Ilê Axé Opô Afonjá, o mais antigo de que se tem notícia no Brasil, está localizado na rua Direta de São Gonçalo do Retiro, 557, no bairro do Cabula, em Salvador, Bahia.

 

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