Rodrigo Melo Franco de Andrade

Foto: Marcel Gautherot/Acervo IphanRodrigo Melo Franco de Andrade nasceu em 17 de agosto de 1898, em Belo Horizonte (MG). Filho mais velho de Rodrigo Bretas de Andrade e Dália Melo Franco de Andrade, ele herdou de seus pais o gosto pelas letras e artes. Alfabetizado em casa, ele continuou os estudos no Ginásio Mineiro e no Lycée Janson de Sailly, em Paris, onde morou com o tio Afonso Arinos. Foi nesse período que ele conviveu com intelectuais, escritores e artistas plásticos brasileiros, como Graça Aranha, Tobias Monteiro e Alceu Amoroso Lima, entre outros.

De volta ao Brasil, dedicou-se ao curso de direito, iniciado na Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro. Em razão das constantes mudanças, Rodrigo estudou ainda em Belo Horizonte e São Paulo, onde teve a oportunidade de conhecer inúmeros intelectuais em evidência na época. Ele aproximou-se de Aníbal Machado, que o estimulou a dedicar-se à literatura, assim como Mílton Campos, João Alphonsus, Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava, Abgar Renault e Oswald de Andrade, entre outros.

Em São Paulo, ele trabalhou como bancário no período da graduação. Já no Rio de Janeiro, atuou como oficial de gabinete da Inspetoria de Obras contra as Secas. Em 1921, ele iniciou a atividade jornalística, colaborando em O Dia. Nos anos seguintes, essa contribuição se estendeu para vários jornais e revistas, como O Estado de Minas, A Manhã, Diário da Noite, O Estado de São Paulo, O Cruzeiro, Diário Carioca, Módulo e O Jornal. Ele discorria sobre política, jornalismo, imprensa, atividade pública, educação, literatura, caricatura e humor. Amigo de Mário de Andrade e outros artistas de destaque na época, Rodrigo se identificou com o movimento modernista de 1922 e deu espaço para esses ideais na Revista do Brasil – comprada por Assis Chateaubriand do escritorMonteiro Lobato -, quando se tornou editor-chefe da publicação em 1926.

Durante algum tempo, ele conciliou o jornalismo com as atividades de advogado, trabalhando no escritório dos seus tios Afrânio e João de Melo Franco. Na administração pública, foi chefe de gabinete do ministro dos Negócios da Educação e Saúde Pública, Francisco Campos, e do secretário-geral de Viação e Obras Públicas da Prefeitura do Distrito Federal. Em dezembro de 1930, quando já estava casado com Graciema Melo Franco de Andrade, indicou o arquiteto Lúcio Costa para a direção da Escola Nacional de Belas Artes.

Anos depois, em 1936, o ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, aprovou o projeto de Mario de Andrade, que propôs a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan). Mario, que até então dirigia o Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, indicou o nome de Rodrigo Melo Franco de Andrade para a direção do Sphan. Ele assumiu a direção oficialmente em 1937 e durante 30 anos dedicou-se à preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. A partir daí, a proteção dos bens patrimoniais do país passou a ser sua atividade principal, deixando em segundo plano a literatura, o jornalismo e a advocacia.

A implantação e consolidação do serviço exigiu a redação de uma legislação específica, com a introdução da figura de tombamento; além da preparação de técnicos para atuarem na área; realização de inventários, estudos e pesquisas; execução de obras de conservação, consolidação e restauração de monumentos; organização de arquivo de documentos e dados colhidos em arquivos públicos e particulares; reunião de acervo fotográfico; e estruturação de biblioteca especializada. Politicamente, também foi necessário lutar pela sobrevivência institucional junto a políticos e governantes e se empenhar por uma consciência nacional de preservação do patrimônio cultural do país.

A estruturação da instituição permitiu, ainda, a recuperação e proteção de pinturas antigas, esculturas e documentos, além da criação de museus regionais e nacionais, como o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (1938); das Missões, em Santo Ângelo (1940); do Ouro, em Sabará (1945); do Diamante, em Diamantina (1954); da Abolição, em Recife (1957); o Regional de São João del Rei (1963), dentre outros.

Essa primeira fase do Iphan, em que Rodrigo Melo Franco de Andrade esteve no comando, é conhecida como a fase heroica, já que além de contribuir para o fortalecimento da instituição, também foi necessário estabelecer uma série de medidas para preservar o patrimônio histórico e cultural do Brasil. Foi nesse momento que ele recebeu a colaboração de importantes nomes brasileiros, como Oscar Niemeyer, Luiz de Castro Faria, Sérgio Buarque de Holanda, Heloísa Alberto Torres, Vinícius de Morais, Gilberto Freyre, Carlos Drummond de Andrade, Renato Soeiro e Lúcio Costa. Também se dedicar á instituição Lígia Martins Costa, Sílvio Vasconcelos, Augusto Carlos da Silva Teles, Alcides da Rocha Miranda, José de Sousa Reis, Edson Motta, Judith Martins, Paulo Thedim Barreto, Miran de Barros Latif, Luís Saia, Airton Carvalho e Edgar Jacinto da Silva, entre outros.

A experiência jornalística de Rodrigo também foi usada na instituição, já que ele criou a Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a fim de divulgar as ações do então SPHAN. A primeira edição circulou em 1937. Os primeiros números apresentavam a proposta de consolidação de um novo espaço institucional e intelectual que demandava novas abordagens, adequadas aos novos objetos eleitos pelos que se dispunham a pensar e atuar na preservação desses bens culturais.

A defesa do patrimônio do Brasil também foi fonte para várias obras de Rodrigo Melo Franco de Andrade, como Brasil: Monumentos Históricos e Arqueológicos (1952), Rio Branco e Gastão da Cunha (1953) e Artistas Coloniais (1958). Entre os artigos publicados nos jornais brasileiros, destaca-se Apontamentos para a história da arte no Brasil: a pintura mineira anterior a 1750, onde Rodrigo explorou vida e obra de artistas, estudos classificatórios da arquitetura civil colonial, sistemas construtivos tradicionais e temas correlatos aos acervos representativos da história nacional.

Em 1967, Rodrigo deixou a presidência do Sphan, mas não se afastou de vez da instituição, pois permaneceu presente como integrantes do Conselho Consultivo, até o dia de sua morte, em 11 de maio de 1969. Inúmeros textos escritos por Rodrigo foram reunidos e publicados, pelo Sphan/Fundação Pró-Memória, sob os títulos Rodrigo e Seus Tempos: coletânea de textos sobre artes e letras (1985) e Rodrigo e o Sphan: coletânea de textos sobre o patrimônio cultural (1987).

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