Jaguarão (RS)

O conjunto histórico e paisagístico de Jaguarão, tombado pelo Iphan em 2011, conserva um patrimônio sem similar em número e estado de conservação, no Rio Grande do Sul, com edificações coloniais, ecléticas, art déco e modernistas. Esse conjunto compreende uma área urbana extremamente bem preservado e íntegro e suas edificações  apresentam importante variação da tipologia, formas de implantação e acabamentos.

O traçado viário da cidade - demasiadamente retilíneo se comparado ao das cidades coloniais brasileiras – decorre, possivelmente, da forte influência espanhola em seu desenvolvimento.  Entre os bens tombados está a Ponte Internacional Barão de Mauá, uma construção do início do século XX, que é o primeiro bem binacional tombado pelo Instituto.

A formação do Centro Histórico está intrinsecamente ligada aos processos de expansão das ocupações portuguesa e espanhola no território sul-americano e às respectivas estratégias para garantir a posse de seus territórios. Durante o período conhecido como União Ibérica (1580-1640), estiveram suspensas essas disputas territoriais. Nessa época, foram descobertas as primeiras minas de prata na região andina e os primeiros caminhos de acesso a elas, a partir da navegação pelos afluentes do rio da Prata.

O início da povoação da região de Jaguarão descende justamente desse contexto. Às margens do rio Jaguarão, no local conhecido como Cerro da Pólvora (atualmente na área urbana da cidade) foi estabelecida uma guarnição militar espanhola. Em seu entorno se desenvolveu a povoação vinculada `as movimentações militares, como ocorreu em outros locais do Rio Grande do Sul. Em seu entorno se desenvolveu a povoação do Espírito Santo do Cerrito de Jaguarão. O local conhecido como Guarda da Lagoa e do Cerrito era um posto fortificado criado pelos espanhóis, situado a seis quilômetros da atual Jaguarão.

Em 1802, devido as questões militares entre Portugal e Espanha, estabeleceram-se, na região, as forças do coronel Marques de Sousa, comandante das tropas portuguesas. Com o término do conflito, a coluna Marques de Sousa retirou-se e, no local, permaneceu apenas uma pequena guarda de 200 homens. A partir do acampamento dessa guarda, se desenvolveu o povoado situado entre o arroio Lagões, o Quartel Mestre e o rio Jaguarão. Em 1812, a povoação foi elevada à freguesia, com o nome de Divino Espírito Santo do Cerrito, e à Vila de Jaguarão, em 1832, e à cidade, em 1855.

Ao longo de sua história, foi palco de disputas territoriais e batalhas entre Portugal e Espanha. No entanto, a população sempre transitou entre os dois lados, atravessando o rio Jaguarão em suas idas e vindas cotidianas. A povoação se formou e desenvolveu voltada para o Uruguai, apesar de separada pelo rio. O comércio de fronteira – em grande parte informal e estabelecido nos laços de parentesco entre os habitantes e nas propriedades rurais que os pecuaristas mantinham nos dois lados da fronteira – garantia a manutenção dos laços culturais que as  decisões  tomadas pelas longínquas cortes de Portugal e Espanha tentavam separar politicamente.

A cidade participou de acontecimentos militares da história do Brasil, como a Revolução Farroupilha (1835) e a Invasão Uruguaia (1865), quando 1.500 caudilhos blancos invadiram e saquearam a cidade, chefiados por Basílio Munhoz. Embora em número reduzido, as forças jaguarenses compostas por cerca de 500 praças, com o auxílio de canhões, resistiram fazendo com que os uruguaios se retirassem. Nessa ocasião, o coronel Manoel Pereira Vargas comandou a defesa da cidade e Jaguarão conquistou o título de “Cidade Heroica”.

Disputas territoriais e economia pecuarista estão gravadas na sua história. Após a Independência do Brasil, quando as fronteiras estavam relativamente bem definidas, ocorreram os conflitos entre a elite pecuarista regional e o Governo Imperial do Brasil, permanecendo a atmosfera militar da qual são emblemáticas as ruínas da Enfermaria Militar e um quartel construído no início do século XX. A tensão entre pecuaristas e o governo deflagrou as revoluções Farroupilha (1835 - 1845) e Federalista (1893 - 1895).

A pecuária - principal produto da Região Sul - com o processamento da carne de gado para a produção de charque, permitiu o estabelecimento de uma classe social economicamente fortalecida no sul do Brasil, mas cujos interesses muitas vezes eram preteridos pelo Governo Central, em favorecimento de interesses econômicos mais bem representados como a cafeicultura, de grande importância para a cultura gaúcha.

Ponte Internacional Barão de Mauá - O tombamento da ponte, em 2011, foi uma decisão inédita no Brasil. Construída entre 1927 e 1930, liga as cidades de Jaguarão (RS) e Rio Branco (Uruguai), e também é reconhecida como Patrimônio Cultural do Mercosul. Pela ponte eram transportados os produtos oriundos da pecuária, principal atividade econômica, que continua importante, na região. Financiada pelo Uruguai em decorrência de uma dívida de guerra com o Brasil e construída por uma empresa brasileira, uniu fisicamente o que era indissociável culturalmente.

Como em outros pontos da fronteira entre o Rio Grande do Sul e o Uruguai, as duas cidades estabeleceram sua interdependência, que se estendia por todo o Sul do Brasil devido à implantação da linha férrea que conectou a malha gaúcha ao porto de Montevidéu (capital do Uruguai). Na época da construção, era a maior obra de infraestrutura em concreto armado da América do Sul e a primeira deste tipo construída entre os países da região com o objetivo de aproximá-los política e economicamente A construção da ponte também representa a resistência das elites pecuaristas gaúchas, em constante disputa inicialmente com a Coroa Portuguesa e, mais tarde, com a administração centralizada no Rio de Janeiro e dominada pelos cafeicultores.

Museu Carlos Barbosa - Antiga residência do ex-governador do Rio Grande do Sul, Carlos Barbosa (1908 - 1913), foi transformada em museu, em 1975. O casarão - construído, em 1886, por Martinho de Oliveira Braga - possui importante acervo com móveis, louças, lustres e máquinas de costura usadas pelas mulheres da família, entre outras peças.  As primeiras lâmpadas e o primeiro telefone da cidade que chegaram foram instaladas na casa e ainda funcionam.

Teatro Politheama Esperança -  O edifício - construído entre os anos de 1887 e 1897, sob o comando português Martinho de Oliveira Braga - possuía depósito de carbureto, combustível de iluminação, e uma cocheira, situada junto à frontaria dos fundos do prédio. A casa de espetáculos movimenta a fronteira desde fins do século XIX. A posição estratégica de Jaguarão permitiu que a cidade tivesse grande efervescência no campo cultural, devido a passagem das companhias que se deslocavam das grandes cidades brasileiras  em direção à Argentina e Uruguai e se apresentavam no local.  No sentido inverso, grupos de artistas da região do Prata chegavam ao município em busca de novos públicos, com espetáculos musicais, dança e dramaturgia.

Obras do PAC Cidades Históricas

Finalização da restauração:
Antiga Enfermaria Militar (Centro de Interpretação do Pampa/Unipampa)
Teatro Esperança

Restauração:
Igreja Matriz do Divino Espírito Santo
Mercado Público Municipal
Antigo Fórum - Casa de Cultura
Antiga Inspetoria Veterinária
Casarão da Prefeitura Municipal
Casarão do Clube Jaguarense
Casarão Clube Social 24 de Agosto
Cine Regente

Requalificação:
Praça Dr. Alcides Marques e Largo das Bandeiras

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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