Salvador (BA)
O conjunto urbanístico e arquitetônico contido na poligonal do Centro Histórico da cidade de Salvador – declarado Patrimônio Cultural da Humanidade, pela Unesco em 1985 - é um dos mais importantes exemplares do urbanismo ultramarino português. Com seus becos e ladeiras - acolhe um dos mais ricos conjuntos urbanos do Brasil, implantado em acrópole e distinguindo-se em dois planos as funções administrativas e residenciais (no alto) e o porto e o comércio (à beira-mar).
Entre 1938 e 1945, vários monumentos do Centro Histórico foram tombados pelo Iphan, para garantir a preservação do Largo do Pelourinho e do seu entorno imediato. Os espaços públicos de Salvador - Praça Municipal, Terreiro de Jesus, Caminho de São Francisco, Largo do Pelourinho, Largo de Santo Antônio e Largo do Boqueirão - decorrentes dos traçados de suas ruas, ladeiras e becos, formam um dos mais ricos conjuntos urbanos de origem portuguesa. Os sobrados de dois ou mais andares e as soluções de implantação em terrenos acidentados são exemplos típicos da cultura lusitana.
O acervo arquitetônico e paisagístico da capital baiana merece destaque pelo seu excepcional valor cultural e pela sua extensão - possui cerca de três mil edifícios construídos nos séculos XVIII, XIX e XX - o que faz com que a cidade concentre mais da metade dos bens tombados individualmente em todo o Estado. Aliada a uma topografia singular, a paisagem da área tombada é formada basicamente pelos conjuntos monumentais da arquitetura civil, militar e religiosa, o que se reflete no frontispício da cidade, onde uma massa horizontal é pontuada pelas torres das igrejas.
Salvador, situa-se na entrada da Baía de Todos os Santos, em região bastante acidentada do litoral. No século XVI, Portugal pretendia criar uma administração centralizada para a Colônia e, para tanto, escolheu um ponto mais ou menos equidistante das extremidades do território, com favoráveis condições de assentamento e defesa. Uma primitiva povoação existia na Barra, fundada pelo primeiro donatário da Capitania, conhecida como Vila do Pereira, que não se desenvolvera devido aos constantes atritos com os indígenas e facilidades de atracação de navios inimigos em seu porto.
A escolha do local teve como objetivo centralizar as ações da Metrópole na América Portuguesa e facilitar as transações comerciais com a África e o Oriente. As condições defensivas eram asseguradas pelo grande desnível entre os dois planos, situados na falha geológica, do lado do mar e no seu oposto, pelo vale onde havia o rio das Tripas. À semelhança de Lisboa e do Porto, a localização de Salvador permitiria um esquema elementar de defesa, sem impedir seu crescimento linear.
Fundada em 1549, pelo primeiro Governador-Geral do Brasil Tomé de Souza, foi a primeira capital do pais. O governador trouxe de Portugal a recomendação de escolher um novo ponto, mais para o interior da baía, com adequadas condições de defesa e portuárias, além de abastança de água. Nascia, assim, São Salvador, a sede do Governo-Geral entre 1549 e 1763, por muitos anos a maior cidade das Américas. Em 1763, o Marquês de Pombal transferiu a capital do país para a cidade do Rio de Janeiro.
Para ajudar na fundação e povoação de Salvador, vieram, com o Governador Geral, cerca de mil homens entre artesãos, voluntários, marinheiros, condenados, soldados e sacerdotes. No ano seguinte, desembarcaram na costa baiana os primeiros escravos para o trabalho na cultura da cana-de-açúcar e de algodão, e na produção de tabaco e gado, no Recôncavo Baiano.
Segundo risco do arquiteto Luiz Dias, a cidade se desenvolveu no sentido longitudinal, paralelo ao mar, seguindo a linha de cumeada, em uma trama de ruas praticamente ortogonal, adaptando-se à topografia do sítio, edificada sobre uma colina para dominar a imensa baía em um ponto estratégico da costa brasileira. Dominando uma imensa baía, a “cidade fortaleza” atendia aos objetivos de Portugal, em um ponto estratégico da costa brasileira.
Caracteriza-se pela fiel representação do plano típico de cidade do século XVI, cuja densidade de monumentos e a homogeneidade de suas construções, implantadas em sítio acidentado, de relevantes qualidades paisagísticas. O sítio escolhido favoreceu a adoção do modelo português de cidade, implantada em acrópole, destinando à Cidade Alta as funções administrativas, religiosas e residenciais, e à Cidade Baixa, o comércio e o porto, de acordo com a tradição urbanística portuguesa, e estreita devida à escassez de espaço entre a colina e o mar.
Em uma estreita faixa de terra, a Cidade Baixa separava Salvador da Baía de Todos os Santos e protegia a cidade alta de eventuais invasores. Entretanto, os limites da cidade foram rapidamente ultrapassados e logo dois polos podiam ser identificados: a praça administrativa (com o Senado e a Casa de Câmara) e o Terreiro de Jesus (onde se instalaram os jesuítas e o seu Colégio).
Com a riqueza gerada pela lavoura açucareira, em meados do século XVII, iniciou-se a chamada fase monumental da arquitetura baiana, apoiada na transição do estilo renascentista para o barroco, represen-tada por seus principais edifícios, dentre os quais: Igreja e Convento de São Francisco, Igreja do Carmo, Igreja e Convento de Santa Teresa (atualmente, o mais importante museu de arte sacra do país), Igreja e Mosteiro de São Bento.
Entre os séculos XVI e XVIII, além de desempenhar um papel estratégico na defesa e expansão do domínio lusitano, a cidade foi o centro do desenvolvimento econômico, cultural e político da Colônia e passagem obrigatória das embarcações vindas da África e da Ásia. Sua relação comercial e cultural com a costa ocidental da África foi alimentada pelo vil tráfico de escravos, em troca principalmente de cacau, fumo e cachaça. Após um século de sua criação, Salvador se tornou a segunda cidade do Império português em importância, perdendo somente para Lisboa.
O centro ainda apresenta grupos de construções e espaços que permitem a leitura do modelo das cidades fundadas pelos portugueses no além-mar. Um casario uniforme, entremeado por conjuntos de arquitetura monumental e, principalmente, a distinção entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa, garante a identificação de uma paisagem herdada do período colonial.
O tombamento do trecho da Orla Marítima de Salvador preservou a paisagem local, onde alguns registros históricos relatam a realização da pesca de baleias, desde o século XVII. Atualmente Salvador é o terceiro município mais populoso do Brasil e centro econômico da Bahia, é também porto exportador, centro industrial, administrativo e turístico.
Monumentos e espaços públicos tombados: Paço Municipal (antiga Casa de Câmara e Cadeia), Casa dos Sete Candeeiros (local onde foram pendurados sete lampiões de azeite durante a estadia da corte de D. João VI, em 1808), Casa dos Santos da Ordem Terceira de São Francisco, Seminário São Damaso, Igreja Nossa Senhora da Ajuda, Tesouro 1, Tesouro 2 e Liceu, entre outros.
Igreja de São Francisco e Ordem Terceira de São Francisco - Localizada diante da Catedral de Salvador e parcialmente encoberta pelo casario da praça. Erguida entre os séculos XVII e XVIII é considerada uma das mais singulares e ricas expressões do barroco brasileiro. A fachada apresenta esculturas e relevos de frutos e folhagens, formando guirlandas. A portada em pedra também é belamente ornamentada. Anexo à igreja, está a Ordem Terceira de São Francisco, de 1703, uma das obras de arte mais surpreendentes do Brasil e única no mundo português. No seu interior está preservada uma série de azulejos portugueses que retratam Lisboa antes do terremoto de 1755. No anexo, há um pequeno museu com exposição de peças sacras.
Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia - É uma monumental edificação da Cidade Baixa de Salvador, Construída a partir de 1739 e consagrada em 1765. A pedra da construção foi a pedra de lioz (ou pedra do reino, no Brasil), importada de Lisboa, numeradas uma a uma em Portugal e trazidas para a colônia. Em seu interior, no estilo joanino - o barroco tardio português corrente no reinado de D. João V (1706-1750) -, destaca-se a pintura do teto que obedece à concepção ilusionista barroca de origem italiana, de autoria de José Joaquim da Rocha.
Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Salvador - Erguida em 1636, ao lado da Igreja da Ordem Primeira, na ladeira do Carmo, centro histórico de Salvador. Trata-se de um conjunto arquitetônico formado por igreja e convento. O edifício atual se desenvolve em torno de dois pátios que compreendem, além da igreja, sacristia, casa de mesa, casa dos santos, ossuário e galerias. Na Igreja se encontra a imagem de cedro do Senhor morto, esculpida em 1730 pelo escravo Francisco das Chagas, considerado o Aleijadinho baiano.
Catedral Basílica de Salvador - Construída entre 1652 e 1672, é parte do desaparecido Convento e Escola dos Jesuítas, o maior e mais importante do Brasil colonial. Por todo o seu acervo artístico e sua monumentalidade, é considerada, por vários especialistas, como a mais importante construção sacra do Brasil colonial. A fachada e o interior são em mármore de Lioz, trazido de Portugal cortado e esculpido. A sacristia tem piso e altares em mármores coloridos, telas de diversos autores seiscentistas, móveis em jacarandá, com encartes em madrepérola e objetos sacros em ouro e prata. Com a saída dos jesuítas do Brasil a Igreja foi abandonada. O convento foi utilizado como hospital militar, e em 1808, como Escola de Medicina, a primeira do Brasil.
Santa Casa de Misericórdia - As primeiras referências às obras da Santa Casa datam de 1650. A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia está presente em Salvador desde a sua fundação, em 1549. O primeiro hospital e capela foram edificados com recursos obtidos pelas doações dos colonos, em terreno doado por Tomé de Souza. Instituição formada pela elite da cidade, logo amplia o edifício, que assume características monumentais. O conjunto arquitetônico, tipicamente conventual, é formado pela igreja e os pátios administrativo e hospitalar. No interior do conjunto há um vasto acervo de pinturas, azulejos, mobiliário, alfaias, entre outros objetos.
Paço Arquiepiscopal - Palácio Localizado na Praça da Sé e construído no século XVIII, em torno de um pátio. O prédio possui subsolo e três pavimentos sobre a rua. Considerado um dos melhores exemplos de arquitetura civil do período colonial no país, localiza-se na zona histórica do Pelourinho. O prédio de três pavimentos e quatro corpos de construção foi erguido em torno de um pátio interno. A entrada é marcada por um portal de pedra de Lioz portuguesa decorado com um brasão de D. Sebastião Monteiro da Vide, arcebispo de Salvador na época. As janelas dos dois primeiros pisos são de peitoril e o pavimento nobre tem janelas com balcões e grades de ferro. Antigamente, havia uma passarela suspensa que ligava o Paço à antiga Sé, demolida em 1933.
Paço do Saldanha - Em 1699, o coronel Antônio da Silva Pimentel adquiriu e derrubou algumas casas de propriedade da Ordem Terceira do Carmo para a construção do solar Paço do Saldanha. É um dos mais notáveis palácios construídos no Brasil colonial, com destaque para sua portada em pedra lavrada e uma bela varanda, conhecida como Mirante do Saldanha. Na década de 1960, um incêndio destruiu o interior do prédio e danificou o exterior, inclusive a porta monumental. Depois de um longo período de abandono, foi restaurado e, atualmente, abriga o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.
Solar Amado Bahia - Construído no final do século XIX, em alvenaria de tijolo, tem acesso lateral e está totalmente envolvido por varandas de ferro fundido. Apresenta três pavimentos e ainda conserva a capela com entalhes dourados no primeiro andar. Seu acabamento foi totalmente realizado com material importado. O grande salão apresenta paredes revestidas de espelhos franceses, piso de parquet e teto em estuque com sancas molduradas. Os quartos e ou outros salões têm assoalhos de pinho de riga. Tetos e paredes exibem pinturas atribuídas a Badaró (o pai).
Casa da Quinta do Unhão - É um conjunto arquitetônico formado pelo solar, Capela de Nossa Senhora da Conceição, cais de desembarque, fonte, aqueduto, chafariz, armazéns e um alambique com tanques. Na ponte de acesso ao solar existem barras de azulejos de ornamentação barroca, produzidos em Lisboa, nos anos 1770 a 1780. O chafariz, originalmente alimentado pelo aqueduto, é uma peça barroca em arenito escuro, formado por uma carranca de onde jorra a água, e duas conchas superpostas.
Casa da Alfândega (Mercado Modelo) - Erguida em 1861, para funcionar como Alfândega, esta edificação passou a abrigar o Mercado Modelo a partir de 1971 e mantém a arquitetura neoclássica original mesmo depois de ter sofrido dois incêndios (1969 e 1984). O Mercado Modelo está localizado no bairro do Comércio, antigo centro comercial de Salvador, em frente ao Elevador Lacerda.
Fortaleza de São Marcelo (Forte do Mar) - Situada na Baía de Todos os Santos e construída sobre uma coroa de areia que havia no local, em 1623, durante o Governo-Geral de D. Diogo de Mendonça Furtado. Sobre o portal de entrada existe um escudo de armas do Império, mutilado após a Proclamação da República, em 1889, onde a coroa monárquica foi substituída por uma estrela de cinco pontas. Transformada, em 2006, no Centro Cultural Forte de São Marcelo, abriga um rico patrimônio cultural.
Forte de Santa Maria - Localiza-se na praia do Porto da Barra (Bairro da Barra), antigo porto da cidade de Salvador. Constituiu um comando unificado, entre 1624 e 1694, com o Forte de Santo Antônio da Barra e o Forte de São Diogo, com os quais cruzava fogos na defesa contra a primeira invasões holandesa. A fachada sul da casa de comando é revestida de telhas, tratamento impermeabilizante encontrado em empenas de sobrados baianos de todo o período colonial. Sobre a porta de entrada, há um escudo com armas do império. A edificação é em alvenaria de pedra e cal.
Elevador Lacerda - Este monumento começou a ser construído, em 1869, pelo engenheiro Augusto Frederico de Lacerda, utilizando peças de aço importadas da Inglaterra. Após sua inauguração, transformou-se no principal meio de transporte entre a Cidade Alta e a Cidade Baixa. Ao longo de sua história, passou por quatro grandes reformas e revisões, sendo que na segunda, em 1930, foram adicionados mais dois elevadores e uma nova torre que conferiu a atual arquitetura em estilo art déco.
Obras do PAC Cidades Históricas
Restauração:
Igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo
Igreja de Nossa Senhora da Saúde e Glória
Catedral Basílica
Igreja da Ordem Terceira de São Domingos
Edifício a Praça Castro Alves (implantação do Centro de Referência do Centro Antigo)
Solar Berquó - Iphan
Antigo Hotel Castro Alves (ampliação do Centro Cultural da Barroquinha)
Casarão na Ladeira da Barroquinha (implantação da Sede da Fundação Gregório de Matos)
Biblioteca e arquivo e Centro Técnico do Iphan
Igreja do Corpo Santo
Forte de São Marcelo
Igreja e Cemitério de Nossa Senhora do Pilar
Edificações do Conjunto da Rua da Conceição da Praia
Forte de São Paulo da Gamboa (implantação do Centro de Escoteiros do Mar)
Elevador do Taboão
Plano Gonçalves e edifício anexo
Restauração e implantação:
Biblioteca Anísio Teixeira
Recuperação e requalificação:
Muralhas da encosta do Centro Histórico de Salvador
Requalificação urbanística:
Entorno do Portal da Misericórdia (receptivo, acessibilidade e implantação de ascensor)
Requalificação:
Teatro Gregório de Mattos
Edificações localizadas nos Arcos da Montanha
Implantação:
Ligação entre o MAM/BA e o Forte da Gamboa
Plano Inclinado entre a Praça Castro Alves e a Conceição
Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE