Cuiabá (MT)

O centro histórico de Cuiabá reúne os primeiros monumentos e o casario construído nas vias urbanas abertas a partir da descoberta de ouro, em 1721, que compõem o conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico de tombado pelo Iphan, em 1973. A arquitetura da área urbana inicial, como em outras cidades históricas brasileiras, é tipicamente colonial, mas com o tempo sofreu modificações e adaptações a outros estilos (neoclássico e eclético, entre outros). O centro relaciona-se com a configuração urbana construída até o final do período colonial e corresponde à área central da capital do Estado de Mato Grosso.

Os edifícios do núcleo tombado representam a origem e ocupação da cidade desde o século XVII até meados do século XX. Nessa área, estão as ruas mais antigas e equipamentos que documentam momentos marcantes da história da cidade, tanto no que se refere aos materiais e técnicas de construção quanto aos estilos. As antigas ruas de Baixo, do Meio e de Cima (atuais ruas Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino, respectivamente) e suas travessas ainda mantêm bem preservadas as características arquitetônicas das casas e sobrados.

Em 1727, o Arraial do Cuiabá e/ou Minas Novas, recebeu o título de Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, instalando-se ali a administração pública. Nos anos seguintes, o espaço de poder foi consolidado no quadrilátero do Largo da Matriz, com a implantação do pelourinho, das casa de câmara e cadeia, da residência dos ouvidores e juízes-de-fora. A capital de Mato Grosso foi fundada em decorrência da mineração de ouro no início do século XVIII que, apesar de intensa, só durou de 1722 a 1730. A fase de mineração deu-se apenas nessa década, mas definiu os eixos de ocupação do povoado, logo elevado a vila e, por fim, a capital.
 
Com a descoberta de ouro na região do Guaporé (1730-1734), a Vila de Cuiabá assumiu uma função de "metrópole" e apresentou, durante toda a segunda metade do século XVIII, desempenho econômico e população superiores aos de outras vilas da região. A mineração deu destaque à cidade, que se firmou como centro de garimpeiros e núcleo administrativo das novas frentes vizinhas de exploração aurífera. Outro fator importante para o desenvolvimento da vila - sua localização geográfica no Centro-Oeste, em uma área de fronteira - fez com que a Coroa Portuguesa promovesse a colonização do lugar e evitasse o avanço da Coroa Espanhola.

De 1807 a 1821, ao espaço urbano foram acrescentadas novas construções, como a Santa Casa de Misericórdia, um espaço para exercícios militares, o Campo d'Ourique, em torno do qual residências foram construídas. Em 1818, Cuiabá foi elevada à categoria de cidade e, em 1835, passou a Capital da Província. Após a Guerra do Paraguai (1864 - 1870) com a abertura do rio Paraguai à navegação, a cidade ganhou novo dinamismo, recebeu melhorias urbanas, como jardins com chafarizes e coretos.

A chegada de capitais e mercadorias europeias foi acompanhada de mão de obra qualificada:  engenheiros e mestres de obras dotaram Cuiabá de edificações, fachadas, desenhos de praças, calçamentos que rompiam definitivamente com os modelos coloniais. O processo de expansão, interrompido no final do século XIX e início do século XX, foi retomado durante o Estado Novo (1930 - 1945) com a criação da Fundação Brasil Central e, posteriormente, com a fundação de Brasília e o incremento de sua urbanização ocorreu uma descaracterização parcial do núcleo histórico.

Catedral Basílica do Senhor Bom Jesus do Cuiabá - O templo, inicialmente de pau-a-pique, foi construído em 1722 em um  ponto alto da cidade. A Catedral iniciou o processo de urbanização porque, para fundar uma vila era essencial uma igreja. Com o desenvolvimento da vila, o templo passou por várias reformas e reconstruções, ganhou uma segunda torre, deixou de ser Matriz para passar a ser Catedral. Em 1968, a edificação original foi demolida e erigido o templo atual. Localizada em frente à Praça da República, possui imagens do século XVIII como o Senhor Bom Jesus de Cuiabá. No subsolo, onde está a cripta, estão enterradas autoridades da Igreja Católica de Mato Grosso, entre eles o fundador de Cuiabá, Pascoal Moreira Cabral Leme.  

Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito de Cuiabá - Considerada a mais antiga igreja remanescente de Cuiabá - é um dos marcos de fundação da cidade e construída em arquitetura de terra, em torno de 1730, próximo ao córrego da Prainha, onde Miguel Sutil descobriu as minas de ouro que impulsionaram a colonização da região. A fachada típica da arquitetura colonial brasileira guarda a decoração barroca-rococó nos altares, com rica talha dourada e prateada, única com esses detalhes no Brasil. É o palco da Festa de São Benedito, mais longa festividade religiosa do Estado.

Igreja do Senhor dos Passos - Instalada há 214 anos em um recanto discreto do Centro Histórico, guarda muitas histórias e lendas que se confundem e revelam muitos aspectos do folclore, das crendices e do espírito religioso da Cuiabá antiga. Sua planta é típica das igrejas do período colonial, dividida em nave e capela-mor. Possui, no entanto, somente um corredor lateral à esquerda e salas ao fundo. Na sua fachada principal, à esquerda, está localizada a alta e esbelta torre sineira. A Igreja do Senhor dos Passos é um dos mais belos e admirados patrimônios de Cuiabá.
 
Palácio da Instrução (Museu Histórico e Biblioteca) - A obra, inaugurada em 1914, seguia a arquitetura da época, com alicerces em pedra canga e cristal, paredes de adobes, com 80 centímetros de largura. Cumpriu sua função de educandário por 57 anos, abrigando as escolas Liceu Cuiabano, Normal, Modelo Barão de Melgaço e o Museu de História Nacional e Antropologia. Também funcionaram no prédio o Arquivo Público e as extintas Secretaria de Interior e Justiça.
 
Memorial da Água - Inaugurado em 2008, depois da revitalização das estações de tratamento de água. Formado por obras dos anos de 1940 e 1970 que continuam em funcionamento, o Memorial ressalta a importância da água na vida urbana, destacando todo o processo tratamento da captação até a distribuição, além da necessidade da preservação ambiental.
 
Antigo Arsenal da Guerra - Criado, com o nome Real Trem de Guerra, por Carta Régia de D. João VI, em 1818, era destinado para o conserto e fabricação de armas militares. Construído entre 1819 e 1832, quando foi inaugurada. A obra utilizou técnicas construtivas e materiais da região para erguer um edifício neoclássico, nos moldes franco-lusitanos que caracteriza-vam a maioria das construções oficiais do Rio de Janeiro. O edifício foi ampliado e adaptado em 1848, com a construção dos varandões dos flancos. As insígnias da Casa Militar estão nos frisos em relevos simétricos. As cores ocre para as áreas planas e branco para os relevos acentuam a composição e tornam ainda mais expressiva a linearidade clássica.
 
Museu do Rio Cuiabá - Construído em 1899 para abrigar o Mercado do Peixe, o prédio foi recuperado em 1999, retomando suas características originais e passou a abrigar o Museu do Rio Cuiabá Hid Alfredo Scaff, em homenagem ao descendente árabe, morador da região e principal negociante do antigo mercado e que explorou por muito tempo a navegação fluvial no rio Cuiabá. A construção Mercado do Peixe, em 1899, fazia parte de um complexo de casarios nas ruas e becos, com nomes interessantes como Beco Quente, Beco da Confusão e Rua da Lama.

Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (MISC) - Instalado no antigo sobrado do Alferes Joaquim Moura, na rua Voluntários da Pátria, nº 75, e inaugurado em 2006, o Museu abriga documentos fotográficos e sonoros que retratam o cotidiano da cidade, desde 1910. As imagens foram capturadas pelos fotógrafos Eurípedes Andreato (cerca de oito mil fotos) e Lázaro Papazian (mais de 25 mil). Há, também, grande quantidade de discos em vinil, fitas de vídeo VHF e fitas cassete. Localizado no Centro Histórico, o museu ocupa uma das construções mais significativas da cidade.

Museu de Pré-história Casa Dom Aquino - Construído em 1842, em estilo colonial e formato de U, o imóvel possui 12 cômodos e fachada voltada para o rio Cuiabá, a poucos metros de distância. Residência conhecida por alguns historiadores como a Casa Predestinada, pois nela nasceram duas personalidades ilustres do Estado: Dom Aquino (bispo, arcebispo, governador de província, escritor e poeta) e Joaquim Murtinho (político, engenheiro e médico, precursor da Medicina Homeopática no Brasil). O museu abriga uma exposição permanente de Arqueologia e Paleontologia e uma reserva técnica de mais de cem mil peças. Entre os fósseis estão a preguiça gigante, dinossauros e animais marinho do período que a Chapada dos Guimarães foi mar.
 
Museu Rondon - Criado em 1972 para ser um centro de indigenismo, pesquisa e divulgação das culturas indígenas em Mato Grosso, possui um acervo com mais de mil peças, incluindo adornos plumários, indumentárias, armas, artefatos de ritual mágico, cerâmicas, instrumentos musicais, tecelagem, trançados e utensílios. Farto material fotográfico retrata o cotidiano das aldeias. Seu nome é um tributo ao mato-grossense ao marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, pela sua determinação na defesa dos direitos indígenas. O acervo inclui, ainda, uma casa indígena com redes, terra batida, lenha e fogo. Ao lado do prédio, em área de cerrado, foi construída uma casa indígena no modelo ovalado xinguano, que exigiu dos índios Bakairi a recuperação da sua própria memória.
 
Marco do Centro Geodésico da América do Sul - Cuiabá está localizada na parte mais central da América do Sul, exatamente no seu centro geodésico, sendo, portanto a cidade do coração da América do Sul. O local foi determinado por Marechal Cândido Rondon, em 1909, e confirmado pelo Exército Brasileiro, em 1975. O marco simbólico com as coordenadas gravadas foi construído em alvenaria pelo artesão Júlio Caetano, ainda em 1909. Atualmente, um obelisco com 20 metros de altura, todo em mármore, preserva o marco original, protegido por vidros, na Praça Pascoal Moreira Cabral (15º35’56” de latitude Sul e a 56º06’55” e longitude Oeste). Essa praça era conhecida como Campo d'Ourique, onde espancavam escravos, e realizavam cavalhadas e touradas.

Obras do PAC Cidades Históricas

Restauração:
Casarão de Bém-Bém - Escola de Música
Casarão Barão de Melgaço - IHGMT
Casarão Irmã Dulce - Iphan
Casarão Rua Voluntários da Pátria esquina Eng. Ricardo Franco - Museu da Imagem e do Som
Casarão Rua Sete de Setembro - Casa do Patrimônio
Casarão a Rua Pedro Celestino, 79 - Escritório de Gestão do Centro Histórico
Casarão a Rua Pedro Celestino, 16 (esquina com a Rua Campo Grande – Creche)
Casarão a Rua Pedro Celestino, s/n - Posto Municipal de Apoio à Policia Militar
Casarão da Funai
Igreja Senhor dos Passos

Requalificação:
Praça Dr. Alberto Novis
Praça Caetano de Albuquerque
Praça Largo Feirinha da Mandioca
Praça Senhor dos Passos
Entorno do Casarão do Beco Alto à Rua Pedro Celestino
Praça do Rosário

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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