Feirantes e comunidade recebem título da Feira de Caruaru como patrimônio imaterial do Brasil

publicado em 12 de fevereiro de 2007, às 15h55

 

O ministro Gilberto Gil e o presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, estiveram nesse sábado, dia 10 de fevereiro, às 10h30min, na Feira de Caruaru (PE). Eles fizeram a entrega do diploma que confere à Feira de Caruaru o título de patrimônio imaterial brasileiro. O prefeito municipal, Tony Gel, recebeu a certidão junto com representantes da Associação dos Artesãos e Comerciantes da Feira de Artesanato e da Associação da Feira da Sulanca. Durante a cerimônia, houve apresentações de grupos locais, como a Banda de Pífanos de Caruaru.

O pedido de registro da Feira como patrimônio imaterial foi entregue ao instituto pela Prefeitura em 2004, quando se iniciou o Inventário Nacional de Referências Culturais - INRC no local. O trabalho de pesquisa foi realizado pela Superintendência Regional do Iphan com recursos próprios da autarquia, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco.

O INRC é uma metodologia desenvolvida pelo Iphan para documentar aspectos da vida social que podem ser considerados referências de identidade para um grupo ou uma comunidade. O inventário reúne uma série de materiais multimídia que catalogam as práticas da cultura estudada. O conceito de referência cultural, como objeto de preservação do Estado, diz respeito a representações que configuram uma identidade da região para seus habitantes.

“A comunidade abraçou a idéia do registro e se envolveu desde o início. Entidades de classe e a diocese encaminharam ofício ao Iphan referendando o pedido da Prefeitura. Gerou-se uma expectativa muito grande de todos e passantes na rua questionavam o andamento do processo. A imprensa local, principalmente, deu muita visibilidade ao caso”, conta Valmiré Porto da Silva, diretor de Patrimônio da Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru.

O registro da Feira de Caruaru como patrimônio imaterial brasileiro se destina a proteger a dimensão desse espaço sócio-cultural que movimenta entre R$ 20 e R$ 40 milhões por semana, na baixa e na alta estação. A Feira foi inscrita no Livro de Registro dos Lugares, destinado a englobar locais que, independentes de valor arquitetônico, urbanístico, estético ou paisagístico, constituem suportes fundamentais para a continuidade das práticas e atividades que abrigam.

As Feiras da Feira
Esse lugar apontado como objeto de registro pelo Iphan, corresponde, hoje, a um conjunto de equipamentos e feiras formado pela Feira do Gado; pela Feira do Artesanato, aí incluído o Museu do Cordel - ponto de exposição, produção e reprodução de expressões artísticas populares; pelos Mercados da Carne e da Farinha situados no Parque 18 de Maio; e pela chamada Feira Livre com todas as suas “feiras” ou subdivisões, inclusive a das confecções populares e a chamada Feira do Troca-Troca. Outros bens associados à Feira Caruaru e arrolados no inventário, como o Museu da Feira, instalado no prédio do antigo Mercado da Farinha no Centro da cidade, deverão ser objeto de iniciativas específicas de preservação por meio de tombamento.

Segundo parecer do Departamento de Patrimônio Imaterial - DPI do Iphan, os valores históricos, memoriais, culturais e econômicos atribuídos à feira de Caruaru que permitem delimitá-la como o objeto de registro. Como consta do extenso dossiê preparado pela equipe do Instituto, esses valores estão presentes no vínculo espacial e funcional da feira com área central da cidade; nos produtos artesanais que ali são comerciados e, eventualmente, confeccionados; nos saberes e conhecimentos tradicionais que esses produtos mobilizam, como o que orienta o uso de ervas e propicia o exercício da medicina popular; nas expressões artísticas que a feira abriga e enseja; nas memórias que evoca; na gastronomia típica do Nordeste a que ali se tem acesso; na variedade dos produtos agrícolas regionais que nela encontram mercado e fomentam a preservação de sistemas agrícolas tradicionais; na criatividade contida em muitos produtos e também no modo como se comercia. “Em suma, a feira como um Lugar que abriga tudo isso e que reverbera como referência para além da cidade, do estado e da região onde está”, explica Márcia Sant’Anna, diretora do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan.

Identidade regional
“Todo caruaruense nasce sabendo que a Feira é sua principal referência cultural, que confere identidade ao município. A iniciativa de preservação desse espaço lançou um novo olhar sobre ela, por enfatizar o seu valor cultural, referendado agora pelo Iphan - entidade máxima do Brasil na gestão do patrimônio”, explica Valmiré Silva.

A salvaguarda da Feira de Caruaru também compreende a identificação de seus problemas sócio-espaciais, como o crescimento desordenado da feira, que se ampliou em quase cinco vezes nos últimos vinte anos. Outro ponto preocupante é a ocupação dos espaços de acesso à feira e de vias públicas de Caruaru por feirantes denominados “invasores”, que, na alta estação de vendas, chegam a somar 10 mil.

Essas questões apontam para a necessidade de melhorias urgentes no sistema de planejamento, gestão, controle e fiscalização do conjunto de feiras da cidade de Caruaru, de modo a se evitar a atratividade excessiva desse conjunto e um crescimento e uma apropriação de espaços descontrolados, o que poderá vir a comprometer seu desempenho e sustentabilidade no longo prazo.

 

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