A manifestação dos povos do Sul
Lugar de referência para a memória e a identidade do povo Guarani, a Tava, localizada na área que corresponde ao Sítio Histórico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões (RS), foi construída e habitada por seus ancestrais, a pedido de sua divindade, Nhanderu. Além de registrado pelo Iphan em 2014, esse lugar sagrado foi reconhecido como Patrimônio Cultural do MERCOSUL em outubro de 2018, resultado de um processo que teve início com o título do Iphan. Na ocasião, lideranças Guarani solicitaram que o Brasil apresentasse à Argentina e ao Paraguai os estudos realizados sobre o bem, mostrando sua importância como lugar sagrado onde todos, indígenas e não indígenas, podem aprender sobre a trajetória do povo Guarani.
Outros três bens culturais imateriais sulistas são Patrimônio Cultural do Brasil: o Fandango Caiçara (PR), a Procissão do Senhor dos Passos (SC) e as Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas (RS). Registrado pelo Iphan em novembro de 2012, o Fandango Caiçara é uma expressão musical-coreográfica-poética e festiva. Possui uma estrutura bastante complexa e se define em um conjunto de práticas que perpassam o trabalho, o divertimento, a religiosidade, a música e a dança, prestígios e rivalidades, saberes e fazeres.
A Procissão do Senhor dos Passos foi inscrita no Livro de Registro das Celebrações em setembro de 2018. A maior e mais antiga festividade religiosa da cidade de Florianópolis (SC) reúne, anualmente, cerca de 60 mil fiéis. A Procissão do Senhor dos Passos é o ápice de um ciclo ritual que reproduz os momentos finais da vida de Jesus: recorda a perseguição, a condenação e flagelação sofrida e o encontro entre mãe e filho a caminho do Calvário.
As Tradições Doceiras da Região de Pelotas e Antiga Pelotas (Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu) foram inscritas pelo Iphan no Livro de Registro dos Saberes, em maio de 2018. Pela primeira vez, os conselheiros analisaram, a um só tempo, os dois instrumentos de proteção - Tombamento e Registro – que abrangem também os aspectos arquitetônicos e artísticos da cidade, associados ao modo de fazer os doces nessa região. A integração entre o material e o imaterial é imprescindível para a compreensão da dimensão das tradições, memórias e identidade da nação brasileira. Pelotas encontra-se no epicentro de uma região doceira que abarca uma multiplicidade de saberes e identidades sob a forma de duas tradições: a de doces finos e a de doces coloniais. Os doces desempenham um papel peculiar na composição da sociedade regional, sendo um elemento cultural que amarra a diversidade de grupos étnicos e sociais que a compõe.
De outro lado, a maneira como os diferentes povos indígenas da região Sul falam também é reconhecida pelo Iphan. Estima-se que mais de 250 línguas estejam em uso no Brasil entre indígenas, de imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas variedades. Esse Patrimônio Cultural é desconhecido por grande parte da população brasileira, que se acostumou a ver o Brasil como um país monolíngue. O Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL) é instrumento oficial de identificação, documentação, reconhecimento e valorização das línguas faladas pelos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. O Iphan e o MinC reconheceram sete línguas como Referência Cultural Brasileira, das quais seis são indígenas, dentre as quais, duas são faladas no Sul do país: Mbya e Talian.
Desde o Espírito Santo até o Rio Grande do Sul, e em muitos pontos da fronteira do Brasil com a Argentina e Paraguai (em menor escala com a Bolívia) há aldeias Guarani nas quais se fala somente ou majoritariamente a variedade Mbya. Outra língua reconhecida é a Talian, formada a partir do contato de distintas línguas originárias da região do Vêneto, na Itália, de onde veio grande contingente de imigrantes para o Brasil. É falada, especialmente, no interior dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso e Espírito Santo.
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