Monumentos e Espaços Públicos Tombados - Cachoeira (BA)

Fachada Igreja Nossa Sra. do Carmo
Conjunto do Carmos da Ordem 3a Igreja Nossa Sra. do Rosário

 

O tombamento abrange o Conjunto do Carmo, Capela Nossa Senhora D’Ajuda, casa à Praça Dr. Aristides Milton (23-A); as igrejas do Rosarinho e Cemitério dos Pretos, Nossa Senhora do Monte, Matriz de Nossa Senhora do Rosário, da Matriz de Santiago do Iguape (localizada no distrito de Iguape); os imóveis nas ruas Benjamin Constant - antigo Arquivo Público Municipal (nº 17), Ana Nery (nºs 02 e 25), Sete de Setembro (nº 34), 13 de Maio (nº 13); a  nova sede da Fundação Hansen (Quarteirão Leite Alves); e a Orla de São Félix, entre outros. Os bens móveis - como cinco jarras de louça da Fábrica de Santo Antônio do Porto - foram tombados em 1939.  

Conjunto do Carmo - Localizado na Praça da Aclamação, o conjunto é um dos espaços urbanos mais importantes de Cachoeira, e formado pela Igreja da Ordem Primeira, Capela e Casa de Oração da Ordem Terceira. A Ordem Terceira foi instituída em 1691 e funcionou, inicialmente, em uma das capelas da Igreja do Carmo. Em 1702, os irmãos terceiros começaram a construção da sua igreja em terreno doado pelo general João Rodrigues Adorno. A Casa de Oração é o elemento de ligação entre a Igreja da Ordem Terceira e a Igreja do Carmo.  A construção da igreja e do convento seguiu os ditames da Contra Reforma (movimento reformista católico que ocorreu na Europa, no século XVI): as igrejas deveriam ter uma única nave para que todos pudessem ver o altar-mor e a celebração da missa, com a iluminação vinda das janelas do coro. 

No espaço central da capela-mor está a imagem de Nossa Senhora do Monte do Carmo, ladeada por dois santos carmelitas: Elias e Eliseu. A capela conserva, como a Igreja Matriz local, o espírito clássico do século anterior, de que foram protótipos as primeiras capelas jesuíticas. Os altares e tribunas da nave indicam influência chinesa, também evidente nos armários da sacristia e do consistório. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo possui corredores laterais superpostos por tribunas e seus azulejos datam da década de 1760-1770. O frontispício rococó, em galilé (galeria entre a parede do frontispício e a porta da nave), avança sobre a rua, em contraste com as fachadas sóbrias do Convento e da Ordem Terceira, e uma janela da torre abre-se para o seu interior comprovando que foi refeito em 1773. 

Convento de Santo Antônio de Paraguaçu (igreja e ruínas) - Localizado no distrito de Iguape, às margens do rio Paraguaçu. Igreja datada de 1660, mas não concluída, apesar do noviciato funcionar desde 1654. A igreja está recuada, e antes dela há um cais que se articula com o grande adro murado por escadaria e terraços, onde está a base do cruzeiro, elemento característico dos conventos franciscanos. Construída em pedra e cal, é envolvida por corredores superpostos e tribunas, e sua planta com sacristia transversal é típica dos franciscanos do Nordeste. O interior da igreja possuía barras de azulejos, piso formado por sepulturas com tampa de madeira, forros em gamela e abóboda. 

Lavabo do Convento de Santo Antônio de Paraguaçu - Datado de 1786, localizava-se, inicialmente, na sacristia do Convento que foi construído logo após a expulsão dos holandeses, no início da segunda metade do século XVII. Posteriormente, ocorreu a transferência do lavabo para o Solar Mojope (construção neocolonial situada no Rio de Janeiro e demolida na década de 1970). Segundo fotografia do acervo particular do arquiteto Francisco Santana, o lavabo mede 31,6 cm x 53,5 cm, sendo lavrado em pedra lioz, com bacia curva e bordo entalhado formando desenhos florais. 

Igreja Matriz Nossa Senhora do Rosário - Construída no final do século XVII, possui painéis de azulejos colocados em 1750, que recobrem as paredes laterais da nave principal e alcançam altura de quatro metros e estão entre os de maior área do Brasil. O edifício é de grande valor monumental e histórico, com interior muito rico e revestido de azulejos historiados com temas bíblicos. O forro da nave exibe pintura ilusionista e os da sacristia e coro, medalhões. Seu acervo ostenta numerosas imagens, doze telas, um sacrário (lugar onde se guardam as hóstias e as relíquias) de prata, e muitas outras peças. 

Paço Municipal (Casa de Câmara e Cadeia) - Atual Museu da Câmara. Localizado na Praça da Aclamação, o prédio atual foi reformado em 1789. Neste prédio, D. Pedro I foi aclamado Regente e Defensor do Brasil, em 1822. Durante a Revolta da Sabinada (ocorreu em 1837 e 1838, liderada por Francisco Sabino Álvaro da Rocha Vieira), o local foi sede do Governo Legal da Província. O edifício de dois pavimentos possui planta retangular que se articula com a praça por meio de escadaria de pedra, em forma de tronco de pirâmide. No primeiro pavimento, além das instalações da Câmara, existem duas salas que serviam como cadeia a presos ilustres. O sobrado é forrado e conserva no seu interior telas dos artistas José Couto e Antônio Parreiras.  

Chafariz Público (Chafariz da Praça Dr. Aristides Milton) - Construído no final do século XVIII, durante as décadas de 1780 e 1790, para encaminhar “a água do mato de Tenente Felipe ao largo do Hospital". Com frontão neoclássico, é elevado em alguns degraus em relação à rua onde era distribuída a água, e seu sistema é formado por caixa de captação, vertedouro, aqueduto de transporte, depósito de decantação e regularização do fluxo da água, e sete bicas de distribuição. Na parte inferior, existem sete carrancas em ferro fundido, por onde corria a água. No centro, acima, são exibidas as armas do Império, executadas em estuque e, um pouco abaixo, há uma placa datada de 1827, quando o chafariz foi remodelado. 

Casa natal de Ana Nery - Atual Museu Hansen Bahia. Neste sobrado de porta e janela nasceu Ana Justina Ferreira Nery, pioneira da enfermagem no Brasil, que participou da Guerra do Paraguai (1864 a 1870).  Construído provavelmente em meados do século XVIII, inserido em um conjunto de semelhantes características arquitetônicas. A planta de forma trapezoidal desenvolve-se por um corredor lateral, que dá acesso às salas e cozinha situada em um anexo. Sobrado de dois pavimentos com sótão e demais quartos, erguido em um lote muito pequeno. Caracteriza-se pela utilização do pavimento térreo como residência, fato raro para a época da sua construção. 

Jardim do Hospital São João de Deus - Está localizado nos fundos da capela do Hospital São João de Deus (antigo Hospital de Caridade de Cachoeira), criado pelo frei Antônio Machado, em 1729. A Ordem de São João de Deus, de Lisboa, recebeu-o por doação em 1754, e o transferiu à Santa Casa da Misericórdia, em 1826. Em 1912, o quintal da igreja foi transformado em jardim, do tipo francês e apresenta canteiros de desenho geométrico e gradil com colunas coroadas por vasos, pinhas, cachorros e leões de louça. O centro do jardim é marcado por uma fonte de mármore com três golfinhos. 

Engenho Embiara - A casa e a fazenda eram denominadas "Morgado Real do Embiara". A primitiva capela data de 1637 e o atual sobrado, construído por Bernardino José Aragão, só foi edificado em 1806 e habitado até 1940, por herdeiros da família Paes Aragão. Solar rural de dimensões e tratamento palaciano, em "U", formando um pátio aberto no fundo, estilo adotado no século XIX em outras casas-grandes e engenhos do Recôncavo. Algumas divisórias do sobrado eram de estuque e seus cômodos se distribuíam em dois pavimentos. O sobrado assenta-se sobre um terrapleno, que forma um átrio diante do edifício, tendo como acesso escadaria semicircular, além de grandes salões, dormitórios e capela. Átrio era principal aposento das casas nos primeiros tempos da Roma Antiga, usado como sala de estar e de lazer, e também como cozinha e dormitório.

Engenho Vitória (sobrado, capela, crucifixo, senzala e banheiro) - Construído a partir de 1812, por Pedro Bandeira, abastado negociante e senhor de engenhos da região e um dos introdutores da navegação a vapor na Bahia.  Localizado na zona rural, às margens do rio Paraguaçu, o edifício é um dos mais representativos exemplos da casa rural assobradada, dividido em três níveis, segundo planta em "T". Originalmente, era ligado à fábrica por uma passagem coberta que serve de acesso tanto ao engenho quanto ao sobrado e divide o térreo em duas partes: de um lado a galeria e duas salas abrindo-se para o rio; do outro, um salão em mármore, uma capela abobadada, depósito e quartos de criados. No pavimento nobre, estão os quartos e o salão de visita que se projeta sobre o rio. Merecem destaque a portada, o brasão em mármore da família Muniz, e os azulejos do banheiro externo.   

Solar Estrela (sobrado à Rua Ana Nery, nº 1) - Atual Obra de Assistência Paroquial de Cachoeira. Situado em um local de esquina e datado do início do século XVIII, é considerado um dos mais relevantes exemplos da arquitetura residencial do Recôncavo. Desenvolve-se em três níveis: loja, sobreloja e pavimento nobre, em estilo tipicamente cachoeirano, com sobreloja de pé-direito reduzido, provavelmente para manter a salvo, das enchentes do rio, os produtos da loja.

Sobrado à Praça da Aclamação - Atual Museu Regional de Cachoeira e Escritório Técnico do Iphan. Sobrado da primeira metade do século XVIII, destaca-se por suas características arquitetônicas, sendo uma das mais ricas e imponentes residências baianas. Divide-se em loja, sobreloja (de reduzido pé-direito) e pavimento nobre. Além da função de abrigar os produtos da loja durante as enchentes do rio Paraguaçu, a sobreloja tinha função defensiva, a julgar pelas seteiras (frestas estreitas abertas nas paredes por onde se combatia invasores) apontadas para a praça. Duas lojinhas, em níveis diferentes no último pavimento, se articulam ao corpo central, por meio de varanda em "L". Destacam-se os tetos em caixotões, além das esquadrias almofadadas da fachada e armários embutidos decorados existentes nos salões onde os visitantes eram recebidos e ocorriam festas e banquetes. 

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan, Sítios Históricos e Conjuntos Urbanos de Monumentos Nacionais - Volume I: Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Iphan/Programa Monumenta), Inventário Nacional de Bens Imóveis Tombados - Volume 82 (Iphan/Edições do Senado Federal), e IBGE

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