Ouro Preto (MG)

Ouro Preto é uma das primeiras cidades tombadas pelo Iphan, em 1938, e a primeira cidade brasileira a receber o título de Patrimônio Cultural Mundial, conferido pela Unesco, em 1980. Tal reconhecimento deve-se, principalmente, ao fato da cidade ser um sítio urbano completo e pouco alterado em relação à sua essência:  formação espontânea a partir de um sistema minerador, seguido por uma marcada presença dos poderes religioso e governamental, e fortes expressões artísticas que se destacam por sua relevância internacional.

Seu traçado urbano colonial mantém-se intacto e o mesmo ocorre com os exemplares da arquitetura religiosa e civil mais expressivos, e as suas obras de arte preservadas. Entre o patrimônio protegido está a Igreja São Francisco de Assis (considerada uma obra-prima) e também se destacam igrejas como as de Nossa Sra. do Pilar, da Conceição e do Carmo, o cenário de suas ladeiras de pedras, e o casario branco com suas telhas de barro e esquadrias coloridas.

Ouro, fausto e riqueza estão vinculados à cidade desde sua criação. O grande afluxo do metal semeou cobiça, intrigas e ganância, mas também propiciou enorme desenvolvimento artístico nas letras, arquitetura, pintura e escultura, com algumas características barrocas desenvolvidas unicamente em solo brasileiro. O barroco mineiro nasceu mestiço ao incorporar tendências brasileiras ao barroco e ao rococó europeus.

O surgimento das duas principais Ordens Terceiras do Carmo e São Francisco, entre 1740 e 1760, compostas pelas classes mais abastadas, se reflete na decisão de edificar as igrejas e no valor estético desses monumentos. Isto determinou a construção de algumas obras-primas do barroco e do rococó, nas quais trabalhariam os mestres portugueses e uma primeira geração de artistas mineiros, como o Aleijadinho.
 
Mesmo com a expansão da cidade ao longo das estradas e entorno, a manutenção da escala nas novas edificações manteve, sem alterações visíveis, a paisagem urbana construída nos séculos XVIII e XIX. Do mesmo modo, estão preservados os monumentos da arquitetura religiosa e civil, como oratórios, capelas, pontes e chafarizes. Quanto às edificações de moradia e comércio, modificações internas inevitáveis têm sido permitidas desde que mantida a forma original de seus exteriores.

O valor extraordinário de Ouro Preto, traduzido na paisagem urbana que se consolidou ao longo dos séculos XVIII e XIX, mantém-se perfeitamente legível devido não só à estagnação econômica sofrida pela cidade na primeira metade do século XX, mas, principalmente, pelas medidas de proteção que se seguiram ao seu tombamento. Permanecem igualmente preservadas edificações como os palácios, igrejas, fontes, pontes e a maioria das casas de comércio e residências do período colonial.

História - Principal cidade do Ciclo do Ouro, no Brasil, sua origem está ligada à descoberta do ouro aluvião pelos exploradores Antônio Dias de Oliveira e padre João de Faria Fialho, que ocuparam as margens dos ribeirões e os morros que circundam a cidade, onde o minério era abundante. Fundada em 1698, por bandeirantes paulistas, tornou-se sede da Capitania das Minas Gerais em 1711, quando foi elevada à categoria de vila, com o nome de Vila Rica de Albuquerque.

A cidade, implantada nas encostas de um estreito e sinuoso vale delimitado por duas cadeias de montanhas na região das chamadas Minas Gerais, originou-se do processo de agregação entre os diversos arraiais de garimpo de ouro, ali estabelecidos no início do século XVIII. A riqueza dessas jazidas explica sua primeira denominação (Vila Rica) e o nome que recebeu, em 1720 (Ouro Preto), quando foi elevada à capital da Província das Minas Gerais, criada pela Coroa Portuguesa para administração daquele território.

A partir de meados do século XVIII, em substituição às técnicas de pau-a-pique e adobe, as construções passaram a ser de pedra e cal, expressão da riqueza propiciada pela exploração do ouro e do trabalho escravo. O ouro e o talento de excepcionais artistas como o escultor Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) e o pintor Manoel da Costa Athaíde possibilitaram a construção de monumentos que destacam a cidade na arquitetura mundial, pelo esplendor do admirado barroco mineiro, fruto, entre outros, da genialidade desses seus principais artífices.

Um dos fatos mais importantes da história brasileira, no século XVIII, teve a cidade como cenário: em 1789, ocorreu a Inconfidência Mineira - o movimento pela independência em relação a Portugal - cujo mártir, Joaquim José da Silva Xavier (o Tiradentes), tornou-se o patrono cívico da Nação. Nos últimos anos do século XVIII, a cidade começou a tomar o aspecto atual e chegou ao seu apogeu, ligado à exploração do ouro da região, até regredir no século XIX, quando sua economia direcionou-se ao cultivo do café e à criação de gado.
 
Em 1823, após a Independência do Brasil, Vila Rica recebeu de D. Pedro I o título de Imperial Cidade de Ouro Preto e tornou-se a capital da Província de Minas Gerais. A drástica redução da mineração do ouro com a decorrente mudança das atividades econômicas determinou uma significativa regressão das atividades econômicas de Ouro Preto. Em 1897, a cidade perdeu a condição de capital para Belo Horizonte.

Apesar do declínio do garimpo, a cidade continuou fazendo parte do circuito do ouro e o extrativismo mineral ainda é uma das suas principais atividades econômicas. Por sua condição histórica e localização privilegiada, o turismo é importante na região. E como ocorreu nos tempos do seu passado glorioso, a vida cultural e artística de Ouro Preto continua bastante ativa e diversificada, destacando-se nacionalmente.

Monumentos e espaços públicos tombados: Casa da Baronesa, Casa do Gonzaga, Casa do Folclore, Ponte do Antônio Dias, Teatro Municipal (Casa da Ópera), Capela das Dores, Palácio Velho, Terminal de Integração, Casa dos Inconfidentes, Casarão Rocha Lagoa, Solar Baeta Neves, Horto Botânico, Vale dos Contos, Ponte do Rosário e Ponte Seca, Igreja de Nossa Sra. do Pilar, Igreja da Conceição, Igreja do Carmo, Igreja do Antônio Dias, e  o cenário de suas ladeiras de pedras e o casario branco com suas telhas de barro e esquadrias coloridas, entre outros.

Casa de Câmara e Cadeia de Ouro Preto - Atual Museu da Inconfidência. É uma edificação de grandes dimensões e caráter monumental. Nos ângulos do prédio estão estátuas que representam a Justiça, a Temperança, a Caridade e a Fortaleza. O Museu é dedicado à preservação da memória da Inconfidência Mineira e também oferece um rico painel da sociedade e cultura mineiras no período do Ciclo do Ouro e dos Diamantes, no século XVIII, incluindo obras de Athaíde e Aleijadinho. O Museu foi criado por meio da decisão de Getúlio Vargas, em 1936, para resgatar os despojos dos heróis da Inconfidência Mineira, na África, para onde tinham sido degredados.

Igreja de São Francisco de Assis - Considerada, por especialistas, a obra-prima de Aleijadinho e Ataíde. Representa uma das expressões mais admiráveis do estilo mineiro do final do século XVIII, com fachada que segue o traçado português das grandes igrejas matrizes. A construção é um marco religioso, social e artístico da cidade e do Estado, com projeto arquitetônico, risco da portada e elementos ornamentais como púlpitos, retábulo-mor, lavabo e teto da capela-mor do Aleijadinho e pinturas de Athaíde. O forro da nave é totalmente coberto pela pintura de Athaíde, e representa a assunção de Nossa Senhora da Conceição (padroeira dos franciscanos).

Casa dos Contos - Construída pelo contratador de ouro João Rodrigues de Macedo e confiscada pela Coroa Portuguesa, que nela instalou a Casa dos Contos e da Intendência. No local, estiveram presos alguns dos inconfidentes e, em uma de suas dependências, foi encontrado morto o poeta Cláudio Manuel da Costa. Entre 1820 a 1844, a casa foi ampliada e incorporou a Casa de Fundição do Ouro e a Casa da Moeda, para exercer a função de Secretaria da Fazenda no mesmo local ocupado pelo Tesouro Nacional.

Igreja Matriz do Pilar - Sua construção foi Iniciada entre 1728 e 1730, em substituição ao mais antigo templo da vila dedicado à Virgem do Pilar. É um dos mais importantes exemplares do barroco mineiro do Ciclo do Ouro. Além das imagens de excelente qualidade, a Igreja abriga o Museu da Prata. Em corredor anexo ao consistório, conserva-se o Arquivo da Matriz, o mais completo dos arquivos de Ouro Preto.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos - Datada de 1785, é dedicada à santa padroeira dos negros e mulatos, e possui o desenho mais original de todas as igrejas barrocas mineiras. Em forma de elipse, o teto da nave se assemelha a uma quilha de navio. O interior impressiona pela acústica e pela clareza. Os altares laterais são dedicados a Santa Helena, Santa Efigênia, Santo Antônio da Núbia, Nossa Senhora Mãe dos Homens, Santo Elesbão e São Benedito. Alguns pesquisadores afirmam que as imagens de Santo Antônio e São Benedito foram feitas por Padre Félix, irmão mais velho de Aleijadinho.                

Igreja de Nossa Senhora do Carmo - Construída no período da terceira fase do Barroco, com a parte principal pronta em 1772 e as obras de embelezamento e acabamento finalizadas em 1848. Participaram de sua ornamentação artistas como Manoel Francisco Lisboa (pai do Aleijadinho), Manoel da Costa Ataíde, entre outros. Localiza-se no alto de uma ladeira alcançada por meio de extensa escadaria e era frequentada pela aristocracia local. Os azulejos portugueses dos dez painéis devem ter custado muito ouro à irmandade religiosa que a financiou. Vindos de Portugal, os azulejos desembarcaram no Rio de Janeiro e seguiram para Minas Gerais em lombo de burro.

Igreja de Santa Efigênia (Igreja de Chico Rei) - Construída em 1736. Vários artistas trabalharam na obra, entre eles estão Manoel Francisco Lisboa, Francisco Xavier de Brito, Manuel Gomes da Rocha. É a célebre Igreja de Chico Rei, rei africano trazido ao Brasil como escravo. Conta a história que foi ele, devoto da Santa Efigênia, quem mandou erguer um templo em culto à santa, no alto do morro para ser vista por todos. Os recursos para a obra vieram do ouro extraído de uma mina arrendada por Chico Rei, que utilizava o ouro para alforriar outros escravos.

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias - Situada entre a Praça Barão de Queluz e a Praça Tiradentes, teve sua construção iniciada em 1727, e suas obras se prolongaram até a segunda metade do século XVIII. O empreiteiro Manuel Francisco Lisboa trabalhou na construção da igreja, onde ele e seu filho, o Aleijadinho, estão enterrados. Um das mais antigas paróquias de Minas Gerais, a Igreja Matriz destaca-se, também, por ser uma das maiores em tamanho e suntuosidade. Na antiga sacristia está instalado o Museu Aleijadinho, onde podem ser admiradas várias obras do mestre, como a imagem de São Francisco de Paula e um Cristo crucificado.

Capela de Nossa Senhora do Rosário do Padre - O nome deve-se ao padre João de Faria que encomendou a construção nos primeiros anos do século XVIII. Originalmente, a capela era em invocação a Nossa Senhora do Carmo e, por volta de 1740, a Capela do Padre Faria passou a abrigar, também, os irmãos brancos da Irmandade do Rosário. A capela é o único exemplar no perímetro urbano de Ouro Preto representativo das construções primitivas da Serra de Ouro Preto, sendo considerada, por muitos, a mais requintada de todas.

Palácio dos Governadores - Atual Escola de Minas e Metalurgia da Universidade Federal de Ouro Preto. Construído no mesmo local onde funcionou a Casa de Fundição e Moeda. O governador Gomes Freire de Andrade, em 1735, mandou adaptá-la à sua nova função, reinstalar a Casa de Fundição na parte térrea do prédio, além da Contadoria e Junta da Fazenda, Casa do Corpo da Guarda e Secretaria do Governo. O palácio serviu de moradia oficial a todos os governadores de Minas Gerais, até 1898, e hospedou os dois Imperadores do Brasil. Com a mudança da capital do Estado, para Belo Horizonte, em 1897, o prédio passou a abrigar a Escola de Minas e Metalurgia, criada em 1876, pelo Imperador Pedro II.

Praça Tiradentes - Datada do século XVIII, é um grande espaço urbano no qual foram edificados dois dos maiores exemplares da arquitetura civil da cidade: de um lado, o Palácio dos Governadores (atual Escola de Minas) e do outro, a Casa de Câmara e Cadeia (atual Museu da Inconfidência) e a Casa dos Contos.

Chafariz da Praça de Marília - Tem este nome por se situar próximo da casa onde residiu Maria Dorotéia Joaquina de Seixas, a Marília de Dirceu (musa de Tomás Antônio Gonzaga, poeta e integrante da Inconfidência Mineira, que se autodenominava Dirceu, em seus poemas). O chafariz foi uma iniciativa do Senado da Câmara de Ouro Preto, e construído por Manuel Francisco Lisboa, em 1759 e é bastante forte a hipótese da participação de Aleijadinho nos ornatos de pedra-sabão. O Chafariz de Marília é considerado um dos mais importantes do Brasil. Possui quatro carrancas com as respectivas bicas e tanque com quatro cavidades em forma de campânula invertida. Na parte de baixo, grande taça recebendo a água.  

Obras do PAC Cidades Históricas

Restauração:
Chafarizes do Centro Histórico
Edificações (09) da Capela das Dores e Capela do Bom Jesus das Flores, Igreja de Nossa Sra. do Rosário, Capela
do Senhor do Bonfim e 5 Passos da Paixão
Capela de São João
Capela de São Sebastião
Capela de Nossa Sra. Piedade
Capela de Santana
Igreja Matriz de São Bartolomeu
Igreja Matriz de Santo Antônio (Glaura)
Igreja de São Francisco de Paula
Igreja de São Francisco de Assis
Igreja Matriz de Nossa Sra. da Conceição
Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia
Igreja de Bom Jesus de Matozinhos

Requalificação urbanística:
Entorno da Capela do Padre Faria (Nossa Sra. do Rosário dos Pretos)

Instalação:
Segurança eletrônica em bens protegidos

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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