Ação Memórias da Festa traz histórias do Pau da Bandeira de Santo Antônio, em Barbalha (CE)

Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de BarbalhaCom a pandemia do novo coronavírus, a cidade de Barbalha (CE) viu a sua tradicional Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio ser cancelada pela primeira vez em toda sua história. Por mobilizar fortemente a população do Cariri cearense e atrair turistas de todo país e de várias partes do mundo, seria impossível garantir a aplicação das medidas de prevenção à doença e proteger os devotos e curiosos. No entanto, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) se une a um esforço coletivo de manter a tradição acesa, com a ação Memórias da Festa, que reúne e divulga pelas redes sociais depoimentos em vídeo, com histórias, lembranças e homenagens à celebração que foi reconhecida, há exatos cinco anos, como Patrimônio Cultural do Brasil.

Entre os depoentes estão professores, produtores culturais e participantes do Pau da Bandeira, além de personagens fundamentais para sua realização, como o carregador Roberto Maguila, que acompanha o cortejo há 40 anos, e Rildo Teles, atual Capitão do Pau. Em comum, os relatos trazem a emoção que percorre a festividade ano após ano, congregando a população em um ritual que vai do profano ao sagrado, misturando a fé, a terra, a arte e a vida. 

Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio de BarbalhaUm celeiro cultural no Cariri
O culto a Santo Antônio na região de Barbalha tem seus primeiros registros ainda no século XVIII, antes mesmo da fundação da cidade, com a realização de ciclos de cultos católicos dedicados ao Santo e com a construção de uma capela em sua devoção no local que veio a originar o povoado. Muitos anos mais tarde, foi iniciada então a tradição do hasteamento do Pau da Bandeira, reunindo as tradições populares aos rituais litúrgicos da Igreja Católica. Foi nessa mesma mistura que a Festa do Pau da Bandeira de Santo Antônio cresceu, se transformou e configura hoje uma das mais representativas vitrines da cultura cearense, reunindo diversos costumes, referências culturais e formas de expressão populares. 

A festividade tem seu marco central no último domingo de maio ou primeiro de junho, sempre às vésperas do dia do padroeiro, 13 de junho, quando a comunidade local se reúne em devoção, levando às ruas de Barbalha as gentes de todo canto para ver o carregar e o hastear do mastro; para lotar as missas na Igreja Matriz; para beber, dançar ou sonhar com o matrimônio. Como relata o professor Edvar Costa, da Universidade Estadual do Vale do Acaraú, só é possível descobrir os significados profundos da celebração ao se “observar e vivenciar o que ocorre nas multidões e nos pequenos grupos” que se reúnem em todos os lugares da cidade durante esse primeiro dia da Festa.

Tudo começa com o corte da árvore que será transformada em mastro, ou melhor dizendo, no Pau da Bandeira. Pesando em média duas toneladas, ele é transportado ao longo da tarde de domingo por cerca de 150 homens, os Carregadores do Pau, por uma distância de até sete quilômetros, que liga a zona rural de Barbalha a seu Centro Histórico. Esse percurso é marcado pelo vermelho do barro que cobre os participantes, mas, sobretudo, pela demonstração de força e devoção de cada um deles. “O Pau da Bandeira materializa a fé carregada nas mentes, nos corações e nos ombros dos devotos. É uma festa subsidiada pela floresta; cuja relação da sociedade com a natureza é mediada pela fé”, explica o professor Josier Ferreira, da Universidade Regional do Cariri.

O caminho parece tortuoso, mas é também coberto de música, cachaça, bandeirolas coloridas, rezas e brincadeiras. Na chegada do Pau da Bandeira à praça da Igreja Matriz, a adrenalina aumenta, como relembra a produtora cultural Jane Ferreira: “O Pau começa a ser erguido e, ao terminar de ser fincado, o povo grita: viva Santo Antônio! A bandeira de Santo Antônio tremula. O povo, seus devotos, corre para abraçar o Pau. Rezam, choram, tiram uma lasquinha.” E o céu explode em fogos de artificio, enquanto, na terra, tudo o que se vê é alegria e demonstração de fé. 

Festa do Pau da Bandeira, em Barbalha (CE)O povo dança forró, faz promessas ao padroeiro e não perde tempo em adquirir o poderoso Chá do Pau ou os inúmeros produtos que garantem casamento, fertilidade e virilidade. Começa então o Desfile dos Grupos de Folguedos, que reúne diferentes manifestações culturais da região, como Reinados, Incelências, Bandas Cabaçais, Maneiro Pau, Quadrilhas, Capoeira e Lapinhas. Barbalha segue entre cultos, quermesses e a visitação da imagem do Santo às casas dos devotos até o dia 12 de junho. No dia 13, quando se celebra oficialmente o Dia de Santo Antônio, uma procissão percorre a cidade e uma grande missa encerra a série de festejos, deixando, entre os barbalhenses, a expectativa de poder começar tudo de novo, no ano que está por vir. 

Se, “infelizmente, em 2020 mudou tudo em todo o mundo”, como afirmou a professora aposentada Selene Queiroz, é preciso “orar e ficar em casa sob as bençãos de Santo Antônio”. Por isso, além do Iphan, organizações locais e a administração municipal também estão realizando diferentes atividades durante o período no qual se realizaria a Festa, no sentido de celebrar os festejos juninos de forma virtual, com transmissões das trezenas de Santo Antônio, lives de artistas locais e grupos folclóricos, apresentações de vídeos de edições anteriores, entre outros. 

Seja como for, o que não muda é a devoção e o encantamento pela festa singular do povo barbalhense. Em seu depoimento, o secretário municipal de Cultura, Rômulo Araújo, promete: “Tem nada não! Ano que vem, se Deus quiser, faremos uma festa muito grande e muito bonita. Tudo isso vai passar.”
 

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