TV Brasil exibe documentários premiados no ETNODOC 2009 a partir do dia 21

publicado em 13 de abril de 2011, às 14h03

 

Os 16 documentários premiados na segunda edição do "Edital de apoio à produção de documentários etnográficos sobre o patrimônio cultural imaterial brasileiro" (Etnodoc 2009) serão exibidos na grade de programação da TV Brasil a partir do dia 21, quinta-feira, no horário das 24 horas. O primeiro filme a ser exibido será Baile do Carmo, de autoria de Daniel Eiji Hanai e direção de Shaynna Pidori. O documentário acompanha os preparativos para mais uma edição do popular festejo retratado no título da produção, tido como a mais sólida manifestação da cultura negra no município de Araraquara (SP) e símbolo de resistência, celebrando a identidade desse grupo étnico. 

Entre os documentários a serem exibidos, o filme Hoje tem alegria, de autoria e direção de Fábio Meira, ganhou o primeiro lugar no festival "É tudo verdade". O documentário acompanha o cotidiano de três circos no norte e nordeste do Brasil, tomando como eixo três personagens míticos da tradição circense brasileira: os pernambucanos Índia Morena e o mágico Alakasan e o amapaense Ruy Raiol.
O Etnodoc foi criado em 2007 a partir de um grupo de trabalho composto por especialistas do Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP) e do Departamento de Patrimônio Imaterial, unidades do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) do Ministério da Cultura. A gestão do Etnodoc, patrocinado pela Petrobras num total de R$ 1.200.000,00, é da Associação Cultural de Amigos do Museu de Folclore Edison Carneiro, vinculada ao CNFCP.

Os documentários destinam-se à exibição em redes públicas de TV, festivais e mostras, no sentido de somar esforços e ampliar as ações voltadas para a valorização e promoção dessa dimensão do patrimônio cultural, e também estimular iniciativas voltadas para a melhoria das condições de transmissão, produção e reprodução dos bens culturais que compõem esse universo. A veiculação conta com a parceria da TV Brasil, por meio de termo de cooperação firmado com o apoio da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura.

O número de projetos concorrentes à segunda edição do edital superou todas as expectativas, recebendo o total de 706 inscrições de todas as regiões do país, o que significou um aumento de mais de 50% em relação ao seu primeiro ano, em 2007. Os projetos vencedores foram divulgados em fevereiro e desenvolvidos e concluídos em dezembro de 2010.

Ordem de exibição e sinopses dos documentários
Baile do Carmo - 21/04/2011

Autoria – Daniel Eiji Hanai
Direção - Shaynna Pidori

O documentário acompanha os preparativos para mais uma edição do popular festejo retratado no título da produção. Tido como a mais sólida manifestação da cultura negra no município de Araraquara (SP), o Baile do Carmo é um símbolo de resistência e celebra a identidade desse grupo étnico. Através dos relatos de pessoas envolvidas com o evento – organizadores e participantes, a produção resgata a importância que essa tradicional festa possui para as gerações passadas e atuais. O documentário enfoca os anseios e expectativas que crescem na vida desses personagens, conforme a realização do Baile se aproxima. Eles surgem sinceros e de corações abertos, expondo o poder transformador de uma única noite em seus cotidianos. 

Hoje tem alegria -  28/04/2011
Autoria e direção – Fábio Meira

O documentário acompanha o cotidiano de três circos no norte e nordeste do Brasil, tomando como eixo três personagens míticos da tradição circense brasileira: os pernambucanos Índia Morena e o mágico Alakasan e o amapaense Ruy Raiol. Os três juntos representam a tradição do circo de pequeno porte no Brasil. Longe dos grandes centros, esses seres errantes e apaixonados por sua arte lutam para manter firme a tradição do maior espetáculo da terra. O documentário ganhou o primeiro lugar no festival "É tudo verdade".

A boca do mundo - 05/05/2011
Autoria e direção – Eliane Coster
A Boca do Mundo - Exu no Candomblé propõe uma abordagem etnográfica e experimental sobre as múltiplas manifestações culturais de Exu, orixá/deus da religião afro-brasileira Candomblé.

A realização do documentário subverte as formas tradicionais de realização documental e parte de oficinas de capacitação em audiovisual, com adeptos do Candomblé considerando a intimidade dessas pessoas com os aspectos relacionados a Exu, sejam eles materiais ou espirituais. Nesse sentido está a ideia de trazer membros da religião para a captação das imagens a fim de tornar a representação mais interessante e verdadeira. O documentário traz depoimentos de Mãe Beata de Iemanjá, ialorixá do Rio de Janeiro, e outras pessoas que vivem o Candomblé.

Quindim de Pessach - 12/05/2011
Autoria – Viviane Lessa Peres
Direção – Olindo Etevam

Quindim de Pessach retrata um rico encontro entre a cultura judaica e brasileira através da culinária, retratando o modo como esse saber foi transmitido pelas matriarcas judias para suas brasileiríssimas cozinheiras, que aprenderam com elas não apenas as receitas desses pratos carregados de tradição, mas também todos os costumes - simbólicos, festivos e religiosos - relacionados à comida. São histórias de vida recheadas de encontros e sabores! O documentário mostra ainda como nossas cozinheiras se apropriaram, com tanta dedicação, de uma nova cultura, acrescentando a ela os sabores de suas miscigenadas raízes, e se tornaram detentoras de um importante saber, transmitido às novas gerações que vêm descobrindo a importância de preservar suas tradições.

Dona Joventina - 19/05/2011
Autoria - Clarice Kubrusly
Direção - Clarisse Kubrusly e Milena Sá

O documentário apresenta as polêmicas “biografias” de Dona Joventina, boneca do maracatu "Estrela Brilhante". A escultura de madeira escura ficou durante 30 anos (1965-1996) sob a posse da pesquisadora Katarina Real, antes de ser doada ao acervo do Museu do Homem do Nordeste em Recife. Hoje existem duas nações de maracatu que se denominam "Estrela Brilhante" e que de formas distintas reivindicam a posse e a retirada da boneca do museu. Uma nação fica localizada no Alto José do Pinho, na cidade do Recife, e a outra, em Igarassu, antigo município dos arredores da capital. O filme etnográfico registra a visita das duas nações ao museu buscando mostrar os sentimentos e os usos dos diferentes sujeitos envolvidos com Dona Joventina e outras bonecas de maracatu.

João da Mata falado - 26/05/2011
Autoria – Ana Stela Cunha
Direção – Vicente Simão Júnior e Ana Stela cunha

Os encantados, tema do documentário, são entidades que figuram nos Pajés – religião de matriz negro-africana praticada mais extensamente na borda oeste do Estado do Maranhão, Brasil.

O filme centra a atenção na família de João da Mata, um encantado pertencente à linha dos “caboclos”, e que é conhecido por praticar curas (físicas ou espirituais). Essas definições são maleáveis e oscilam segundo a casa e a experiência de cada praticante/Pajé.

Palavras sem fronteira – tradições orais nos limites do Brasil - 02/06/2011
Autoria e direção– Luciana Hartmann

Palavras sem fronteira é um documentário sobre contadores de causos/cuentos que habitam a tríplice fronteira entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina. A narrativa audiovisual explora as nuances e a riqueza dessa manifestação expressiva, com um enfoque especial para os seus protagonistas, os contadores, e suas particulares performances. No documentário são privilegiados os encontros entre os habitantes da região, muitos deles casais de diferentes nacionalidades, famílias ou grupos de amigos que em “roda de causos” multiculturais revelam, através de suas histórias, as riquezas e peculiaridades que caracterizam o viver “na fronteira”. João Emílio, Don Chico, Seu Napoleão, Dona Lira, Nelson e Morocha são alguns dos narradores que conduzem com sensibilidade e bom humor o espectador pelo universo dos causos fronteiriços.

Soldados da borracha - 09/06/2011
Autoria e direção – Cesar Garcia Lima
O que aconteceu aos seringueiros que extraíam borracha na Amazônia para ajudar os Aliados, durante a Segunda Guerra Mundial? A maioria morreu sem nenhuma assistência na própria floresta que a propaganda de guerra divulgava como paraíso. O Acre foi seu destino preferido e é nesse cenário de luta pela preservação ecológica que os sobreviventes contam como a promessa de riqueza deu lugar à solidão e ao desamparo. Em meio a imagens da região nos anos 1940, nas cidades de Rio Branco, Plácido de Castro e Xapuri, eles mantêm a memória acesa e não sucumbem à infelicidade, mesmo que o outono de suas vidas tenha chegado.

No rastro - 16/06/2011
Autoria e direção – Marcus Antonio Moura Tavares

No sertão do Inhamuns, Estado do Ceará, vive há 96 anos Zé Valadão. Ele é um dos últimos representantes de uma estirpe sertaneja em extinção: os rastejadores. Uma rês perdida do rebanho, um ladrão de cavalos, um assassino que a polícia não encontrou, uma criança perdida na caatinga, nada escaparia da sabedoria e das artimanhas dos Valadões. Ao lado dos irmãos Chagas, Assis e Antonio, já falecidos, transformou-se em verdadeira lenda na região. A palavra de um Valadão valia mais que a sentença de um juiz ou um informe de detetive. Se alguém passasse por eles na vida e deixasse alguma marca no pedregoso e duro chão nordestino, jamais esqueceriam. Para eles é mais fácil lembrar de um rastro que de um rosto. Hoje ainda trabalha em sua pequena roça de milho e na criação de algumas vacas e cabras, além de observar atentamente o progresso do neto e de um sobrinho nas artes e técnicas do rastejar.

Vento Leste - 23/06/2011
Autoria e direção – Joel de Almeida

Trata-se de um documentário poético que irá mostrar a viagem de dois dos últimos saveiros comerciais da Baia de Todos os Santos: o É da vida,  que sai da tradicional localidade de Maragogipinho, carregado de cerâmicas, e o Sombra da lua, que sai de Maragogipe, carregado de frutas, verduras e carnes defumadas, ambos com destino a Salvador. Na primeira parte do percurso,  o espectador irá ver nas margens, ruínas de fortificações,  engenhos de açúcar e igrejas do Brasil Colonial, e na segunda parte, indústrias modernas, uma movimentação de barcos cortando o mar em alta velocidade e grandes cargueiros ancorados no porto. Durante o trajeto, os mestres tripulantes revelam suas experiências de vida, fatos históricos e lendas da região.

Kusiwarã Jarãkõ – as marcas e criaturas de Cobra Grande - 30/06/2011
Autoria – Dominique Tilkin Gallois
Direção -  Gianni Maria Puzzo

O documentário trata das formas de criação e recriação dos padrões gráficos, que constituem um dos saberes valiosos - juntamente com cantos, danças e diversas tecnologias - apropriados pelos Wajãpi em seus contatos com os donos da água e da floresta. Cobra-Grande, dono e controlador do universo aquático, está presente na vida cotidiana dos Wajãpi, que comentam, no filme, os modos adequados de se comportar e conviver com ele.

Lá do Leste - 07/07/2011
Autoria – Carolina Caffé
Direção - Carolina Caffé e Rose Satiko Gitirana Hikiji

Street dance, grafite, rap e gospel. O filme mostra como a experiência periférica urbana tem um lugar central na produção dos artistas de Cidade Tiradentes, que cresceram junto com o distrito paulista e em suas obras dialogam com seus desafios e sonhos. A Cidade Tiradentes é o maior complexo de conjuntos habitacionais populares da América Latina, lugar marcado pela exclusão, com loteamentos clandestinos e favelas, no qual a população orquestra suas dificuldades com dinâmicas próprias de sociabilidade, moradia e apropriação do território.

Curandeiros do Jarê -14/07/2011
Autoria – Camilla Dutervil
Direção - Marcelo Abreu Góis

Curandeiros do Jarê é a historia de Ademário, personagem principal do documentário e filho de santo do Jarê. O documentário percorre o universo mítico da cura, da relação com a natureza e dos conhecimentos ancestrais que o curandeiros detém sobre a medicina natural. O Jarê das Lavras Diamantinas existe somente na região da Chapada e é uma face do Candomblé muito pouco estudada e reconhecida no Brasil. Atualmente, com praticamente duas décadas de proibição oficial do garimpo na região, houve uma grande evasão dos garimpeiros que viviam nas serras e muitas Casas de Jarê não mantém mais as suas práticas. Em Curandeiros do Jarê, Ademário, Ogan da Casa de Jarê de Pai Gil de Ogum, luta contra uma grave doença cardíaca que o faz iniciar uma jornada de fé e coragem em busca da cura. Durante seu caminho, o mundo físico e o espiritual se unem e as fronteiras das experiências terrenas são eliminadas, aproximando os vivos, os mortos e os encantados.

As escravas da Mãe de Deus - 21/07/2011
Autoria – Decleoma Lobato Pereira
Direção – Áurea Pinheiro e Cássia Moura

O argumento central é a folia popular “Escravas da Mãe de Deus da Piedade”, que ocorre na região de Igarapé do Lago, distrito do Município de Mazagão, no Amapá. A celebração em louvor a Nossa Senhora da Piedade é o fio condutor do filme. O centro da narrativa é a celebração: os fiéis, as crenças e os rituais. Busca-se uma composição entre palavras, gestos e sons. A própria observação das pessoas, enquanto fiéis, seus silêncios, gestos, rostos, movimentos de mãos, olhares, revela circunstâncias ritualísticas que comunicam uma paisagem visual e sonora. Busca-se uma composição de sons originais das rezas, ladainhas, batuques e paisagem natural, a partir dos recursos da etnografia e da música, sem perder de vista uma verossimilhança com o ritual e suas características originais.

Eu tenho a palavra - 28/07/2011
Autoria e direção - Lilian Solá Santiago

Uma viagem linguística em busca das origens africanas da cultura brasileira. O antigo reino do Congo foi a origem da maioria dos africanos escravizados no Brasil que, no cativeiro, criaram diversos dialetos para que pudessem se comunicar livremente. A “língua do negro da Costa” é um desses dialetos, ainda preservado na comunidade remanescente de quilombo de Tabatinga (Bom Despacho, MG). O idioma é composto por um português rural do Brasil-Colônia e línguas do grupo Banto, com predomínio do quimbundo e mbundo, faladas até hoje em Angola. Dois personagens – um falante da “língua do negro da Costa” e outro falante de quimbundo e mbundo –  são os guias nessa viagem transoceânica de reconhecimento.

Mbaraká – a palavra que age  -  04/08/2011
Autoria – Spensy Kmitta Pimentel
Direção – Edgar Teodoro da Cunha

A partir de entrevistas com os xamãs nhanderu, e de registros dos seus cantos, danças e cerimônias, o filme aborda o universo dos cantos xamânicos por meio dos aspectos performáticos da palavra, da sonoridade, do gesto, da dimensão onírica e de volição mobilizada pelo canto. Se a palavra pode ser história, mito e narrativa, entre os Guarani-Kaiowá ela também é poesia e profecia: um canto de esperança em um futuro melhor.

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