Entrevista – Joana Alves, presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste

O pedido de reconhecimento como patrimônio cultural imaterial do Brasil surgiu no ano de 2011, em meio a diálogos da Associação Balaio Nordeste com forrozeiros atuantes no Estado da Paraíba que passaram a organizar o Fórum Forró de Raiz. O movimento articulado busca a promoção de debates e ações voltadas para a melhoria das condições de cidadania dos artistas que trabalham com o forró em suas diversas denominações. Em entrevista, a coordenadora do Forum Nacional e Presidente da Associação Cultural Balaio do Nordeste explica sobre esse pedido de Registro.
  
Quais as principais demandas do grupo? 
Cada Estado possui suas peculiaridades, contudo, nessa Rede de interlocução que está sendo construída, foram identificados relatos comuns sobre a constante desvalorização do forró tradicional em toda a cadeia produtiva envolvida com a prática, a exemplo dos compositores, cantores, músicos, dançarinos, etc. Nessa desvalorização estão questões simples, como a falta de divulgação sobre os nomes de referência dessa prática, o desinteresse da mídia em difundir as músicas tradicionais e o desinteresse dos gestores públicos locais nas contrataçoes. 

Para exemplificar esse último ponto. Nos grandes eventos tradicionais do Nordeste, como as festividades juninas de São João, tem-se convidado artistas de outros segmentos musicais que não têm legitimidade com a cultura popular da região para atender uma exigência mercadológica. Isso não seria um problema se os próprios artistas que vivem exclusivamente dessa prática, dedicando uma vida inteira à ela, estivessem verdadeiramente incluídos, sendo os protagonistas e anfitriões da festividade. Neste ponto, também há a queixa da grande diferenciação de valores pagos dos cachês, e o atraso dos mesmos para os profissionais locais. 

Como surgiu a demanda para o pedido de Registro?
Nas discussões realizadas em uma Comissão formada no Estado da Paraíba para discutir os temas já abordados acima, surgiu ainda o questionamento importante sobre o que de fato é o forró, e quais seriam suas Matrizes. Assim, quem poderia ajudar nessa resposta seria o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que possui como instrumento de pesquisa e preservação o Registro como Patrimônio Cultural do Brasil. Assim, em 2011, nós entregamos ao Instituto o pedido de Registro que para além da documentação sobre a prática, também trabalha para a salvaguarda e sustentabilidade do bem ao considerar todas essas demandas do grupo cultural. 

E desde o pedido, quais ações estão sendo desenvolvidas?
Desde o pedido entregue, o Instituto buscou em parceria com a Associação Balaio, incentivar encontros, fóruns e audiências públicas para discutir o processo de reconhecimento, abordando os potenciais, significados e limites da política de Patrimônio Cultural. Em setembro de 2015, o Encontro Nacional para Salvaguarda das Matrizes do Forró ocorrido em João Pessoa (PB) apontou as diretrizes para o processo de Registro. Assim, esse documento foi sendo apresentado e discutido em outros fóruns já realizados em outros Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, no Distrito Federal, Paraíba etc..... As diretrizes são o fundamento para a pesquisa de instrução do Registro a ser realizada pela Associação Respeita Januário em cooperação com o Iphan. 

E quais expectativas caso o Forró seja considerado Patrimônio Cultural do Brasil? 
Esse reconhecimento seria importante para evidenciar essa cultura popular tradicional que está presente em vários Estados do país e no mundo, mas que vem sendo constantemente desvalorizada dentro do mercado do turismo. Também seria importante para o empoderamento desses profissionais que vêm travando uma verdadeira batalha para manter viva as tradições dessa prática que fazem parte de sua própria identidade. A partir das ações de salvaguarda indicadas pelo grupo estão, dentre outras ações, a capacitação e fortalecimento das atividades da cadeia produtiva do forró. Assim, teremos mais um marco importante nesse caminho que é o Seminário Forró e Patrimônio Cultural a ser realizado dos dias 08 a 10 de maio em Recife. Nesse momento os praticantes do forró tradicional de todo o país terão a oportunidade de se reunir para discutir a preservação da cultura popular, conhecer os limites e potencialidades de um eventual Registro como Patrimônio Cultural do Brasil.   

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