publicado em 09 de março de 2007, às 16h31

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e o Programa Monumenta do Ministério da Cultura promovem na próxima semana, de 12 a 16 de março, um curso de qualificação de Mestres Artífices a ser ministrado no Quartel do Vinte, onde funciona o CEP – Centro de Educação Profissionalizante, localizado na Praça Brasil Caiado (antigo Largo do Chafariz), na cidade de Goiás (GO).

O objetivo do curso, aberto a todos, é instruir a comunidade local, tanto os moradores quanto os profissionais da construção civil, a respeito da importância de manter as técnicas originais de edificação na reforma/restauração de imóveis tombados.

Dezenove proprietários de casas do núcleo urbano de Goiás já receberam financiamento da Caixa Econômica Federal para restauração das suas residências, e ainda há vários outros contratos de empréstimo em andamento. A proposta do curso de qualificação de artífices é orientar a maneira correta de realizar obras de restauro e conscientizar a comunidade da importância de seguirem um padrão de intervenção nos imóveis desse Centro Histórico, que foi inscrito pela UNESCO na lista do Patrimônio Mundial em 2001.

“A Cidade de Goiás possui cerca de 800 imóveis tombados em conjunto. Não se pode alterar os elementos construtivos dessas edificações, sob risco de total descaracterização”, explica o técnico do Iphan Jorge Campana, um dos instrutores do curso.

Está é a segunda experiência de aplicação desse curso, a primeira foi em Natividade (TO), semana passada, e há previsão de se ministrar o mesmo programa em outros núcleos urbanos tombados. “Deu para perceber, entre os profissionais de construção civil da região, muito interesse em aprender, muita dedicação e prazer em trabalhar com o patrimônio”, observa Campana.

Conteúdo programático
O curso trata, basicamente, das especificidades de obras de restauração, que, ao contrário das reformas comuns, requerem a compreensão do edifício, no seu contexto histórico de suas metodologias construtivas. “As obras em núcleo histórico requerem um direcionamento, dado pelo Iphan, que concebe um padrão de intervenção a partir do que é elemento mais original. Ou seja, aquelas casas cujas estruturas de madeira, alvenarias de taipa e adobe, pisos cerâmicos, estruturas de telhados e mantos de cobertura, ainda conservam seus elementos construtivos originais, sem as inserções de elementos contemporâneos”, explica Campana.

“Ressaltamos, por exemplo, a importância do uso da cal em vez de cimento, e ensinaremos a prepará-la. O uso da cal tem sido abandonado nas últimas décadas em detrimento de argamassas à base de cimento, que se apresentam maior performance nas edificações contemporâneas, principalmente as estruturadas com concreto armado. As argamassas à base de cal, ao contrário, são mais adequadas às edificações históricas apresentando uma maior compatibilidade com alvenarias de pedra e cal, adobes, taipas entre outras”. 

Haverá aulas expositivas e práticas, num canteiro-escola no próprio Quartel do Vinte, prédio que sediou uma unidade militar do XX Batalhão de Infantaria, é tombado e de propriedade do Iphan, e está cedido a Secretaria do Estado da Educação. Junto com Jorge Campana, Antônio Carlos Corrêa (Mestre Maricá) também vai ministrar aulas, difundindo a formação como Mestre Artífice que conquistou, em Veneza, em 2002, um curso financiado pelo Monumenta.

Mestres Artífices são detentores de conhecimentos tradicionais da construção, como ferreiros, canteiros, carpinteiros, mestres em ofícios construtivos, ligados à arquitetura brasileira, que trabalham com diferentes técnicas, como taipa, pau-a-pique, adobe, pedra e outros materiais. A proposta do curso em Goiás e Tocantins é de também formar multiplicadores que possam disseminar essas práticas em âmbito local.

Cidade tombada
A Cidade de Goiás é a única testemunha íntegra da arquitetura bandeirista, remanescente da saga da conquista do Centro-Oeste brasileiro. Fundada em 1726, a então chamada Arraial de Sant’Ana, cresceu em torno da extração de ouro às margens do Rio Vermelho. O bandeirante paulista Bartolomeu Bueno da Silva (Anhangüera) tratou de erguer uma capela dedicada à Sant’Ana, dando início à povoação.

O Centro Histórico do município é composto de um harmonioso conjunto arquitetônico homogêneo em razão do tamanho e das proporções do casario. Cada rua possui um aspecto particular e, de acordo com os vários declives de relevo, oferecem, a cada cruzamento, vistas surpreendentes.

Imóveis Privados
Com a intenção de ampliar a atuação do Programa e viabilizar a recuperação de edificações nas áreas de projeto do Monumenta, são oferecidos financiamentos para reformas em imóveis privados. Estão sendo disponibilizados para os municípios conveniados cerca de R$ 63 milhões para bancar as obras.

O financiamento tem condições especiais. A taxa de juro é zero e os prazos variam de 10 a 20 anos para obras de recuperação de fachadas e coberturas, estabilização e consolidação da estrutura do imóvel e para embutir a fiação elétrica. Reparos no interior dos imóveis são admitidos somente para proprietários com renda de até três salários mínimos.

Os imóveis são selecionados por edital lançado pelo município ou estado. Os interessados elaboram propostas de intervenção que selecionadas, são analisadas pelas equipes da Unidade Executora do Projeto, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Caixa Econômica Federal (CEF).

Os proprietários, cujos projetos são aprovados, podem assinar o contrato de financiamento e receber os recursos para executar as obras de recuperação do imóvel. As parcelas do financiamento começam a ser pagas seis meses após a conclusão das obras e são depositadas na conta do Fundo Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico. 

Serviço:
Curso de Qualificação de Mestres Artífices
Data: 12 a 16 de março de 2007
Local: CEP – Centro de Educação Profissionalizante, no Quartel do Vinte, Praça Brasil Caiado (antigo Largo do Chafariz), na cidade de Goiás (GO)
Aberto a todos

Mais Informações
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Tels: (61) 33268907 / 33268014