História - Goiás (GO)

Em 1683, Bartolomeu Bueno da Silva, a frente de numerosa bandeira da qual fazia parte seu filho, de igual nome, chegou até o rio das Mortes, seguindo o roteiro que Manuel Correia traçara em 1647. Ali, com o auxílio de um guia indicado pelo bandeirante Pires de Campos atingiu as cabeceiras do rio que depois se chamou rio Vermelho. No mesmo local, Bartolomeu usou a artimanha do prato de aguardente com fogo para impressionar os índios, que lhe deram o nome de  "Anhanguera - o diabo velho". 

Cerca de quarenta anos depois, Bartolomeu Bueno da Silva Filho foi incumbido, pelo governo de São Paulo, de chefiar uma bandeira formada por cem homens, para localizar o lugar onde estivera com seu pai. Ele encontrou a aldeia dos índios Guaiases (ou Goiás), e vestígios da roça cultivada pelo Anhanguera e, em 1726, fundou o arraial da Barra (atual Buenolândia). No ano seguinte (1727, o bandeirante fundou o Arraial de Sant’Anna (primeiro nome da cidade), às margens do rio Vermelho.

A partir de então, ocorreu a ocupação por mineradores com a construção de casas próximo ao local de trabalho e da Capela de Sant’Anna, além da abertura dos caminhos que desenhariam as futuras ruas do local. Em 1729, o arraial foi elevado à freguesia e o Largo da Matriz de Sant’Anna a sediar edificações de caráter definitivo, compondo a área nobre do núcleo. Em 1739, dom Luiz de Mascarenhas elevou o Arraial de Sant’Anna à categoria de vila, com o nome de Vila Boa de Goiás. Dez anos depois, em 1749, Vila Boa é elevada a capital da Província de Goiás.  

A cidade se desenvolveu entre morros, ao longo do rio Vermelho. Na sua margem direita, entre os morros do Cantagalo e de Santa Bárbara, possui ocupação de caráter popular, onde se destacam a Igreja do Rosário, originalmente reservada aos escravos, a Igreja de Santa Bárbara, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo e a Igreja de Nossa Senhora da Abadia. Na margem esquerda, limitada pelos morros de Dom Francisco e do Chapéu do Padre, encontram-se os edifícios oficiais mais representativos, como a Igreja Matriz de Santana (atual Catedral), o Palácio do Governo (Conde dos Arcos), o Quartel do Vinte, a Casa de Fundição, a Casa de Câmara e Cadeia (atual Museu das Bandeiras) e o Chafariz de Cauda. Ali também está o núcleo residencial histórico e a Praça do Mercado, que configuram esse conjunto urbano.

O seu traçado urbano é um exemplo do desenvolvimento orgânico de uma cidade mineradora adaptada às condições do sítio. Apesar de modesta, tanto a arquitetura pública quanto a privada formam um conjunto harmonioso, graças ao coerente uso dos materiais locais e das técnicas aplicadas. A cidade é um raro e genuíno documento da maneira como os exploradores do território, em uma situação isolada, adaptaram os modelos de planejamento e construção vigentes na metrópole portuguesa às realidades da região tropical.

A expansão para o Centro-Oeste do Brasil significou o surgimento de cerca de 500 vilas, arraiais e povoados, edificados em terra (adobe, taipa de pilão, pau-a-pique). Entretanto, essa técnica vernacular bandeirista desapareceu quase completamente dessas regiões, salvo alguns remanescentes. Nela, a arquitetura foi também ajustada à ausência de técnicos, arquitetos, mestres de ofícios, o que significou a simplificação dos modelos arquitetônicos transportados, mediante o uso de possíveis desenhos e, principalmente, na repetição pela memória ou pela lembrança dos exemplares paulistas.  

Após 1770, durante o declínio da mineração, ainda surgiram grandes edificações, como as das igrejas de Nossa Sra. da Boa Morte, do Carmo, da Abadia, de São Francisco de Paula e de Santa Bárbara, além do Chafariz da Boa Morte. O ano de 1782 marcou a criação da planta, com ampliação de ruas e um código de posturas. Ao ser elevada a cidade, em 1818, passou a ser chamada Goiás. É um bom exemplo de uma cidade mineradora dos séculos XVIII e XIX que permaneceu intacta, incluindo seu meio ambiente natural. As poucas construções que foram edificadas a partir do século XIX fizeram uso de grande parte das técnicas e materiais construtivos tradicionais e suas volumetrias e estilos não competem com a integridade do lugar. 

Na década de 1930 - com a transferência, em 1937, da capital do Estado para Goiânia, cidade projetada e localizada mais a sudoeste da região -, a atmosfera bucólica de Goiás foi preservada: as ruas de pedra, as pontes sobre o rio Vermelho, as casas em sua maioria térreas, as igrejas simples e, emoldurando esse cenário, os morros com vegetação nativa e o perfil da Serra Dourada. Manteve o equilíbrio entre o patrimônio cultural e o natural, testemunho do binômio Homem-Cerrado em sua correta acepção.

Em consequência da transferência da capital e com a mudança de pessoas ligadas à administração pública e ao comércio, a decadência econômica e social se abateu sobre o local. Atualmente, a cidade de Goiás constitui-se no único e último testemunho íntegro, autêntico e original exemplo de conjunto urbano bandeirante existente. O seu traçado urbano é um exemplo do desenvolvimento orgânico de uma cidade mineradora adaptada às condições do sítio. Apesar de modesta, há um conjunto arquitetônico harmonioso, graças ao coerente uso dos materiais locais e das técnicas vernaculares aplicadas. 

As três principais praças da cidade, que recebem a designação de largo, existem desde o início do aglomerado. O primeiro e mais antigo é o Largo do Rosário, em alusão à igreja de mesmo nome pertencente à Irmandade dos Pretos. O Largo da Matriz, também conhecido como Largo do Palácio, é onde os primeiros exploradores erigiram a pequena capela dedicada à Sant'Anna. O mais amplo espaço público é o Largo da Cadeia, mais conhecido como Largo do Chafariz. 

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