Olinda, em Pernambuco, transforma-se na maior galeria de arte aberta do país

publicado em 24 de novembro de 2006, às 13h24

 

Eleita no ano passado a primeira capital brasileira da Cultura, Olinda é reconhecida nacionalmente pelo seu carnaval, artesanato e gastronomia, que, a exemplo da cultura popular, são atrativos a mais para turistas e visitantes que transitam pelo Sítio Histórico da Cidade. Com suas igrejas históricas e sua arquitetura repleta de ladeiras e referências coloniais, Olinda acolhe um grande número de artistas que hoje produzem, incansavelmente, obras e artes durante o ano inteiro. A cidade é Patrimônio Histórico reconhecida pela UNESCO e está em destaque entre os sítios urbanos históricos brasileiros, neste ano. Por isso tem sido alvo de uma série de projetos do Programa Monumenta, do Ministério da Cultura (MinC).

Uma fonte de criatividade que é reunida, uma vez por ano, pelo já consagrado projeto Olinda Arte em Toda Parte, que está na sua sexta edição e acontece, neste ano, de 23 de novembro a 03 de dezembro – congregando ateliês e espaços culturais numa imensa galeria de arte, aberta gratuitamente ao público. Ao todo, serão 300 artistas plásticos que movimentarão mais de 100 ateliês espalhados pela cidade, além de exposições ocupando bares, restaurantes, pousadas, museus, igrejas e outros espaços públicos abertos ao público. Além disso, o Olinda Arte em Toda Parte possui outro atrativo: os artistas inscritos participam do evento recebendo e atendendo visitantes durante o evento. Uma troca de informações diretas sobre arte, sobre os temas expostos e sobre os formatos das pinturas e das esculturas exploradas. Um projeto que aproxima os criadores e o público interessado em arte. O Lançamento do megaevento aconteceu na última quinta (23), no Mercado Eufrásio Barbosa, com a abertura da Mostra Panorâmica Virtual que reúne obras de 188 artistas que integram o catálogo 2006 do projeto.

Entre os participantes, nomes conhecidos nacionalmente, como Samico, Roberto Lúcio, Giusseppe Baccaro, Guita Charifker, Tereza Costa Rego, Luciano Pinheiro, Iza do Amparo, Marina Mendonça e Sylvia Pontual, entre tantos outros. Com estilos diferentes, eles retratam suas verdades e estarão presentes no catálogo desta sexta edição. Uma das novidades este ano é a Exposição Panorâmica Virtual, que fica em cartaz no Mercado Eufrásio Barbosa. A mostra reúne imagens das obras dos artistas presentes no catálogo 2006 que são projetadas nas paredes e podem ser conferidas nos horários de visitação.  Lá, assim como em alguns outros pontos de visitação do projeto, também haverá obras e vídeos do artista Euclides Francisco Amâncio, o famoso Bajado, falecido há 10 anos (em 15 de novembro de 1996) e que é o tema do projeto este ano.

No ano passado, mais de 30 mil pessoas visitaram o projeto durante os dois finais de semana do evento. Assim, a organização espera repetir o mesmo número de visitantes neste ano - lotando hotéis, bares e restaurantes do Sítio Histórico. Nesta 6ª edição, o Olinda Arte em Toda Parte amplia suas possibilidades artísticas e promove o intercâmbio cultural com outro projeto semelhante, o Arte de Portas Abertas do bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro. Foram convidados oito artistas plásticos, que trabalham na capital carioca e irão, durante o evento, expor parte de suas obras no Atelier de Artes (Rua de São Bento, 233 – Varadouro), de segunda a sexta, das 9h às 19h e sábados e domingos, das 15h às 21h. 

“O intercâmbio começou quando cinco artistas de Olinda foram convidados pelo Arte de Portas Abertas para expor seus trabalhos no Rio de Janeiro, em junho deste ano. Agora, chegou o momento de nós retribuirmos”, lembra a coordenadora do Olinda Arte em Toda Parte, Joana Mendonça. “Essa é uma forma de aquecer a economia local e de buscar a revitalização de Olinda, como verdadeiro pólo turístico, artístico e cultural de Pernambuco”, ressalta a também coordenadora, Carol Ferreira.

Iniciativa
O evento já faz parte do calendário cultural do Estado e tem como meta atrair mais visitantes para Olinda durante os meses de novembro e dezembro, além de mostrar as peculiaridades e as riquezas da cidade. “Queremos mostrar que Olinda não é só Carnaval e que a cidade tem atrativos turísticos durante o ano inteiro. Seja pelos ateliês ou pelos casarios tombados, bares, apresentações artísticas, praças, mosteiros, gastronomia e igrejas seculares”, comenta Joana Mendonça.

Segundo ela, as visitantes poderão adquirir peças em cerâmicas, telas a óleo, artesanato e esculturas por preços até 40% mais baixos do que os praticados habitualmente. Isso porque o turista vai poder comprar o produto diretamente do artista e negociar o preço final sem os chamados atravessadores. O projeto ainda disponibiliza vans que circulam, gratuitamente, pelo roteiro cultural nos finais de semana – dias 25 e 26 de novembro e 02 e 03 de dezembro, das 15h às 21h, com saídas de 10 em 10 minutos do Mercado Eufrásio Barbosa, no Largo do Varadouro. Para facilitar a localização, banners são fixados nas fachadas de todos os locais envolvidos. Também há equipes de monitores – estudantes de turismo e hotelaria – disponíveis para prestar ajuda e orientação sobre o evento.

“O Olinda Arte em Toda Parte já é, sem dúvida, um dos mais importantes eventos artístico-culturais de Pernambuco e do Brasil. Ampliando assim, a cada ano, sua área de influência. Isso graças ao crescimento da participação de artistas, de ateliês e de modalidades de diversas expressões locais, além da inclusão de novos segmentos da sociedade, como jovens e idosos. É, sobretudo, mais uma oportunidade de democratizar o acesso aos bens culturais e históricos da cidade, que se constituem em patrimônio coletivo de todos os brasileiros”, entusiasma-se a prefeita de Olinda, Luciana Santos.

A 6ª edição do Olinda Arte em Toda Parte é uma realização do Instituto Mobiliza de Educação, Cultura e Cidadania e da própria Prefeitura de Olinda, que contam com o patrocínio do Programa Monumenta (MinC), Petrobrás, Caixa Econômica Federal, Chesf, Ministério da Cultura e Governo do Estado de Pernambuco. O projeto ainda conta com o apoio de Gráfica Santa Marta, Skill Cursos de idiomas – Inglês e Espanhol, Shopping Center Recife, Vinhos Botticelli, Rede Globo Nordeste, Transporte Rota Dourada, Ateliê Produtora e Mello´s Recepções.

Bajado, um artista (cara) de Olinda
O Olinda Arte em Toda Parte homenageia nesta 6ª edição o artista pernambucano Euclides Francisco Amâncio, o famoso Bajado, falecido há 10 anos (em 15 de novembro de 1996) e conhecido como pintor dos dramas e das alegrias do povo.  Auto-intitulado, um artista de Olinda, Bajado nasceu em Maraial, no interior pernambucano, e radicou-se no Sítio Histórico (em 1930), lugar que disse “ter escolhido para viver e morrer”.

Bajado começou sua vida profissional pintando caricaturas e cartazes de cinema, ainda em Caetés - cidade onde foi criado. Anos depois, ganhou destaque pela originalidade de seus trabalhos com temática no folclore e nas imagens de Olinda. É considerado um artista primitivista e naif (arte da espontaneidade, da criatividade autêntica, do fazer artístico sem escola nem orientação). Portanto, um artista instintivo, que revelou seu universo particular e seu talento em diversas coletivas e individuais em Pernambuco, no Brasil e no exterior.

O apelido Bajado surgiu durante uma brincadeira. Foi quando ofereceu apostar “10 mil réis ‘bajado’ na Cabra”. Ele não tinha o dinheiro para a aposta e blefou apenas para chamar a atenção. Os amigos ficaram espantados com a palavra “bajado”, sem significado, e passaram a chamá-lo por este nome.  Bajado morreu, em 1996, faltando 20 dias para completar 85 anos. Estava doente, com catarata e quase sem visão, mas sempre com muita alegria de viver.

Durante suas exposições na Europa, foi eleito, por um jornalista parisiense do “Le Monde”, como uma golfada de ar puríssimo na galeria da Embaixada Brasileira em Paris, numa exposição para a Trienal da Arte Nativa de Bratislava, a maior do gênero no mundo. Em 1980, foi destaque no carnaval de Olinda, que o homenageou, ainda vivo, com a decoração e temática “Bajado: Rei dos Pintores”, sendo coroado por Alceu Valença. Hoje, a Prefeitura Municipal de Olinda mantém a exposição permanente sobre Bajado, com 39 obras do artista. Durante o evento, a exposição fica aberta ao público, no Palácio dos Governadores (Rua de São Bento, 123 – Varadouro), de segunda a sexta, das 9h às 19h. E aos sábados das 15h às 21h.

Bajado também será homenageado pelo Projeto Arte na Passarela que promove no próximo dia dia 24, às 20h, um desfile de Moda no Mercado da Ribeira (Rua Bernanrdo Vieira de Melo – Carmo), exibindo uma coleção de peças inspiradas em trabalhos do artista, que foram desenvolvidas por três jovens integrantes da oficina de moda e estilismo do Ponto de Cultura Graúna, monitoradas pela estilista Rejane Trindade. A trilha sonora do desfile foi elaborada especialmente por músicos de Olinda. Mas antes do desfile o público vai poder assistir a exibição do filme “Bajado – um artista de Olinda”, da cineasta Kátia Mesel.

O Arte na Passarela conta com o apoio da artista plástica Giselda, filha de Bajado, mais conhecida por Deda Bajado, que auxilia as meninas na elaboração dos looks. Deda aproveita às homenagens a Bajado e abre as portas da casa onde o pai morou, na rua do Amparo, 186, com uma exposição para visitação pública. Durante o Arte em Toda Parte, o público também poderá conferir no Mercado da Ribeira uma exposição de aquarelas pintadas por Bajado, obras raras pertencentes ao acervo do colecionador Chico Mota, além de documentos e outras publicações.

Olinda, patrimônio vivo
Olinda acolheu o fidalgo português Duarte Coelho, em 1935, como Capitania de Pernambuco. Foi a primeira capital de Pernambuco. É famosa pelo carnaval, pelos bonecos gigantes e pelos seus monumentos históricos e beleza natural. Em 1982, foi tombada pela Unesco como Cidade Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade e foi o segundo município brasileiro a conseguir também o título de Cidade Ecológica, por meio de Decreto Municipal. No ano passado, foi eleita a primeira Capital Brasileira de Cultura, com apoio do Ministério da Cultura.

As ladeiras do Sítio Histórico são repletas de botecos que dão um ar de simplicidade a cidade. A Bodega de Véio, localizada na rua do Amparo, por exemplo, é um dos mais antigos e tradicionais. Uma mistura de mercearia e bar, que se torna parada obrigatória para turistas e para moradores. Que tal uma cerveja gelada ou salaminho fresco?

Os turistas também podem aproveitar a viagem para conhecer a história das igrejas (são 22); como as  seculares Igreja de São Pedro Mártyr, Rosário dos Homens Pretos, Misericórdia, Convento de São Francisco, a Basílica, Mosteiro de São Bento (Século XVI). Este último, é o segundo, de ordem beneditina, em terras brasileiras. Tem ainda a Categral da Sé, construída em 1537 e que abriga atualmente o corpo de Dom Hélder Câmara, falecido em 1999, além de outros templos católicos.

O Oficina do Sabor, na Rua do Amparo, oferece a mistura do tempero típico do Nordeste com a pitada especial das frutas tropicais. Quem preferir o tradicional pode apreciar o Festival de Mexilhões frescos, no restaurante Maison do Bonfim. Mas visitar a Cidade Alta e não desfrutar as suas iguarias é falta grave. No Alto da Sé, por exemplo, o visitante pode comer tapiocas feitas na hora, além de queijos assados, acarajé, bobó de camarão e bebidas exóticas, como caipirosca, caipifruta e o famoso Pau do Índio – bebida energética e afrodisíaca feita com a mistura de ervas.

Assessoria de Comunicação:
Programa Monumenta
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Tels: (61) 33268907/ 33263911 / 33266864 / 33268014
e-mails: fernanda.pereira@iphan.gov.br
rosangela.nuto@iphan.gov.br
rosa.pitsch@iphan.gov.br
helenabrandi@iphan.gov.br

 

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