Internautas escolhem nova cor para o Mercado Ver-o-Peso, no Pará
publicada em 28 de janeiro de 2013, às 11h48
Com 57% de todos os votos, a população paraense e internautas de todo o Brasil escolheram o azul para ser a nova cor do Mercado de Ferro, ou o Mercado de Peixe (Ver o Peso), como é conhecido popularmente. A pesquisa realizada entre 17 e 24 de janeiro foi uma iniciativa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) com apoio do Centro de Memória da Universidade Federal do Pará (UFPA). Das 3.200 participações computadas o verde ficou com o segundo lugar, alcançando uma porcentagem de 28% da preferência e o vermelho em último, com 15% dos votos.
O processo participativo surgiu durante a Obra de Restauração e Conservação do Mercado realizada em 2012 pelo Iphan, que ao aplicar uma pintura de cor laranja anticorrosiva nos elementos de ferro, houve manifestações contrárias da população que acreditava ser a cor utilizada para o acabamento. A principal alegação era que a cor “original” do Mercado, supostamente o azul, deveria ser mantida.
Para o Iphan, a expressiva participação dos internautas e os resultados obtidos na pesquisa reforçam que o Mercado Ver-o-Peso é, de fato, um importante patrimônio cultural de Belém e do Brasil, merecendo o título de principal cartão postal da cidade.
Desde o início da pesquisa, o corpo técnico do Iphan já esperava a predominância do azul em relação às outras cores, uma vez que, há muitos anos esta cor vem sendo usada e já se integrou à percepção da paisagem e faz parte das lembranças e da memória social da cidade. De acordo com o Instituto, há uma forte identificação e tradição da população com a paisagem do Ver-o-Peso. A população se preocupa com o patrimônio e gosta de opinar a respeito.
A análise qualitativa dos dados possibilitou conhecer melhor a importância e o significado das cores no imaginário da população. No caso específico do Mercado de ferro do Ver-o-Peso, detectou-se na defesa do azul, ainda que admitindo variações de tonalidade, a defesa da “tradição”, a resistência a mudanças quando se trata de elementos identitários de patrimônio. O azul também foi associado aos dois principais times de futebol do estado. A cor verde teve sua indicação e aceitação respaldadas na associação com características regionais e ecológicas, tais como Amazônia, florestas e as mangueiras da cidade. O vermelho foi associado à cor do açaí, a pele morena e a bandeira do Pará, denotando uma postura de ousadia, inovação e modernidade.
A Obra de restauro
Em janeiro de 2012, atendendo a demanda dos próprios trabalhadores do local, o Iphan deu início à obra de restauração e conservação de Mercado de Peixe, a qual inclui a reconstrução da cobertura com redimensionamento do sistema de calhas e condutores; instalações elétricas e iluminação com implantação de para raios; instalações hidrosanitárias com implantação de sistema de tratamento de esgoto e melhorias nos banheiros; instalação de câmara frigorífica para conservação e estoque mínimo de gelo para as cubas de inox onde o pescado é exposto para venda; restauração dos elementos de ferro que se apresentavam muito oxidados e deteriorados.
Para que o mercado não fosse fechado, foi acordado com a Secretaria Municipal de Economia, os peixeiros e os lojistas, que a obra se daria em duas etapas. A finalização da obra na primeira metade está planejada para março/2013, quando será iniciada a parte restante. Para o remanejamento provisório de alguns comerciantes durante as obras a prefeitura cedeu o Solar da Beira.
O Mercado Ver-o-Peso e suas reformas
Inaugurado em 1625 no antigo Porto do Pirí, a Casa de “Haver o Peso”, que inicialmente era apenas um posto de aferição de mercadorias e arrecadação de impostos, viria a constituir um grande mercado aberto. Ao longo do tempo sofreu diversas modificações, inclusive para se adaptar à necessidade e gostos da Belle Époque, período de cultura cosmopolita que, segundo alguns autores, iniciou no fim do século XIX e durou até a Primeira Guerra Mundial. Nesse período o Ver-o-Peso passa por uma grande reforma. O Mercado de Carne recebe o segundo pavimento e o pavilhão de ferro, enquanto que o Mercado de Peixe é construído junto à doca. Os dois mercados integram um complexo arquitetônico e paisagístico de 25 mil metros quadrados, com uma série de construções históricas: a Doca, a Feira do Açaí, a Ladeira do Castelo, o Mercado da Carne, o Mercado de Ferro, a Praça do Pescador, a Praça do Relógio e o Solar da Beira.
Em 1897, a empresa La Rocque Pinto & Cia venceu a concorrência para a construção do Mercado de Ferro, edifício exemplar do período artístico da Belle-Époque, seguindo a tendência francesa de art nouveau. Toda a estrutura em forma de dodecágono do Mercado foi importada da Europa, pesando aproximadamente 1.133.389 toneladas, e feita em zinco veille-montaine. No ano de 1892 a obra teve início, sob a responsabilidade dos Engenheiros Bento Miranda e Raimundo Viana, que montaram todo o conjunto no local, uma vez que o Mercado foi comprado de firmas de Nova York (USA) e Londres (Inglaterra). Em 1901 o Mercado vai ser inaugurado, mas inicialmente funcionava apenas com a venda de produtos diversificados.
O conjunto arquitetônico e paisagístico do Ver-o-Peso foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e inscrito no Livro do Tombo Histórico no ano de 1977. Passou por restauração em 2006, que englobou o Mercado de Carne, áreas adjacentes e o Mercado de Peixe.