Obá Ogunté Sítio de Pai Adão (PE) pode se tornar Patrimônio Cultural do Brasil
Ilê Obá Ogunté Sítio de Pai Adão foi um dos primeiros terreiros de Xangô, em Pernambuco. A casa teria sido fundada em 1875 por Ifátinuké, que também atendia pelo nome Inês Joaquina da Costa, ou Tia Inês, uma nigeriana originária da cidade de Oyó, que veio para Pernambuco junto com seu companheiro João Otolú e outros negros africanos. Ao comprarem as terras onde hoje se encontra o terreiro, deram origem à casa de culto, inicialmente chamada de Obá Omi, que segundo o sacerdote atual, Manoel Papai, também significa Iemanjá.
O Sítio de Pai Adão funcionava também como instância consultiva em casos complexos enfrentados por alguns maracatus da região. Além disso, possuía vínculos com muitas escolas tradicionais de samba e agremiações de frevo cujos carnavalescos são ligados aos terreiros de Xangô, Jurema e Umbanda, fazendo uso comum de práticas próprias de religião dos Orixás.
O terreiro possui uma relevância histórica para compreensão das religiões de matrizes africanas no Brasil. Todo local remete a um ambiente rural que remonta ao início da ocupação do bairro de Água Fria, inicialmente conhecido como Beberibe de Baixo.
Pai Adão, sacerdote de prestígio e respeito
O Terreiro Ilê Obá Ogunté Sítio Pai Adão recebe este nome em homenagem a um de seus sacerdotes. Pai Adão foi um dos maiores propagadores do nagô pelo Recife (PE) ajudando a fundar outros terreiros e tornando-se referência na cidade. Em função disso, Pai Adão gozava de grande estima e respeito da parte dos intelectuais que se pesquisavam sobre os Xangôs de Pernambuco.
Muitos dos seus conhecimentos serviram de embasamento para os pesquisadores locais e para textos clássicos de Gilberto Freyre, Gonçalves Fernandes, Waldemar Valente e René Ribeiro, expoentes da intelectualidade pernambucana e estudiosos dos candomblés da região.
Pai Adão ostentava o orgulho e o conhecimento de um grande sacerdote, destacando-se entre as demais lideranças de terreiros do Recife, dos quais detinha grande respeito. Lidava em pé de igualdade com os cientistas e pesquisadores que o procuravam. Tornou-se assim, a maior referência na história do Xangô pernambucano.
A relação de Pai Adão com outros terreiros em geral foi notória. Seu terreiro ainda hoje é citado como referência em termos de história do Xangô, das tradições nagô e de muitas das tradicionais agremiações de carnaval, frevo e maracatus de Recife e de Olinda. Na zona norte de Recife onde se concentram muitas agremiações de Maracatu Nação, era tradição, os grupos fazerem passagem pelo Sítio de Pai Adão ao longo do percurso, que se fazia a pé até o centro da cidade ou aos palanques no período do Carnaval.
O falecimento de Pai Adão, em 1936, teve grande repercussão na cidade do Recife. Seu velório contou com a presença e estima de centenas de pessoas, de diferentes classes sociais, tendo sido largamente noticiado pelos principais jornais do estado.