Patrimônio Cultural recebe investimentos em Sabará-MG

publicada em 21 de dezembro de 2011, às 13h51

 

Fundo investe R$ 199 mil na recuperação de casario histórico no entorno da Igreja de Nossa Senhora do Ó em Sabará

Um dos pontos turísticos mais visitados em Sabará, na região Metropolitana de Belo Horizonte começará o ano de 2012 em obras. Em janeiro, o Instituto Yara Tupynambá dará início ao projeto de revitalização do entorno da Igreja de Nossa Senhora do Ó, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1938 e considerada uma das mais ricas representações do barroco em Minas Gerais.

Os recursos de R$ 199 mil são do Fundo Estadual de Defesa dos Direitos Difusos, que são provenientes de medidas compensatórias firmados, via termo de ajustamento de conduta (TAC), com o Ministério Público Estadual. O convênio foi assinado com o governo de Minas Gerais na última terça-feira, 20 de dezembro de 2012.

Cerca de 30 casas serão contempladas no projeto de revitalização no Largo do Ó. A expectativa é de que os serviços sejam executados em oito meses, embora o convênio seja para um ano, incluindo pintura das fachadas, a maioria já com descaracterização, de portas e janelas, além da capacitação de pintores e pedreiros.

O projeto existe desde 2005, somente agora os recursos estarão disponíveis e será necessária a revalidação da proposta anteriormente aprovada pela Superintendência do Iphan em Minas Gerais.

A Igreja do Ó tem esse nome devido à festa da padroeira, quando são cantadas as ladainhas, repetindo-se, a cada dia, as sete antífonas, sempre precedidas por um “Ó”. Um dos maiores tesouros do templo, de fachada singela, está na talha da primeira fase do barroco – estilo nacional português, segundo os especialistas. Chamam à atenção as “chinesices” do arco-cruzeiro, de aproximadamente 1725. Essas pinturas teriam sido feitas por artistas vindos das possessões portuguesas no Oriente, ou copiando desenhos de louças vindas de Macau, na China.

Conheça mais sobre a Igreja de Nossa Senhora do Ó (Sabará, MG)
Descrição: Deve-se aos devotos de Nossa Senhora da Expectação a iniciativa da construção da capela, cuja construção já havia sido iniciada em 1717, quando obtiveram do Senado da Câmara de Sabará doação de um terreno, através do despacho confirmado em 1º de janeiro de 1718, após verificada sua medição e demarcação. Embora já existisse no local uma pobre capela em construção, o capitão-mor Lucas Ribeiro de Almeida tomou a iniciativa da construção definitiva do corpo da igreja, contratando com o ajudante Manuel da Mota Torres os respectivos serviços, através de contrato firmado a 8 de janeiro de 1719.

O aludido contrato continha especificações detalhadas da obra, e estipulava o prazo de entrega para julho do mesmo ano. Supõe-se que a obra já estivesse concluída em 29 de dezembro de 1720, data constante de um ex-voto mandado fazer pelo próprio capitão-mor Lucas Ribeiro de Almeida, com alusão a uma graça por ele obtida e a realização de festa consagrada à padroeira da capela.

Através de estudos comparativos feitos a partir das especificações constantes no contrato e a atual feição arquitetônica da capela, conclui-se que o programa construtivo original foi bastante alterado. Os trabalhos de ornamentação interna certamente tiveram início após o término da obra em 1719. Houve possíveis acréscimos posteriores que compreenderam o átrio, o coro e a dependência lateral. A fachada teria sido modificada em fins do século XVIII, com acréscimo do frontispício chanfrado e da torre central, cujo sino traz inscrita a data de 1782.

Diante da falta de documentação, nada se sabe de concreto sobre a participação de outros profissionais nas obras de construção e ornamentação da igreja. Supõe-se que nela teriam trabalhado artesãos provindos das possessões portuguesas do Oriente. Rodrigo M. F. de Andrade, com base nos estudos existentes no arquivo do Iphan, no Rio de Janeiro, suspeita que o pintor Jacinto Ribeiro, seja autor das "chinesices" da capela de Sabará, uma vez que o documento datado de 1721, refere-se ao artista como natural da Índia e morador na capitania das Minas desde 1711. A edificação sofreu reformas entre 1890 e 1901.

Novas obras foram também realizadas por volta de 1929, por determinação do então presidente do Estado Antônio Carlos, as quais consistiram na redução da frente da dependência lateral, recomposição de paredes a tijolos e recobrimento de algumas pinturas. Em 1944, o Iphan procedeu a uma restauração geral da capela, eliminando-se o vão travesso, considerado em desacordo com o partido construtivo. Mais tarde, nova restauração da ornamentação interna veio conter a ação devastadora de cupins. Apresenta planta em duas secções, correspondentes à nave e capela-mor. A capela-mor possui piso em tabuado largo, paredes com revestimentos em painéis e teto de caixotões pintados e emoldurados. São seis painéis no forro contendo cenas referentes à vida de Maria e, nas paredes laterais, cenas diversas alusivas à Sagrada Família, supondo-se que os trabalhos de pintura não sejam da mesma autoria, visto que as diferenças de nível de qualidade técnica são nítidas. O único altar existente é o altar-mor, em talha dourada e policromada, composto por colunas torsas ou salomônicas e arquivoltas concêntricas, predominando na decoração motivos fitomorfos no estilo "nacional português”.

O tratamento do entalhe é bem elaborado, de caráter erudito, denunciando o domínio técnico do autor. No trono, também em talha policromada, encontra-se a imagem da padroeira. Embora o frontal do altar não seja o original, uma vez que o mesmo foi substituído por ocasião da restauração de 1944, o que ali se encontra atualmente enquadra-se ao programa decorativo geral da capela. O trabalho apurado do retábulo se mantém na ornamentação do arco-cruzeiro, cimalhas, entablamentos e nas molduras dos painéis dos tetos e paredes. A unidade decorativa do seu interior advém, principalmente, da harmonia conferida pelos elementos de policromia, o ouro, o vermelho e o azul, de gosto orientalizante, inspirado talvez na louça de Macau, largamente usada no Brasil naquela época, conforme observou Sylvio de Vasconcelos.

Endereço: Largo de Nossa Senhora do Ó - Sabará - MG
Livro de Belas Artes
Inscrição:110
Data:13-6-1938
Nº Processo: 0067-T-38

Observações: O tombamento inclui todo o seu acervo, de acordo com a Resolução do Conselho Consultivo da SPHAN, de 13/08/85, referente ao Processo Administrativo nº 13/85/SPHAN.

Mais informações:
Glayson Nunes
Assessor de Comunicação
Superintendência do Iphan em Minas Gerais
glayson.nunes@iphan.gov.br
(31) 3551 3260 / 3222 2440
(31) 9315 6621

 

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