História - Paraty (RJ)

Desde o início século XVI, portugueses vindos da Capitania de São Vicente se instalaram na região e, com a descoberta do ouro em Minas Gerais, o local se tornou ponto obrigatório para os que seguiam do Rio de Janeiro em direção às minas. O povoado era o único local por onde a Serra do Mar podia ser transposta: havia uma antiga trilha dos índios Guaianás para alcançar o Vale do Paraíba (Taubaté - Pindamonhangaba - Guaratinguetá) e seguir para os sertões das minas de ouro. Martim Correia de Sá, filho do governador Salvador de Sá, trilhou esse caminho à frente de 700 portugueses e 2.000 índios Tamoios. 

O primeiro núcleo de povoamento surgiu em um morro ao norte do rio Perequê-Açu. Em princípio do século XVII, colonos vindos de São Vicente se instalaram neste local e ergueram a Capela de São Roque. Posteriormente, seus moradores transferiram-se para local mais favorável e construíram, por volta de 1646, uma capela em homenagem a Nossa Sra. dos Remédios. A povoação foi transferida para a baixada, na margem direita do Perequê-Açu, próximo ao mar, onde foi construída a nova Igreja Matriz Nossa Sra. dos Remédios. Surgiu, assim, um dos pontos geradores da futura povoação, que cresceu lentamente, se estendendo pelas ilhas próximas. 

Em 1660, o povoado foi elevado à categoria de vila e, nesse mesmo ano, por ordem do governador Benevides abriu-se o primitivo caminho dos Guaianás ("caminho único para o sertão e minas de serra à cima"). O capitão Domingos Gonçalves de Abreu (paratienese) rebelou-se contra a Vila de Angra dos Reis da Ilha Grande, a cuja jurisdição estava sujeito o povoado de Paraty, requereu diretamente ao capitão-mor da Capitania de São Vicente a sua elevação à categoria de vila, e ergueu o Pelourinho (símbolo de autonomia e autoridade).

Durante sete anos, a Câmara de Angra dos Reis lutou contra esse ato de rebeldia e, em 1667, a Coroa Portuguesa reconheceu a autonomia conquistada pelos revoltosos de Paraty. Um paratiense, o capitão Francisco do Amaral Gurgel, organizou e custeou um reforço de 500 homens e 80 escravos em defesa da cidade do Rio de Janeiro, atacada e ocupada pela esquadra francesa do corsário René Duguay-Trouin (1711). Gurgel negociou o resgate exigido pelos franceses para se retirarem, no valor de 610 mil cruzados, mil caixas de açúcar e 200 bois. 

Graças a sua situação de caminho único para o Vale do Paraíba e Minas Gerais, para quem vinha do norte, a povoação prosperou rapidamente. Os paulistas do vale desciam a serra com os produtos de sua lavoura para negociá-los e ali adquirir os artigos de que necessitavam. O Porto de Paraty era muito frequentado, com grande comércio de café, arroz, milho, feijão, aguardente e farinha. Por ali, escoava-se grande parte do ouro de Minas, tanto que uma Carta Régia,  em 1703, criou, no local, um Registro de Ouro, extinguindo todos demais, salvo o Registro do Porto de Santos.

O Registro de Ouro de Paraty tinha como função calcular os impostos e examinar os passageiros, evitando o contrabando, e fundir o minério em barrotas com o cunho real, sinal do quinto que se pagava a Portugal. A subsequente proibição de passagem de viajantes da região das minas provocou grande impacto na região, determinando o atrofiamento da área cultivada e mesmo da área edificada. Em 1715, diante da grita geral do povo paratiense, o primitivo caminho foi reaberto ao tráfego e, em 1722, ocorreu a fundação da primeira Capela de Santa Rita, junto ao rio Patitiba. 

Após a abertura do novo caminho do Rio de Janeiro para Minas Gerais, durante a segunda década do século XVIII, Paraty sofreu o primeiro declínio. A viagem passou a ser feita pela Serra dos Órgãos - de Paraíba do Sul a Borda da Campo (Barbacena) -, o que encurtava para 15 dias a jornada para os sertões do ouro. Mesmo assim, a cidade continuou sendo um importante porto marítimo, até fins do século XIX, onde as caravelas que vinham da Europa faziam escala quase obrigatória. 

Paraty foi anexada à Capitania do Rio de Janeiro, em 1827, e elevada à categoria de vila em 1836. Em 1853, o distrito de São João Batista de Mamanguá passou a denominar-se Paraty Mirim e foi elevado à cidade com a denominação de Paraty, em 1844. Companhias líricas europeias se apresentavam no teatro local, além de atores nacionais como João Caetano, e continuavam a chegar imigrantes às suas terras férteis. Na década de 1860, ainda existiam 12 engenhos e 150 fábricas de aguardente, na região. 

Com a abolição da escravatura, em 1888, houve o colapso de sua economia, baseada no trabalho escravo e na cultura da cana-de-açúcar e do café. O isolamento geográfico durou cerca de cem anos e resultou na sua estagnação econômica. Somente no século XX, na década de 1970, com a construção da rodovia Rio–Santos, Paraty voltou a se integrar à nova economia da região. A rodovia permitiu o acesso do público a um dos mais íntegros sítios históricos brasileiros e à maior área contínua preservada da Mata Atlântica, em todo o Brasil. 

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