As águas do Rio São Francisco desvendadas pela história dos remeiros

Os caminhos do velho Chico guardam muitas histórias e uma delas é a dos remeiros do rio São Francisco, contada no Documentário Remeiros do São Francisco. O filme, dirigido por Dêniston Fernandes Diamantino, foi vencedor da 28ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade (PRMFA), promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e receberá R$ 30 mil pela iniciativa na área de preservação do patrimônio cultural brasileiro. Durante 50 minutos, é narrada a trajetória de homens que, desde o século XIX até a década de 1950, riscaram as águas do Rio São Francisco com seu trabalho, esforço físico e, também com suas memórias que, assim como as águas, ficaram turvas. 

Com fotos, textos e depoimentos é remontada a figura do remeiro que trabalhava empurrando, rio acima, barcas de 10 a 20 metros de comprimento por até 4 metros de largura. Transportavam até 50 toneladas de mantimentos como rapadura, cachaça, sal, café e outras iguarias. Esse movimento comercial contribuiu de maneira efetiva para o movimento de ocupação das regiões cortadas pelo Rio São Francisco, desde a Serra da Canastra, em Minas Gerais, até os estados de Alagoas e Sergipe. Nesses lugares, os remeiros eram responsáveis por todo movimento de trocas econômicas e culturais. 

Para fazer as barcas subirem o rio, usavam varões de até seis metros de comprimento que eram apoiados no peito. Com o peso do corpo, prendiam os varões no fundo do rio e percorriam a embarcação de uma ponta a outra. Para fugir dos perigos das águas, os remeiros buscavam a proteção das carrancas, imagens que misturavam homem e animal e eram fixadas na proa do barco, para afugentar as feras, os maus espíritos, os cabocos d’água e o minhocão, Os remeiros eram, assim, personagens que andavam, literalmente, de peito sangrando e aliviavam as feridas colocando toucinhos para estancar a dor de vara e para aliviar o cansaço.

Mesmo sendo descriminados com seu trabalho sub valorizado, os remeiros do São Francisco faziam de tudo para que as mercadorias chegassem inteiras. Empunhando os seus varões, transportavam também as famílias de seus patrões, que viajavam em parte privilegiada das barcas, protegidas do sol e do cansaço. 

A história de vida dos remeiros revela como ocorreu grande parte da ocupação do Brasil. Também é relato da formação dos grandes latifúndios, do regime coronelista, do homem sertanejo, da fixação da população ribeirinha. Deixando nesse espaço as marcas da práxis do homem, mas antes de tudo os modos de fazer e a memória de pessoas. Muitas das histórias que ainda hoje se conta pela região do São Francisco nasceram com os remeiros, especialmente quando podiam descansar durante a descida do rio. Era nesses momentos que se escutavam as músicas de amor e de saudades e, também, a narrativa de cada um dos lugares por onde passavam.

Assista o documentário

Ouça o áudio da música Remeiro do São Francisco com melodia de Heitor Villa-Lobos. 

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