História - Vila Serra do Navio (AP)

Estação Ferroviária Vila Serra do Navio (AP)

A Vila Serra do Navio, no Amapá, surgiu da necessidade de abrigar o contingente de moradores da periferia da Vila Operária da Indústria e Comércio de Minério (Icomi), para fomentar atividade agrícola de subsistência. Construída entre o final da década de 1950 e início dos anos 1960, era uma   moderna cidade com infraestrutura de saneamento básico, água tratada, energia elétrica, residências confortáveis, aliada a uma completa rede de atendimento sociocultural: escolas, hospital, cinema, áreas esportivas e recreativas destinadas aos seus funcionários e familiares, sob a administração da Icomi. 

Um projeto ambicioso de implantação - nos moldes de muitas vilas que surgiram na Inglaterra durante a Revolução Industrial - de uma Company Town ou Cidade de Companhia. Tratava-se de um núcleo urbano dirigido e controlado por apenas uma única empresa, cuja economia é ligada a uma só atividade empresarial. Com pouco mais de 3,7 mil habitantes, foi projetada pelo arquiteto brasileiro Oswaldo Arthur Bratke para abrigar os trabalhadores da Icomi, associada à empresa internacional Bethelehem. Bratke escolheu, pessoalmente, o lugar de implantação - a Serra do Navio em uma região localizada entre os rios Araguari e Amapari, e também programou áreas de expansão futura da vila, projetando-as integradas ao traçado e ao sistema viário. Concebeu o projeto para uma cidade completa e autossuficiente, verdadeira ilha no meio da floresta, que significou uma experiência precursora na Amazônia. 

O arquiteto elaborou o projeto de acordo com os preceitos modernistas, mas com atenção às construções locais, das quais assimilou elementos que o tornaram adequado à realidade amazônica, sobretudo ao clima quente e úmido dos trópicos. Ele estudou os tipos de habitação da região, os hábitos dos moradores, e todos os dados referentes ao meio ambiente, e visitou vilas de mineração construídas em outros países como Estados Unidos, Inglaterra, Venezuela, Chile, Colômbia e em países do Caribe. 

O traçado urbano de Vila Serra do Navio, desenvolvido segundo os cânones da arquitetura moderna, apresenta um plano urbanístico distribuído em zonas destinadas à habitação, ao lazer, ao trabalho e à circulação. As unidades habitacionais individuais e unifamiliares são dispostas de forma hierárquica, de modo semelhante aos níveis funcionais da empresa: staff, vila intermediária e vila operária. 

O acesso à área do projeto se dava apenas pelos rios e, apesar de enormes dificuldades, implantou-se ali o que deveria ser um modelo de empreendimento capitalista reproduzindo a hierarquia existente na empresa. Em plena floresta tropical, a Icomi oferecia as melhores condições de moradia e serviços urbanos para atrair mão de obra especializada de outros estados, fixando-a no Amapá.  Os operários eram contratados e treinados pela própria mineradora. 

Destacam-se, centralizadas, as áreas destinadas aos equipamentos de administração e comércio, educação, saúde, lazer e esporte, atividades religiosas. Uma cidade planejada para propiciar uma convivência harmônica e não impactante à floresta, onde os lotes não possuem muros e as casas são cercadas apenas por amplos jardins, foram construídas de forma adequada às condições climáticas regionais. O projeto priorizou a interação com o meio ambiente e o conforto ambiental no interior dos edifícios, utilizando recursos como direcionamento da ventilação, venezianas, elementos vazados, empenas vazadas para penetração da ventilação.

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