Luiz de Castro Faria

Luiz Castro de Faria foi um antropólogo do século XX, que teve grande atuação também no campo da arqueologia. Dedicado à pesquisa, o trabalho dele foi desbravador pela valorização da pré-história brasileira e preservação dos sítios arqueológicos. Ele também contribuiu para a formação de várias gerações de especialistas e professores em arqueologia e antropologia. No entanto, a atuação de Castro Faria não se limitou à academia, mas chegou também à gestão pública através de propostas para a conservação do patrimônio arqueológico brasileiro.

Nascido em 1913, em São João da Barra, no norte do Estado do Rio de Janeiro, Castro Faria deu os primeiros passos na arqueologia na década de 30, com atuação no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialmente com a criação do Centro de Estudos Arqueológicos. Na Escola de Museologia do Museu Histórico Nacional, ele recebeu uma formação em arqueologia, tendo como orientadores Angione Costa, Bastos d'Ávila, Pimenta de Melo, Raimundo Lopes e Mattoso Câmara Junior, além da forte influência de sua mentora na Divisão de Antropologia e Etnografia do Museu Nacional, Heloísa Alberto Torres, que fez renovar o interesse dele pelo estudo do passado pré-histórico.

A partir daí, ele intensificou as pesquisas de campo em etnografia e arqueologia, participando da Expedição à Serra do Norte - que cobriu o trecho do Mato Grosso ao Amazonas -, bem como de pesquisas de campo no Vale do Paraíba, Ilha da Convivência e São João da Barra (RJ); no Vale do Itajaí (SC); Pantanal (MT); e nas grutas e abrigos da encosta da Serra do Mar (ES), entre outros locais de estudos.

Ainda na condição de naturalista interino, chefiou a Divisão de Antropologia e Etnografia do Museu Nacional entre 1942 e 1944, quando foi nomeado naturalista efetivo. Nesse período, ele viajou para Laguna (SC) para analisar o sambaqui da Roseta, além de empreender pesquisas arqueológicas em Santa Maria Madalena, Campos e Saquarema (RJ), assim como em Minas Gerais, São Paulo e Espírito Santo. Nesse último, ele iniciou um planejamento de pesquisas sobre sambaquis. Foi nesse momento também que Castro Faria começou a conceber medidas concretas para a preservação dos sítios arqueológicos em todo o território nacional, já que eles estavam sendo duramente atingidos pela exploração econômica predatória para a fabricação de vários produtos.

Nos anos seguintes, ele aprofundou os estudos, que constituíram importante material base para ações que viriam a ser tomadas pelo poder público para proteger os sambaquis. Inclusive, em 1951, Castro faria dirigiu um apelo ao Conselho Nacional de Pesquisas pela “proteção imediata dos sambaquis, jazidas arqueológicas de inestimável valor para o estudo da pré-história brasileira”.

A década de 50 permitiu um avanço na formação e atuação profissional de Castro Faria. Além de dar continuidade às pesquisas no Brasil, uma bolsa de estudos concedida pela Unesco na condição de pesquisador, entre 1952 e 1957, e na categoria de chefe de pesquisa, de 1958 a 1962, permitiu a troca de experiências em vários países como França, Inglaterra, Suíça, Espanha, Portugal e Áustria. Lá, ele se aperfeiçoou no campo da antropologia, conheceu outros métodos de pesquisa arqueológica e apresentou suas observações sobre os sambaquis do Brasil. O antropólogo também foi aos Estados Unidos, onde permaneceu por três meses em visitas a algumas das mais conceituadas universidades norte-americanas, com a de Michigan e de Harvard, em Boston.

Em 1954, Castro Faria integrou o grupo que fundou a Associação Brasileira de Antropologia, da qual se tornou presidente entre os anos de 1954 e 1956 e eleito novamente entre 1978 a 1980.  

As viagens internacionais resultaram na análise da legislação de outros países para a proteção de sítios arqueológicos, conhecimento que viria a ser usado efetivamente nos anos seguintes. De fato, outros dois pesquisadores – Loureiro Fernandes, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Paraná, e Paulo Duarte, diretor da Comissão Pré-Histórica de São Paulo –, que também trabalhavam com sambaquis, já se movimentavam com vistas da criação de dispositivos legais para proteção desses elementos da pré-história brasileira. Duarte, inclusive, conseguiu articular uma audiência com o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, para apresentar o assunto. O resultado: ele determinou a formação de um grupo de trabalho para elaborar um anteprojeto de lei.

O grupo reuniu vários especialistas, como Paulo Duarte, Loureiros Fernandes e o diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rodrigo Melo Franco de Andrade. De fato, Castro não integrou essa equipe, mas foi uma minuta elaborada por ele no trabalho “O problema da proteção aos sambaquis”, publicado apenas em 1959, que fundamentou a Lei. O texto redigido pela comissão passou por ajustes do diretor-geral do Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), João Guilherme de Aragão, e, em seguida, foi encaminhado por Kubitschek ao Congresso Nacional. A Lei 3.924 só foi sancionada em julho de 1961, pelo presidente Jânio Quadros.

Dois anos depois, Luiz de Castro Faria integrou a comissão encarregada de elaborar o anteprojeto da regulamentação da referida norma, com Rodrigo de Melo, Loureiro Fernandes, entre outras autoridades. Esse texto nem chegou a ser levado para deliberação do Congresso Nacional, porque em 1964, o golpe militar desarticulou as forças políticas que eram favoráveis à aprovação da Lei. Apesar disso, as recomendações da comissão até hoje são consideradas nas medidas de preservação do patrimônio arqueológico no país. Nesse mesmo ano, Castro Faria tomou posse como diretor do Museu Nacional da UFRJ, função exercida até 1967.

Nos anos seguintes, o vínculo de Castro Faria com a arqueologia foi diminuindo, na medida em que ele se dedicava cada vez mais à antropologia. Apesar disso, enquanto Rodrigo Melo Franco de Andrade esteve à frente do Dphan, posteriormente Iphan, Castro Faria permaneceu sendo consultado quanto às medidas a serem realizadas quando o assunto era arqueologia. Mas da década de 70 em diante, especialmente após a aposentadoria de Melo Franco, o distanciamento de Castro se acentuou, já que seu interesse acadêmico voltava-se exclusivamente à antropologia.

A partir desse ponto, as pesquisas de campo não deixaram de fazer parte do trabalho de Castro Faria. Muito pelo contrário, ele participou de diversas expedições pelo Brasil. Porém, ele dedicou a maior parte do seu tempo para a vida acadêmica, através da ministração de cursos e conferências e orientação de teses, assim como na publicação de artigos e livros sobre arqueologia e antropologia.  

Durante a vida profissional, ele recebeu vários reconhecimentos, como os títulos de Benemérito pelo conselho de associações e entidades de São Cristovão, em 1965; de Sócio Benemérito do Centro Brasileiro de Arqueologia, em 1967; de professor emérito da Universidade Federal Fluminense, em 1979, e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1984; além da medalha de Honra ao Mérito Científico, concedida pela Presidência da República, em 1999.

Castro Faria também foi membro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Sociedade Brasileira de Genética, da Sociedade Brasileira de Anatomia e da Sociedade Brasileira de Geografia. Dentre as associações estrangeiras pertenceu à American Anthropological Association, USA; ao Royal Anthropological Institute of Great Britain e Ireland; à Societé d'Anthropologie de Paris; à Societé d'Ethnographie Française; à American Association of Physical Anthropology e à Assotiation Latino Americana de Sociologia.

Fontes:
Acervo Histórico Luiz de Castro Faria, do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast)
Centro de Memória do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

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