São João del Rei (MG)

O conjunto arquitetônico e urbanístico de São João del Rei foi tombado pelo Iphan, em 1938. O tombamento, não definiu a delimitação da área urbana a ser preservada, o que veio a acontecer em 1947. O núcleo histórico constituía, na época, a área mais íntegra, onde estão igrejas capelas, pontes e os Passos da Paixão. O conjunto de bens imóveis tombados totalizam cerca de 700 imóveis. Escolhida Capital Brasileira da Cultura, em 2007, é uma das principais cidades históricas de Minas Gerais.

Esta região – com suas ladeiras, igrejas, museus e casarios – guarda a riqueza do ciclo do ouro e revela aos seus visitantes o estilo de vida dos mineiros, além de apresentar magníficas edificações do barroco brasileiro. A exemplo do ocorrido com outras cidades coloniais mineiras, originárias da atividade de exploração do ouro, a formação de São João del Rei se deu com a aglutinação de pequenos núcleos surgidos junto aos locais de mineração. Dessa forma, a ocupação inicial ocorreu de maneira bastante dispersa e rarefeita, limitando-se a espaçados agrupamentos de casas baixas em torno de uma pequena capela.

A sua arquitetura religiosa segue, na sua maior parte, os padrões tradicionais das matrizes mineiras da primeira fase, com a clássica disposição de planta em nave, capela-mor, sacristias e corredores laterais, tendo a fachada organizada em um corpo principal ladeado por duas torres, geralmente de perfil quadrado. Quanto à ornamentação, estas igrejas obedecem, principalmente, aos padrões artísticos vigentes em Minas Gerais na segunda metade do século XVIII e início do XIX, correspondendo a composições do gosto rococó.

Os primeiros povoadores de São João del Rei foram paulistas, atraídos pelos cascalhos auríferos da bacia do rio das Mortes, que "assoalhavam o caminho trilhado pelos bandeirantes", denunciando os grandes depósitos de ouro da região. Em fins do século XVII, Tomé Portes del Rei, procedente de Taubaté, fixou-se nas margens do rio das Mortes, onde surgiu o primeiro arraial no local chamado "Porto Real da Passagem", por ser passagem de todas as embarcações. Até 1703, a importância do povoado decorria de sua situação como ponto de ligação com os Sertões de Caeté e a região das minas do Carmo, Ouro Preto e Sabará.

Entre 1703 e 1704, o português Manuel João de Barcelos descobriu, nas fraldas dos montes, ricas manchas de ouro, e os paulistas Pedro do Rosário e Lourenço da Costa iniciaram os trabalhos de faiscação. Forasteiros e aventureiros começaram a afluir à região. Nas encostas das serras, atualmente denominadas Senhor do Monte e Mercês, surgiu o outro arraial - o do Rio das Mortes - com sua igrejinha no Morro da Forca consagrada à Nossa Senhora do Pilar que deu origem a São João del Rei.

O arraial surgiu de maneira bastante dispersa e se instalou, simultaneamente, em dois pontos elevados, localizados em torno do vale do córrego do Lenheiro, atualmente assinalados pelas igrejas do Senhor dos Montes e de Nossa Senhora das Mercês, na margem esquerda, e pela Capela do Senhor do Bonfim, em local então denominado Morro da Forca, na margem direita, surgindo os primeiros arruamentos, compostos por casas toscas cobertas de palha.

A partir da elevação da cidade à categoria de vila, em 1713, São João del Rei cresceu, tanto em importância dentro da região das Minas quanto em espaço urbano. Escolhida para sede da nova Comarca do Rio das Mortes, em 1714, em virtude de seu desenvolvimento expressivo, a cidade ganhou, até a metade do século XVIII, várias edificações de vulto, civis e religiosa, que funcionavam como fatores de polarização de novas construções. Em 1719, foi construída a primeira ponte sobre o córrego do Lenheiro, possibilitando a integração definitiva das duas partes da vila.

Em princípios do século XIX, antes de ser elevada à categoria de cidade, contava com cerca de mil edificações. Afirmou-se pelo seu amplo desempenho comercial e abastecia, entre outras, a cidade do Rio de Janeiro, com a qual mantinha laços comerciais bastante dinâmicos. Na segunda metade do século XIX, a cidade contava com um número bastante expressivo de estabelecimentos comerciais, e recebeu um impulso maior com a criação da Estrada de Ferro Oeste de Minas.

A construção da estrada de ferro (1878-1881) e a chegada, em 1886, de imigrantes italianos, procedentes de Bolonha e Ferrara, aceleraram o progresso do município. Esses imigrantes, destinados ao trabalho na  agricultura, instalaram-se na Várzea do Marçal, onde formaram as colônias do Marçal, Recondego e Felizardo, e na Fazenda José Teodoro. Posteriormente, grande número de sírios fixou-se no Município, dedicando-se de preferência ao comércio.

Igreja de São Francisco de Assis - Construída em 1749, pela Ordem Terceira de São Francisco de Assis, em substituição à primitiva capela, então em ruínas. Em 1774, foram contratados os serviços do mestre Francisco de Lima Cerqueira para executar a obra conforme o risco que lhe foi apresentado. A autoria do projeto original é de Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho), comprovada pelo risco existente no Museu da Inconfidência de Ouro Preto.  Na fachada se percebem as características das obras do mestre, principalmente na rica composição da portada, com destaque para as magníficas talhas que se organizam em elegante desenho.  

A igreja possui um magnífico interior e merecem especial destaque o conjunto de talhas da capela-mor, os seis altares da nave e os púlpitos, dentre outros, apresentando nítida influência da escola de Aleijadinho. As intervenções do mestre incluem o risco dos retábulos (parte posterior dos altares) e uma imagem de São João Evangelista, localizada na sacristia. Chama a atenção a composição em relevo da Santíssima Trindade como solução do fecho do retábulo da capela-mor, aproximando este retábulo do de São Francisco de Assis de Ouro Preto.

Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar (Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar) - A Irmandade do Santíssimo Sacramento iniciou sua construção, em 1721, para substituir a primitiva Capela do Pilar, edificada no Morro da Forca e incendiada alguns anos antes, durante a Guerra dos Emboabas. Em 1732, vieram de Portugal ouro em folha, gesso, óleos e tintas destinadas à capela-mor, além dos dois painéis a Mesa do Senhor e O Senhor na Casa do Fariseu, que lá se encontram. Entre os anos de 1850 a 1863, foram concluídos vários trabalhos da igreja, como o forro, assoalho, pintura do coro e paredes da sacristia, além do novo cemitério.

O edifício é todo construído em alvenaria de pedra, dentro da linha neoclássica. Internamente, a nave é composta por magnífico conjunto de talha pintada e dourada. São seis altares, constituídos por rica talha barroca. Os púlpitos colocados entre os altares laterais, são igualmente trabalhados em talha rica. O forro da nave é cercado por ornamentação barroca em concheados e enrolamentos, onde se vê a representação da Virgem com o Menino, ambos coroados, envoltos por nuvens e querubins. A capela-mor é o ponto alto da igreja com decoração esculpida e dourada de grande riqueza. As paredes laterais são constituídas por duas grandes telas, vindas de Portugal em 1732, representando A Última Ceia e Jesus em Casa de Simão.

Trata-se de obras de caráter erudito, executadas dentro do espírito barroco. Apresentam rica moldura dourada e são ladeadas por pilastras esculpidas, de onde saem figuras de anjos alados. O altar-mor apresenta colunas com figuras de anjos e dominada pela imagem do Pai Eterno, a Pomba do Divino Espírito Santo, formando a Santíssima Trindade com o Crucificado no altar. Sobre o trono do altar encontra-se a antiga imagem da padroeira.
 
Igreja Nossa Senhora do Carmo (Igreja do Carmo) - Construída pela Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, entre 1732 e 1759, os trabalhos de acabamento e ornamentação se estenderam até o início do século XIX. As obras de pintura do forro da capela-mor foram ajustadas em 1759, com o mestre Estevão de Andrade Silva, e as do forro do corpo com o mestre Braz da Costa. O entalhador Manuel Roiz Coelho arrematou as obras do retábulo, camarins, trono e púlpitos, em 1768, tendo a Irmandade dado por concluído os trabalhos em 1773. Em 1787, foi acertada a execução do frontispício com o mestre Francisco de Lima Cerqueira, cujas obras se estenderam até 1816.

Passos das Ruas Duque de Caxias e Getúlio Vargas - Os Passos fazem parte das liturgias, por ocasião das manifestações religiosas, sendo percorridos pelas procissões. Esses Passos da Paixão foram edificados pela Irmandade de Bom Jesus dos Passos, em 1733.  São pequenas capelas construídas no final do século XVIII e, como a maioria dos Passos mineiros, em geral pequenas construções, fechadas por portas, encimadas por cruz, abertas apenas na ocasião oportuna. Especialmente requintada em São João del Rei é a festa da Irmandade dos Passos, iniciada na primeira sexta-feira da Quaresma, na Semana Santa, quando começam as vias sacras de rua. A procissão é acompanhada por conjuntos vocais com instrumentos de corda e sopro, e cada Passo tem o seu "moleto " especial de autoria de compositor local, e só tocado naquela ocasião. Essas cerimônias sacras são mantidas em cerimonial de tradição secular.

Museu Regional de São João del Rei - Antes mesmo da descoberta do ouro, essa região era um ponto de passagem obrigatório para quem se dirigia às minas exploradas. O local, conhecido como Porto Real da Passagem, foi estabelecido por Tomé Portes del Rei à margem esquerda do rio das Mortes. Logo, a região se mostrou abundante em ouro, provocando um avanço pela Serra do Lenheiro e formando um arraial ao pé do morro das Mercês. Surgiu, assim o Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar, futura vila de São João del Rei. O declínio da produção aurífera não significou o fim da vila, que passou a desempenhar importante papel comercial.

Nesse cenário consolidado, surgiram comerciantes como João Antônio da Silva Mourão (1806-1866), que construiu o prédio onde se aloja o Museu Regional. Esta imponente edificação, situada à margem do Córrego do Lenheiro ocupa uma extensa área e se sobressai perante o casario ao redor. A casa não foge à regra e apresenta uma construção de acordo com a tradição colonial, com elementos classicizantes apenas na decoração da fachada. Concluídas as obras em 1859, ali o Comendador instalou sua família, nos segundo e terceiro pavimentos, enquanto a sua loja de secos e molhados funcionava no primeiro pavimento.

O Museu apresenta uma exposição de peças que fornecem testemunhos significativos de aspectos da vida mineira nos séculos XVIII e XIX: móveis, imagens religiosas, oratórios, pinturas, equipamentos de trabalho (roca, batedeira, tear, formão, arado e balança de pesar ouro), tipos de transporte (liteira, cadeirinha de arruar), e o órgão (que relembra uma produção musical ainda executada nas igrejas). No acervo, estão documentos cartoriais dos séculos XVIII e XIX, pertencentes à antiga Comarca do Rio das Mortes, fundamentais para o conhecimento da história mineira. A maioria dos objetos do acervo são procedentes da região.

Complexo Ferroviário (atual Museu Ferroviário) - O Complexo Ferroviário integrava a antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, criada em 1872. Seu percurso ligava a cidade de Sítio (atual Antônio Carlos) com a Estrada de Ferro D. Pedro II (depois Central do Brasil), partindo daí para São João del Rei.  Com outras concessões, a Oeste de Minas se estendeu a outras cidades e ramais, até Oliveira e Paraopeba, alcançando, em 1894, um percurso total de 684 km. A Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas foi considerada a primeira ferrovia de pequeno porte no Brasil. A inauguração do trecho Sítio - São João del Rei ocorreu em 1881 e contou com a presença do Imperador D. Pedro II que percorreu as estações de Barroso, São José e Tiradentes. Inicialmente, a Companhia compunha-se de quatro locomotivas, produzidas pela Baldwin Locomotive Works-Philadelphia, empresa norte-americana. O restante do material foi construído nas oficinas da Estrada de Ferro D. Pedro II (atual Central do Brasil), no Rio de Janeiro.

O complexo ferroviário inclui os prédios da Estação de São João Del Rei e da Estação de Tiradentes, e o prédio do Museu Ferroviário (antigo armazém de carga da ferrovia). Entre as relíquias do Museu está a locomotiva de número 1, que transportou D. Pedro II e comitiva na inauguração da ferrovia, em 1881.  A rotunda (depósito de locomotivas de forma circular ou semicircular) também integra o Complexo Ferroviário onde está o "girador de locomotivas ", as linhas e valas de inspeção e alguns pedestais de pedra onde eram apoiadas as colunas de ferro para a sustentação do telhado, diversas locomotivas e vagões, a oficina de manutenção inaugurada em 1822, máquinas centenárias de fabricação inglesa, e os prédios do almoxarifado e armazém. Entre as máquinas e vagões, estão 15 locomotivas, a maioria de fabricação americana.

Obras do PAC Cidades Históricas

Requalificação:
Praça Expedicionários e Chafariz

Restauração:
Igreja Matriz Nossa Sra. do Pilar
Antiga Casa de Câmara e Cadeia - Prefeitura
Casarão de Bárbara Eliodora e acervo do Museu Thomé Pontes del-Rei
Pontes de Pedra da Cadeia e do Rosário
Casa do Barão de SJDR - Antiga sede da Superintendência Estadual de Ensino
Pontes de Ferro do Teatro e da Estação
Igreja de São Gonçalo do Amarante
Igreja do Senhor dos Montes
Igreja do Senhor do Bonfim
Igreja Nosso Sra. do Rosário
Igreja de São Francisco
Igreja de Nossa Sra. do Carmo

Reforma:
Biblioteca Municipal Baptista Caetano de Almeida
Complexo Ferroviário

Fontes: Arquivo Noronha Santos/Iphan e IBGE

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