Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Maranhão, é restaurada e entregue à população

publicada em 16 de dezembro de 2011, às 14h24

 

No próximo dia 21 de dezembro, após restauração, a igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, no Maranhão, será entregue à população de São Luís. Em 2004 o telhado da igreja corria o risco de desabar. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em cumprimento a sua missão de proteção ao patrimônio cultural, providenciou a elaboração do projeto de restauração e estabeleceu parceria com a Fundação Rio Bacanga para execução da obra, que foi realizada com recursos do Iphan e da Lei de Incentivo a Cultura, via patrocínio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As decisões sobre os elementos que seriam restaurados ou reconstituídos procuraram respeitar o valor histórico e arquitetônico do monumento, com o cuidado de serem tomadas conjuntamente pelos técnicos preservacionistas e a comunidade católica, visando compatibilizar os procedimentos técnicos do restauro com as necessidades de uso. O resultado final da intervenção restaurativa promoveu a revelação dos valores estéticos, respeitando, no entanto, as contribuições das diversas épocas.

Ao longo dos últimos dois séculos e meio a Igreja do Rosário sofreu diversas alterações que modificaram a sua feição barroca original. As mudanças mais significativas foram às substituições do piso de campa em madeira da nave e capela mor para ladrilho hidráulico, do altar-mor barroco do século XVIII, em madeira, para outro em massa e mármore no ano de 1940, e a do forro. Essas intervenções variavam em função do gosto da época, transformando os espaços e alterando materiais de acabamento, contribuindo dessa forma para um efeito plástico e técnico por vezes desastroso para a leitura estilística do monumento.

Histórico
A devoção a Nossa Senhora do Rosário, foi, no início do período colonial, muito popular entre todas as classes sociais, entretanto, devido à segregação dos negros, estes acabaram criando Irmandades próprias, separadas das Irmandades de brancos, onde tinham maior liberdade de ação e através delas promoviam a alforria dos irmãos escravos e garantiam a sua sepultura em solo sagrado. O culto à santa foi introduzido na cultura dos escravos africanos pelos jesuítas, na catequese, para legitimar a religião católica, buscando homens e mulheres negros para a prática religiosa. Esta tendência se consolidou nos séculos XVII e XVIII até que, chegado o século XIX, as Irmandades do Rosário, em sua maioria eram formadas por negros.

Em São Luís, no início do século XVIII, estando a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário à procura de um terreno para fundar uma igreja em homenagem ao seu orago, recebeu em maio de 1717 dos frades carmelitas a doação de um terreno que ficava no mesmo local onde havia sido construída, pelos frades franciscanos franceses, em 1612, a segunda mais antiga edificação religiosa de São Luís, a qual foi ocupada, após a expulsão daqueles, por frades carmelitas durante cerca de uma década, ficando assim o lugar conhecido como “Carmo Velho”.

Os confrades da Irmandade, tendo à frente o negro João Luís da Fonseca, denominado Rei (espécie de presidente ou diretor), levaram aproximadamente sessenta anos para construir a sua Igreja, que foi vistoriada em 1772 e benzida em 1776, ocasião em que também foi trasladada a imagem da Virgem do Rosário da Igreja do Carmo para a nova Igreja. Durante o século XIX a Igreja do Rosário parece ter sido bastante utilizada não apenas pelos seus proprietários, mas por outras Irmandades, pela sociedade em geral e pelo bispado. Em 1814 saiu da Igreja do Rosário, pela primeira vez, a procissão da Caridade, que objetivava realizar enterros gratuitos para as pessoas pobres. Em 1821 ali eram ministradas aulas de primeiras letras pelo padre Domingos Cadavile Veloso e, no período de 1852 até 1861, serviu de Igreja Matriz, visto que a Catedral da Sé havia sido atingida por um raio.

No século XX, com a decadência das Irmandades religiosas em geral, a Igreja do Rosário entrou em processo de rápida deterioração. Diante desse fato, em 1947, o Bispo D. Adalberto Sobral decide transferir para lá a Irmandade de São Benedito (que funcionava na Igreja de Santo Antônio), sob pretexto de que não ficava bem realizar em frente ao Seminário de Santo Antônio a grande festa que a Irmandade promovia todos os anos para o Santo. Desde então a Irmandade de São Benedito é a responsável por zelar e manter a integridade da memória histórica da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e continuam realizando com grande devoção a festa de São Benedito todos os anos no mês de agosto.

 

Compartilhar
Facebook Twitter Email Linkedin