O boi renasce quando dança

publicada em 16 de janeiro de 2012, às 16h56

 

Morreu aos 91 anos, na madrugada de domingo, 15 de janeiro, o Mestre Teodoro Freire, “do Boi de Sobradinho”. As cinzas do Mestre saem do crematório de Valparaizo, nesta segunda para continuar na semeadura da sua arte. Ele ensinou as gerações da Capital que havia um Brasil oculto, de tradição sofisticada, rica e viva, pronto para dialogar com o contemporâneo das vanguardas.

Brasília saiu da maquete em tecnologia, engenho e suor, mas exigia a presença do terreiro imaginário para dar sentido pleno aos seus carpetes. Teodoro é a referência da Cultura Popular na capital de todos os brasileiros. Essencial na construção coletiva da alma que singulariza as cidades e ressignifica um local qualquer, como um lugar de vida. Quando chega em 1962 percebe o apelo da cidade em processo. Vira raiz para irrigar as veias da Capital. A partir da Universidade de Brasília utópica e atípica, Teodoro cria uma Sociedade Brasiliense de Folclore já em 1963 e o Centro de Tradições Populares em Sobradinho em 1972.

Nasceu no povoado de Castanho Claro, município de São Vicente do Ferrer, a 280 km de São Luis- MA, sem jamais perder os vínculos sabia como adotar novas estratégias de sobrevivência para enfrentar as tramas do urbano. E das máquinas políticas e institucionais. Por mais que arrancasse um financiamento aqui e ali ficou sem a realização de sua principal meta: a construção da sede do Boi, em Sobradinho. Manteve a brincadeira do Boi como a própria trilha que se fez no caminho. Por ela, hoje, dezenas de manifestações da Cultura Popular atuantes em Brasília, receberam força para “ter a coragem de mostrar”. 

Brincar na cidade que parece celebrar o jogo de poderes é dar a dimensão real do moderno sob outra lógica. Jogar cores no cinza, polifonia no unicórdio, salpicar o metal e o concreto de prazer, abrir brechas nos gabinetes para permitir a rua e o sol entrarem, lembrar os brasis ocultos aos que se julgam saturadamente “cultos”, foram as bandeiras desse panfleto vivo.

Teodoro realiza-se como a própria incorporação de um Mestre do patrimônio imaterial: todo o ser, para o ser vir!  Se o boi não parar ele vai renascer em cada brincadeira, isso é o que faz a eternidade de um Mestre popular feito monumento pela argamassa do chão na capital do Brasil.

 

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