Complexo Cultural Bumba meu boi pode se tornar Patrimônio Cultural da Humanidade

Couro de Boi retratando a Santa Ceia, obra de Leonardo da VinciAlém de ser uma brincadeira daquelas boas de participar ou assistir, o Bumba meu boi, presente em todo o Estado do Maranhão é também um complexo ritualístico que envolve formas de expressão musical, coreográfica, cênica, plástica e lúdica. Considerado Patrimônio Cultural do Brasil desde 2011 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o Complexo Cultural do Bumba meu boi pode se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. 

O primeiro passo para o reconhecimento internacional concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) será dado nesta quinta-feira, 5 de abril, com a entrega do dossiê de candidatura do bem cultural ao Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Acompanhada da secretária executiva do Ministério da Cultura, Mariana Ribas; a presidente do Iphan, Kátia Bogea; o diretor do Instituto de Patrimônio Imaterial, Hermano Queiroz; e o superintendente do Iphan no Maranhão, Mauricio Itapary, entregarão o dossiê de candidatura à diretora do Departamento Cultural do Itamaraty, ministra Paula Alves de Souza. A previsão, destaca Mariana Ribas, é que o Comitê do Patrimônio Imaterial decida sobre a inserção do bem brasileiro na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade já no próximo ano, 2019. ”Esperamos que toda essa magnitude também receba o reconhecimento internacional”, disse. A coordenadora de Cultura da Unesco no Brasil, Isabel de Paula, também participa da cerimônia.

O caminho percorrido para se chegar a esta etapa teve início ainda em agosto de 2011 – logo após o reconhecimento nacional, quando o Comitê Gestor do Complexo Cultural do Bumba meu boi passou a construir e implementar o Plano de Salvaguarda da celebração. Em 2012, o Comitê solicitou ao Iphan que fosse preparada a candidatura do Bumba meu boi para a Lista Representativa do Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. “Esse trabalho é resultado de uma estreita parceria com a comunidade, pesquisadores, gestores estaduais e municipais que compreendem o potencial desse bem cultural não apenas como uma legítima manifestação cultural, mas também como um vetor de desenvolvimento econômico e social”, ressalta a presidente do Iphan, Kátia Bogea.

O Complexo Cultural do Bumba meu boi está presente em todo o Estado do Maranhão, dividido em cinco principais estilos conhecidos como sotaques: Matraca, Orquestra, Zabumba, Baixada e Costa-de-mão. Contabiliza-se mais de 400 grupos, localizados nas zonas urbana e rural de São Luís e em, pelo menos, 75 municípios do estado. Para Claudia Regina, que vivencia desde menina a brincadeira, e hoje dança como vaqueira no Boi de Leonardo do sotaque de Zambumba, a possibilidade do reconhecimento internacional vem fortalecer ainda mais a manifestação cultural ao divulgá-la para o mundo. “Meu pai, Leonardo Martins Santos, fundou em 01 de maio de 1956 um grupo de Boi atuante até hoje, e que carrega seu nome. Então é uma alegria imensa que um bem cultural do Maranhão seja candidato a um título internacional”.

Participar da manifestação extrapola a ideia de ser parte de um grupo. Para além da unidade mais estreitamente ligada às celebrações do Boi, os praticantes se identificam como uma grande comunidade boieira, comungando a mesma visão de mundo que envolve religiosidade católica, cultos de matriz africana de diversas tradições, crenças e ritos. É o que explica o diretor do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan, Hermano Queiroz. “Para os participantes, integrar o Bumba meu boi é motivo de orgulho e devoção, de modo que há quem traduza seu compromisso com o Boi comparando-o a uma religião”.

Ainda que existam formas de expressão similares ao Bumba meu boi em outros estados brasileiros, no Maranhão o elemento se diferencia justamente por se constituir num complexo cultural, que compreende uma variedade de estilos, multiplicidade de grupos e, principalmente, porque estabelece uma relação intrínseca entre a fé, a festa e a arte, fundamentada na devoção aos santos católicos juninos, nas crenças em divindades de cultos de matriz africana e na cosmogonia e lendas da região. O Dossiê de candidatura destaca que a manifestação cultural, portadora de uma carga simbólica que reproduz o ciclo vital (nascimento, vida e morte), é uma metáfora da própria existência humana.

A trajetória para a titulação internacionalCazumba, personagem dos Bois da Baixada
O primeiro passo para que o Patrimônio Cultural do Brasil obtenha o reconhecimento  internacional é a solicitação da comunidade ao Iphan para que o bem seja inscrito na lista representativa da Unesco a Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

A partir de então, o pedido é apresentado pelo Iphan para avaliação ao Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e, tendo a anuência, dar-se-á início a elaboração de um levantamento completo sobre os aspectos relevantes do bem cultural, legitimando sua importância para a humanidade. Os dados reunidos em um Dossiê, e entregue pelo MRE à Unesco, passa a integrar um conjunto de bens imateriais que serão objeto de análise do organismo internacional sobre a aceitação ou rejeição da proposta levada à apreciação final durante uma reunião do Comitê Intergovernamental para a Salvaguarda. Segundo o Diretor do Departamento de Cooperação e Fomento do Iphan, Marcelo Brito, “esse processo de avaliação se apoia nas informações apresentadas que devem, de modo sucinto, explicar o que é esse bem cultural, em quais critérios para inscrição se apresenta a candidatura e quais medidas de salvaguarda estão previstas para proteger e promover esse bem, entre outros aspectos”.

O Brasil já possui cinco bens reconhecidos como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade: a Arte Kusiwa - Pintura Corporal e Arte Gráfica Wajãpi (2003), o Samba de Roda no Recôncavo Baiano (2005), o Frevo: expressão artística do Carnaval de Recife (2012), o Círio de Nossa Senhora de Nazaré (2013) e a Roda de Capoeira (2014). 

A Celebração
O Bumba meu boi é uma festa tradicional na qual a figura do boi é o elemento central, porém, por reunir outras expressões culturais, se configura num complexo cultural que extrapola o aspecto lúdico da brincadeira para fazer sentido como uma grande celebração. Nela o centro gravitacional é o boi, o ciclo vital e o universo místico-religioso. 

O Bumba meu boi é vivenciado pelos brincantes ao longo de todo o ano, sendo que as apresentações ocorrem em todo o estado do Maranhão e concentram-se durante os festejos juninos. Seu ciclo festivo e de apresentações pode ser apreendido em quatro etapas: os ensaios, o batizado do boi, as apresentações e a morte. O bem foi registrado como Patrimônio Cultural do Brasil, sendo inscrito no Livro de Registro de Celebrações, em 30 de agosto de 2011.

Serviço:
Data: 05 de abril 
Horário: 11h
Local: Sede do Iphan 
Endereço: SEPS - Quadra 713/913 - Bloco D - Edifício Iphan – Brasília DF

Mais Informações
Assessoria de Comunicação do Iphan

Fernanda Pereira - fernanda.pereira@iphan.gov.br
Mécia Menescal - mecia.menescal@iphan.gov.br
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