Brasil e Benim farão inventário de bens do patrimônio cultural associados a ambos os países

publicado em 17 de março de 2011, às 13h03

 

Iniciativa é resultado de Projeto de Cooperação Técnica firmado pelo governo brasileiro com o país africano durante a 34ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco, sediada em Brasília, em julho de 2010

Na próxima semana, o Iphan inicia a implementação do projeto de Gestão do Patrimônio Material e Imaterial no Benim: Inventário dos Bens Culturais de Origem Brasileira. A ação conta com o apoio da Agência Brasileira de Cooperação – ABC, ligada ao Ministério das Relações Exteriores, e do Ministério da Cultura. Desenvolvido no âmbito da Assessoria de Relações Internacionais do Iphan, o Projeto de Cooperação Técnica envolve a participação dos departamentos do instituto responsáveis pelo patrimônio material e imaterial.

A execução começa com uma missão técnica brasileira ao Benim, que realizarão uma oficina de capacitação dos técnicos da Direção Nacional de Patrimônio do país africano com a finalidade de aplicação do Sistema Integrado de Conhecimento e Gestão – SICG, desenvolvido pelo Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan. Este sistema e sua metodologia serão apresentados para uso na identificação de bens culturais beninenses vinculados à presença brasileira no continente africano.

Laços afro-brasileiros
O Brasil e o Benim têm entre si um patrimônio cultural compartilhado, marcado pela colonização portuguesa e o fluxo de imigração da diáspora africana, em consequência da escravidão ocorrida entre os séculos XVII a XIX. A influência marcou não apenas a arquitetura, notadamente de origem lusa e adaptada em terras brasileiras, como também a conjugação da cultura africana com as culturas locais no que ficou conhecido como cultura afro-brasileira.

Uma demonstração do reconhecimento da importância do Benim na formação histórica e cultural do Brasil, particularmente do estado da Bahia, é o fato de este ter sido o país de onde o Brasil recebeu o maior fluxo populacional durante a diáspora africana. A partir do século XVII, os portugueses estabeleceram entrepostos no litoral do Benim, conhecido então como Costa dos Escravos. Mas foi principalmente no século XIX que ocorreu o envio mais significativo de beninenses escravizados para o Brasil e Caribe.

Desta forma, são indiscutíveis as influências transversais e o patrimônio compartilhado entre o Brasil e Benim. A história comum a ambos países está documentada por seu patrimônio cultural,  material e imaterial, tanto aqui quanto na África. No Brasil, grande parte dos bens imateriais já reconhecidos pelo Iphan tem origem africana, como o ofício das baianas do acarajé ou o tambor-de-crioula do Maranhão. Além disso, destaca-se o fato de o candomblé, de origem africana, ter sido uma prática de resistência contra a escravidão no Brasil e a colonização europeia no Benim.

Mais tarde, a interseção entre as culturas brasileira e africana ocorreria no sentido inverso, quando, após a abolição da escravatura, grupos de libertos ou seus descendentes retornaram aos países de origem na África. Eram emigrantes brasileiros, levando de volta ao continente africano costumes e formas europeias absorvidas no Brasil.

Marcantes também são as edificações erigidas pelos libertos ou seus descendentes regressos à África. Os construtores e artesãos mestres que retornaram para o Benim para criar e construir não dispunham de esboços para guiar seus trabalhos. Até hoje, um grande número de edificações na região continua sendo construído sem se apoiar em desenhos, numa perpetuação do trabalho comunitário ético ou étnico que constrói as formas e os espaços das tradições formadas por suas culturas.

As casas brasileiras, como são conhecidas até hoje, foram construídas em sua maioria durante o século XIX e logo chamaram a atenção pelos seus cômodos mais definidos, diferentes das moradias beninenses de até então. São sobrados espaçosos, como os que ainda existem em várias cidades do interior do Brasil ou mesmo em Salvador, cidade inspiradora do que eles chamam de estilo brasileiro no Benim. A marca da arquitetura brasileira também está gravada na grande mesquita de Porto Novo. Construída em 1930, a mesquita tem características de uma igreja barroca brasileira.
Os estilos arquitetônicos afro-brasileiros estiveram em voga durante as décadas de 40 e 50 no centro urbano de Porto Novo, de onde se disseminaram para o leste, oeste e norte do Benim. Os construtores responsáveis por essa difusão pertenciam a uma segunda geração, que havia aprendido com os mestres construtores afro-brasileiros.

É nesta base histórica, portanto, que se apoia o projeto de cooperação, cujo objetivo é a identificação do patrimônio cultural brasileiro na África, por parte dos próprios beninensese com a assessoria técnica do Iphan.

 

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