Ruínas de sítio arqueológico em Serra (ES) são inauguradas após restauro

Palco da Revolta do Queimado, o sítio é um símbolo da resistência à escravidão no estado. Um museu a céu aberto que guarda memórias da luta e do sofrimento de negros escravizados no Espírito Santo:  este é o legado evocado pelas Ruínas de São José do Queimado. Localizadas em Serra (ES), o monumento se encontra na área do Sítio Histórico São José do Queimado, um sítio arqueológico cadastrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). 

As ruínas receberam uma série de melhorias para proporcionar o acesso de capixabas e turistas a este símbolo da resistência à escravidão no estado. Todo o processo de restauração foi acompanhado pelo Iphan. 

Reinaugurado nesta segunda-feira, 17 de agosto, Dia Nacional do Patrimônio Cultural, trata-se de um ponto de visitação inclusivo, pois tem acessos e ambientes adaptados de acordo com as normas de acessibilidade.

As obras se estenderam por pouco mais de um ano e somaram investimentos da ordem de R$ 1,3 milhão. Demanda antiga de toda a sociedade - especialmente do movimento negro capixaba - a restauração foi viabilizada por um acordo de cooperação técnica e financeira assinado entre a Prefeitura de Serra Sede e o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades). Responsável pela proteção ao Patrimônio Cultural a nível estadual, a Secretaria de Estado de Cultura do Espírito Santo também acompanhou os trabalhos. A execução ficou a cargo do Instituto Modus Vivendi. 

Durante as intervenções, foi descoberta uma série de achados arqueológicos: a etapa da limpeza revelou estruturas arquitetônicas como a escada, o arco cruzeiro, o piso da nave, entre outros. Além de favorecer a percepção de como se apresentavam as edificações originais antes do arruinamento, esse trabalho ajuda a resgatar a própria história do período em que as construções foram erguidas. Memórias de indivíduos, vestígios de práticas sociais e modos de fazer da época ficaram marcados nas estruturas remanescentes.

A restauração revelou uma série de achados arqueológicos O local foi palco da Revolta do Queimado, ocorrida em 1849. O movimento eclodiu depois que negros escravizados não receberem a alforria prometida como compensação pelo trabalho de construção da Igreja de São José do Queimado. Entre outros combatentes, Elisiário, Chico Prego e João da Viúva são os protagonistas desta insurreição. Eles lideraram um grande levante que só foi reprimido após a chegada de reforços militares vindos do Estado do Rio de Janeiro. Após o fim da revolta, cinco negros foram condenados à morte, entre os quais se incluem os principais líderes do movimento. Apenas um deles, Elisário, conseguiu fugir: desapareceu nas matas do Morro do Mestre Álvaro.

O Patrimônio Arqueológico
Reconhecidos como parte integrante do Patrimônio Cultural Brasileiro pela Constituição Federal de 1988, os sítios arqueológicos são inscritos no Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos (CNSA). No âmbito da autarquia, o Centro Nacional de Arqueologia (CNA) é a Unidade Especial do Instituto voltada para a área de gestão do patrimônio arqueológico. 

A Superintendência do Iphan no Espírito Santo acompanha e protege cerca de 550 sítios arqueológicos, localizados em vários municípios. Além deste amplo cenário, também fiscaliza empreendimentos com potencial de impacto em sítios registrados e ainda não identificados.
 

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