Plataforma transmídia divulga linguagem secular do toque dos sinos

O Toque dos Sinos em Minas Gerais, ainda hoje, é uma linguagem plenamente apropriada pela sociedade“Antes eles marcavam o tempo da vida nas cidades do Brasil. Hoje tocam mais tímidos, sem tanta certeza do futuro, mas ainda falam com quem quer escutá-los.” Eles, são os sinos de Minas Gerais, mais precisamente de nove cidades mineiras – Tiradentes, São João Del Rei, Congonhas, Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Diamantina, Serro e Sabará – e a conclusão de que eles ainda querem tocar é do projeto Som dos Sinos: Tecnologia e novas mídas para difusão do patrimônio imaterial brasileiro. A proposta é reverter a citação que vem exposta em seu próprio site – www.somdossinos.com.br – e torna-los menos tímidos, promovendo sua linguagem por meio de plataformas multimídia e aplicativo de celular.

As responsáveis pelo projeto, Marina Thomé e Marcia Mansur, contam que o ponto de partida para a iniciativa, pioneira no Brasil, foi o registro do Toque dos Sinos e o Ofício de Sineiro de Minas Gerais, em 2010, pelo Iphan, como Patrimônio Imaterial do Brasil. Combinando plataforma multimídia e aplicativo para dispositivos móveis, o projeto Som dos Sinos visa sensibilizar e o envolver as comunidades locais e o público nacional e internacional na apreciação e apropriação destas expressões culturais. Neste sentido, “as novas tecnologias, em conjunto com as intervenções públicas, constituem-se em componentes eficazes para salvaguarda uma vez que assegura visibilidade, promove diálogo e desperta memórias e afetos”, afirmam as autoras.

A semelhança que integra o passado e o presente
Mas, por que juntar uma prática secular com outra tão contemporânea? As documentaristas registraram e catalogaram toques de sinos, descrições sobre o instrumento, entrevistas com sineiros; investigaram temas do universo dos sinos como trabalho, mineração, fé, morte, culturas negra e portuguesa. Durante todo o trabalho de pesquisa, Marcia e Marina perceberam que a maior parte dos visitantes das torres das igrejas são jovens. Com seus smartphones, eles registram os sinos tocando e postam, com frequência, nas redes sociais. 

O projeto veio, então, como um potencial de ampliar estas redes. As plataformas transmídia combinam memória e novas tecnologias de modo interativo, possibilitando um rico diálogo entre as tradições culturais e as novas gerações. Tendo a tecnologia como a forma para tratar da materialidade desses bens, o projeto valoriza e promove maior acesso ao patrimônio cultural, tanto pelos moradores e sineiros, quanto pelos turistas e público em geral. 

Foram catalogadas 110 faixas de áudio do aplicativo para celular, para as quais foram desenhadas paisagens sonoras exclusivas. Também foi lançada a plataforma multimídia online onde, na sessão Sons é possível acessar uma onda sonora que reúne mais de cem áudios com toques de sinos e depoimentos da comunidade, disponibilizada para download gratuito. De maneira interativa, o usuário pode acessar também a sessão Video Cartas e escolher uma sequência de imagens e uma trilha sonora para contar sua história. Ao final, o site gera um vídeo de 30 segundos que pode ser compartilhado pelo internauta. 

Entre janeiro e abril de 2015 o conteúdo foi editado para o lançamento do projeto em maio. Em 2016, o Som dos Sinos lançou o documentário online interativo Universo das Torres que apresenta perfis de nove sineiros e oito toques, além de contar mais sobre a história dos sinos, decifrando seus sons, timbres e harmonia. Mas, o projeto vai para além do mundo virtual. Já foram produzidos nove vídeos, exibidos em projeções itinerantes nas fachadas de igrejas em nove cidades presentes no mapeamento do registro do Toque dos Sinos. Cada vídeo conta a história do local onde é exibido, com depoimentos de moradores e sineiros. A ideia é valorizar não só a cultura da linguagem dos sinos, mas, também, o próprio sineiro, que muitas vezes não é reconhecido. 

Os sineiros são formados pela tradição dos mestres e seus toques, que se tornam característicos de territórios e comunidadesO toque dos sinos em Minas Gerais e o ofício de sineiro
No dia 3 de dezembro, na cidade de São João del-Rei (MG), o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou o registro como patrimônio imaterial para O Toque dos Sinos em Minas Gerais, tendo como referência São João del-Rei e as cidades de Ouro Preto, Mariana, Catas Altas, Congonhas, Diamantina, Sabará, Serro e Tiradentes e para o ofício de sineiro.  O material começou a ser compilado em 2001, por iniciativa da comunidade de São João del-Rei e, em 2002, o Iphan deu início a uma grande pesquisa sobre o assunto, estabelecendo, junto com a comunidade sanjoanense, que essa forma de expressão era praticada também em outros municípios. 

Com sinais bem característicos, os nomes dos toques dos sinos, principalmente os repiques, foram criados pelos sineiros ainda no tempo colonial e preservados na tradição oral. Muitos deles são onomatopéicos, exprimindo o som ou ritmo que produzem. A prática é secular, mas ainda hoje, nas cidades inventariadas, os toques são religiosos e têm finalidade social e, até mesmo, de defesa civil. Os mais conhecidos são Ângelus, A Senhora é Morta, Toque de Exéquias, Toque de Cinzas, Toque de Finados, Toque de Passos, Toque de Treva, Glória de Quinta-feira Santa, Toque da Ressurreição, Toques de Te Deuns, Toque das Rasouras e Procissões, Toques de Incêndio, Toques de Agonia, Toques Fúnebres, Toques Festivos, Toque de Parto, Toque chamada de sineiros, Toque chamada de sacristão, Toque de Posse de irmandade, Toque de Almas, Toque de Missas, Toque de Natal, Toque de Ano Novo, Toque das Chagas ou Morte do Senhor.

 

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