Concurso Sílvio Romero - Edição 2012

Ao todo, 31 monografias foram recebidas na edição 2012 do Concurso Sílvio Romero. Dessas, nove foram desclassificadas por não cumprirem as exigências do concurso. Como previa o edital, dois trabalhos foram premiados e três receberam menções honrosas.

1º lugar: Durval Muniz de Albuquerque Jr (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) - A feira dos mitos: a fabricação do folclore e da cultura nordestinos (Nordeste 1920 - 1950)

O objetivo foi investigar em que momento e em que condições históricas se deu a emergência da ideia de cultura nordestina. Por que sempre que se fala, se escreve ou se tenta mostrar o que é a cultura regional nordestina somos remetidos a um conjunto de manifestações culturais, matérias e formas de expressão ligadas a uma dada forma de organização social, a uma dada sociabilidade, aquela que antecedeu as relações capitalistas de produção, da sociedade burguesa e da sociedade urbano-industrial? Tratou-se de analisar como se constituiu uma forma de ver e dizer o regional que o confina a um tempo histórico em oposição ao urbano, moderno industrial. Além de ser pensada como sendo uma cultura rural, artesanal, folclórica, tradicional, a cultura nordestina quase sempre remete para as manifestações ditas como populares.

2º Lugar: Valéria Leite de Aquino (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - Arte, aprendizado e experiência: a construção do “ser figureiro” em Taubaté, em São Paulo

Em perspectiva etnográfica e histórica, o trabalho analisou os figureiros de Taubaté (SP) e sua produção artesanal. Como esse mundo social, articulado em torno da produção de um repertório característico de peças em cerâmica figurativas, foi se constituindo e se transformando a partir de uma rede de cooperação e negociação entre vários agentes sociais, que culminou com a circunscrição da identidade social do “ser figureiro”. Análise das narrativas de memória coletiva acerca da constituição desse artesanato característico e as disputas existentes dentro do grupo de artesãos, em especial desde a criação da Casa do Figureiro, em 1993. “Figureiros tradicionais” e “novos figureiros” são categorias nativas que delineiam o conjunto de representações que organizam e elaboram permanentemente a experiência do fazer artesanal. O exame de tais categorias, que expressam tensões e conflitos, desvendou o processo de construção e de negociação do “ser figureiro”. Nesse processo, estão em jogo formas de aprendizagem e de experiências centrais na articulação desse grupo social e na maneira como são enfrentados os processos de mudança em curso.

1ª Menção honrosa: Cristina Betioli Ribeiro (Universidade Estadual de Campinas) - Um norte para o romance brasileiro: Franklin Távora entre os primeiros folcloristas

Estudo e análise do conjunto de romances de Franklin Távora, denominado por ele de “literatura do Norte”, com o objetivo de mostrar em que medida o autor cearense se vale da cultura popular, das memórias e da cor local nortistas como instrumentos para fundar história e literatura nacionais. Nessa perspectiva, apresentamos as principais discussões sobre folclore e nacionalidade, as ideias fundamentais da Escola de Recife e a interação do romancista com o pensamento da “geração de 70” do século XX. Além da trajetória do escritor, o propósito é examinar o seu conhecido embate com José de Alencar, travado nas Cartas a Cicinato, e os métodos de composição que foram sendo sedimentados na sua prosa de ficção, ao longo de suas críticas e no seu projeto literário. Por fim, serão apresentadas as análises dos cinco romances da literatura do Norte: O cabeleira, O matuto, Lourenço, Um casamento do arrabalde e O sacrifício.

2ª Menção honrosa: Juliana Pérez González (Universidade de São Paulo) - Da música folclórica à música mecânica: uma história do conceito de música popular por intermédio de Mário de Andrade

A partir da revisão da obra musicológica do intelectual brasileiro Mário de Andrade (1893-1945) foram estudadas as características do conceito de música popular. Vislumbraram-se as complexidades que intervieram na construção desse conceito polissêmico por meio da comparação entre o pensamento musical de Mário de Andrade e de alguns colegas latino-americanos da primeira metade do século 20. A pesquisa diferenciou entre o conceito de música popular, herdeiro da visão de mundo do romantismo oitocentista, e o surgimento de outro significado relacionado com a música que circulava nas cidades e que era difundida pelos modernos meios de comunicação eletrônicos. Com o passar do século 20, esse novo tipo de música popular urbana distanciou-se cada vez mais da noção romântica de música popular, e contribuiu para tensões no interior do conceito. A pesquisa levou ao campo da historiografia musical latino-americana as discussões e debates historiográficos, posteriores à década de 1970, acerca da construção da cultura popular derivada de uma elite acadêmica.

3ª Menção honrosa: Fábio Henrique Ribeiro (Universidade Federal da Paraíba) - Performance musical dos Ternos de Catopês de Bocaiúva (MG)

Pesquisa realizada junto aos ternos de catopês da cidade de Bocaiúva, em Minas Gerais. Os catopês são grupos pertencentes à manifestação cultural do Congado, uma expressão dramático musical do catolicismo popular de origem afro-luso-brasileira. A investigação buscou uma construção do conhecimento a respeito da performance musical dos grupos, guiando-se pelo objetivo geral de apresentar, discutir e analisar os principais aspectos sonoros e culturais que a caracterizam. Suportes teóricos nas áreas de etnomusicologia, antropologia e outras áreas afins tiveram o intuito de sustentar as escolhas metodológicas e interpretativas. A parte empírica da pesquisa baseou-se em trabalho de campo, por meio de observação, entrevistas, questionários e registros em áudio, vídeo e fotografias. A performance musical dos catopês revela-se muito mais do que meio expressivo de concepções e experiências, apontando para uma perspectiva de performance transformadora da realidade. Assim, os elementos estéticos da música fundem-se com sua conjuntura performática delineando as práticas rituais, as relações com o sagrado, com os ancestrais, com os membros da Igreja e com a sociedade em geral.

Comissão julgadora:
Beliza Aurea de Arruda Mello, doutora em Literatura Brasileira, professora associada da Universidade Federal da Paraíba, Izabela Maria Tamaso, doutora em Antropologia Social professora adjunta 1 da Universidade Federal de Goiás, Renata de Sá Gonçalves, doutora em Antropologia Social, professora adjunta da Universidade Federal Fluminense, Vincenzo Cambria, doutor em Etnomusicologia, pesquisador do Laboratório de Etnomusicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro; e, como representante do Iphan, Maíra Torres Correa, mestre em História Social pela Universidade Federal de Goiás, pesquisadora da Coordenação de Pesquisa e Documentação (Copedoc) do Iphan/ Brasília.

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