Desfile dos Afoxés é patrimônio cultural da Bahia

Uma das manifestações que melhor retratam a africanidade baiana, o Desfile de Afoxés, ou Cortejo de Afoxés, como também é chamado, foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial da Bahia. O decreto estadual, assinado pelo governador Jaques Wagner no dia 29 de novembro, foi festejado pelos representantes dos afoxés no dia seguinte, durante cerimônia de divulgação, no Palácio da Aclamação, no Campo Grande, na capital baiana.

Para o presidente da Associação de Afoxés da Bahia, Nadinho do Congo, a história ganha um importante reforço com o reconhecimento. “Olorum nos abençoou com vitória nesta luta, onde há muitos anos a elite não permitia que os negros tivessem acesso ao Carnaval. Existem afoxés no Rio de Janeiro, Fortaleza e Pernambuco, mas a Bahia sai na frente. Estamos todos de parabéns. Nossa história daqui pra frente estará mais forte”, destacou Nadinho.

O Afoxé Kambalagwanze, com sede no bairro do Barbalho, possui aproximadamente mil associados. A presidente da instituição, Iracema Neves, explicou que os trabalhos sociais desenvolvidos com a comunidade também ganham com o reconhecimento. “Durante muito tempo, o segmento afoxé passou por um processo de desgaste muito grande, em função da falta de apoio do governo a esta manifestação de matriz africana na Bahia. Com essa decisão de tornar o afoxé patrimônio imaterial, acreditamos numa reparação. Sem contar na respeitabilidade, dignidade e credibilidade do segmento”, observou Iracema.

Além da secretária estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Arany Santana, representantes de terreiros, afoxés, blocos afros, imprensa e classe política, a cerimônia de divulgação do decreto reuniu professores e historiadores, a exemplo do presidente da Fundação Pedro Calmon, Ubiratan Castro. “É um grande incentivo a esta modalidade cultural afro-brasileira, que sempre foi vista como uma atividade menos importante, que jamais se emparelhou, em termos de prestígio, com os blocos afros. Os afoxés são o candomblé na rua. É a voz do povo negro pela liberdade. Registrá-lo como patrimônio cultural imaterial permite uma maior segurança àqueles que integram esses grupos. E o mais importante, abre um caminho legal para que o Estado possa apoiar financeiramente”, declarou Ubiratan.

O Afoxé Filhos de Gandhy, que já foi sido reconhecido pelo Livro dos Recordes (Guiness Book) como maior afoxé do mundo, celebra a nova conquista. “Precisávamos ser reconhecidos para ter mais valor”, disse o presidente da agremiação, Agnaldo Silva.

No evento, o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles, representou o governador, que cumpre agenda em Brasília nesta terça-feira. Ele explicou que o processo de inclusão do Cortejo de Afoxés na lista de patrimônios imateriais partiu de um princípio básico: a relevância cultural. “Os afoxés são parte da construção de um processo histórico, são um objeto identitário, a identidade negra do Carnaval. Essa identidade que faz deles um patrimônio. O reconhecimento foi um processo lógico”, ressaltou Meirelles.

O diretor-geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), Frederico Mendonça, explicou que o início dos trâmites para a elaboração do documento apresentado aos conselheiros de cultura e ao governador partiu de uma demanda apresentada pela maior entidade de afoxé. “Recebemos uma solicitação dos Filhos de Gandhy, no sentido de avaliarmos a possibilidade de reconhecer o Cortejo de Afoxés. A partir disso começamos a realizar estudos históricos e antropológicos para construir o dossiê encaminhado ao conselho”, afirmou Mendonça.

Ofício dos Vaqueiros e Palácio da Aclamação
Ele revelou ainda que o Ofício dos Vaqueiros e o Palácio da Aclamação também tiveram a aprovação do Conselho Estadual de Cultura para se tornar patrimônio imaterial da Bahia. A homologação deve acontecer no início do próximo ano pelo Poder Executivo Estadual. “O vaqueiro é uma figura muito emblemática da nossa cultura. Este é um dos reconhecimentos, depois da Festa de Santa Bárbara, da Festa da Boa Morte e do Carnaval de Maragojipe”, disse o diretor-geral do Ipac.

Lançamento de obras
Durante o evento, também foram lançadas obras que reafirmam a influência da cultura africana no Carnaval, a exemplo do candomblé, e marcam o encerramento das atividades do Mês da Consciência Negra – o livro e o DVD-documentário Desfile de Afoxés e do CD Corredor Midiático.

Os trabalhos foram viabilizados por iniciativa da Secretaria Estadual de Cultura, por meio do Ipac e do Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia (Irdeb). A secretária estadual de Promoção da Igualdade, Luiza Bairros, ressaltou que “esse reconhecimento tem que ser lido e interpretado como parte da nossa luta contra a intolerância religiosa. Os afoxés fazem valer as influências que o candomblé tem sobre nosso povo”.

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