Homenagem a Max Justo Guedes

publicada em 12 de dezembro de 2011, às 13h45

 

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) faz uma singela homenagem ao grande conhecedor marítimo, o almirante Max Justo Guedes, especialista em História Naval Brasileira e em História da Cartografia, que faleceu no dia 07 de novembro, vítima de câncer. Max Guedes prestou grande contribuição ao Iphan enquanto membro do Conselho Consultivo, função que exerceu de 1976 até 2000. Além de tantas outras, também contribuiu para a conservação e difusão do patrimônio naval através da criação dos navios-museus (Contratorpedeiro Bauru e Submarino Riachuelo) e do Museu de Cartografia no Forte de Santo Antonio da Barra, em Salvador, monumento tombado pelo Iphan.

*Saiba mais sobre Max Justo Guedes, nas linhas de Iris Kantor, professora de História da USP.

Ingressou no Colégio Militar do Rio de Janeiro em 1940, embora fosse membro de uma família de militares do Exército, optou pela carreira na Marinha Brasileira a partir de 1946.  Ali, desempenhou cargos que ultrapassaram suas funções estritamente militares, demonstrando, desde cedo, gosto e vocação pelos empreendimentos de natureza pedagógica e cultural, prestando serviços notáveis às instituições públicas brasileiras dedicadas à pesquisa e ao ensino da história naval e cartográfica.

Na Marinha, dirigiu o setor de Patrimônio Histórico e Cultural, re-organizou e equipou  o Serviço de Documentação Geral da Marinha; promoveu a implantação de museus (Museu do Forte da Barra de Santo Antonio – BA; criou os Navios-Museu; Museu da Caravela – Campinas; Espaço Cultural da Marinha – RJ); propôs e coordenou incontáveis colóquios internacionais, preparou edições críticas e publicou coletâneas que são fundamentais para o conhecimento da história brasileira, como por exemplo, os volumes da  História Naval Brasileira.

Não cursou uma faculdade de História, mas considerava-se  discípulo historiador português  Jaime Cortesão (1884-1960), de quem foi aluno, aos 17 anos, no curso de História da Cartografia ministrado aos diplomatas e funcionários do Itamaraty em 1944 e 1945. Desde então, aliou sua expertise náutica com a erudição necessária para análise das fontes cartográficas.

Max Justo Guedes foi um elo entre muitas gerações de historiadores da cartografia luso-brasileira nos dois lados do Atlântico.  Especialmente no Brasil, foi ele quem disseminou as obras monumentais dos irmãos Cortesão (Jaime e Armando), de Teixeira da Mota e de Luis Albuquerque. Mais recentemente, difundiu entre nós os estudos de Inácio Guerreiro, Alfredo Pinheiro Marques, João Carlos Garcia, Andre Ferrand de Almeida e Mario Clemente Ferreira.

Ao longo de 67 anos, o Almirante-historiador teve oportunidade visitar os mais importantes arquivos e museus onde estão depositados os acervos cartográficos de interesse para nossa história. Nesse período, constituiu importante biblioteca de referência (doada à Biblioteca da Marinha).  Sua generosidade conectou especialistas da cartografia histórica em todo o mundo, convidado a participar das mais importantes associações e institutos de pesquisa,  colaborando, inclusive, com a prestigiosa revista Imago Mundi.

Deixou mais de meia centena de estudos e ensaios carto-bibliográficos dispersos em inúmeras publicações que mereceriam ser reunidas em coletâneas, sobretudo, nesse momento, em que a história da cartografia brasileira tem merecido a atenção de historiadores, geógrafos, urbanistas, ambientalistas, etnógrafos e linguistas; deixando de ser um campo de estudos restrito à historiografia militar.

Max Justo Guedes considerava possível e necessário fazer uma história total da cartografia. Insistia sempre na importância do estudo das mitologias clássicas para compreensão das informações geográficas utilizados na cartografia Renascentista. Pioneiro em tantos temas, foi um dos primeiros a chamar atenção para o papel dos jesuítas no mapeamento do território brasileiro. Também estimulou os estudos dos roteiros náuticos, dando especial ênfase às conexões entre a África e o Brasil. Deixou vários projetos inconclusos, como por exemplo, o roteiro para um documentário sobre a construção na Amazônia. Graças a sua atuação e aos seus trabalhos, a historiografia da cartografia luso-brasileira renasceu nas universidades brasileiras nos últimos 10 anos.

 

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