Iphan entrega obra de restauro na Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (SP)
publicado em 08 de março de 2007, às 16h35
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) entrega, neste domingo, 11 de março de 2007, às 16h, a obra do painel de Nossa Senhora com o Menino e Santa Teresa, pintado em 1785 pelo Mestre José Patrício da Silva Manso no teto da Igreja do Carmo. A obra passou por um minucioso trabalho de restauração realizado pela equipe da Superintendência Regional de São Paulo, com investimento do Iphan de R$ 30 mil, e agora pode voltar a compor o forro da Sacristia da Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, no Centro da capital paulista.
Na solenidade de entrega do painel restaurado, haverá um concerto musical com composições de diversos períodos históricos, apresentado pelo coral Madrigal Ademus, da Universidade de São Paulo (USP), sob a regência do maestro alemão Tobias Hiller. O coral fará uma homenagem ao compositor e pintor Padre Jesuíno do Monte Carmelo, entoando a peça musical Motetos para a Procissão de Palmas, de sua autoria. A Igreja do Carmo possui também uma série de pinturas de Padre Jesuíno, como a sequência de doutores carmelitanos que compõe o forro da nave da igreja, que poderão ser apreciadas durante a audição.
O superintendente regional do Iphan, Victor Hugo Mori, anuncia na oportunidade o pedido de tombamento do acervo de partituras de Padre Jesuíno, restaurado pelo professor da USP Régis Duprat, e já organizado no Catálogo de Manuscritos Musicais de Lenita Waldice Nogueira. “A maior parte do material artístico de Jesuíno já é preservada, pois suas obras compõem os bens integrados de várias igrejas tombadas, mas pretendemos agora, tombar também o seu arquivo musical, cujos originais estão no Museu Carlos Gomes, em Campinas (SP)”, argumenta o historiador Carlos Cerqueira, que coordenou o projeto de restauração do painel de Mestre José Patrício.
Ambos, Mestre José Patrício e Padre Jesuíno, este discípulo do primeiro, tiveram suas obras exaltadas por Mário de Andrade como genuínas expressões artísticas da brasilidade barroca. Mário de Andrade, líder do movimento modernista foi um dos pioneiros no trabalho de preservação do Patrimônio Cultural Nacional, junto com Rodrigo Mello Franco de Andrade, o criador do Iphan.
O primeiro contato de Andrade com a obra de Jesuíno deu-se em 1937, ano em que ele inventariava obras do Brasil Colônia para o Iphan. Quatro anos depois, em 1941, o modernista iria dedicar-se quase exclusivamente à monografia sobre o padre, trabalho concluído em 1944, meses antes de sua morte.
Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo
As mais ricas expressões culturais do Século 18 encontravam-se, ainda, no âmbito religioso. Assim, por constituírem as igrejas e as capelas das irmandades mais ricas um reduto das camadas privilegiadas, este se torna o espaço de entrelaçamento de seus interesses, o objeto de suas melhores atenções, enfim as beneficiárias maiores deste contexto histórico de transição, por onde se entrecruzavam o pensamento iluminista reformador e os valores tradicionais calcados numa cultura religiosa conservadora e dogmática. A produção do espaço religioso da segunda metade desse século, tanto na Capitania de São Paulo como em outras regiões, era portanto também a expressão desse embate ideológico.
Todos os templos da comunidade Carmelitana estiveram, a partir de meados do Século 18, envolvidos em obras vultuosas, adotando por vezes diferentes partidos e estilos, contribuindo para uma certa renovação da paisagem urbana onde estavam localizadas. A construção da capela da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo da Cidade de São Paulo reuniu três dos mais importantes artistas da época: José Pinto de Oliveira, mais conhecido por Mestre Tebas, responsável pela execução de seu frontispício, o Mestre Pintor José Patrício da Silva Manso, autor do painel agora restaurado; e o mais conhecido e famoso entre todos, o Padre Jesuíno do Monte Carmelo, que conclui os trabalhos de ornamentação da nova capela (1797-98) com as pinturas dos forros da capela-mor e da nave.
Exemplar de arte barroca
José Patrício da Silva Manso, natural de Sabará (MG), executou obras em várias localidades da Capitania de São Paulo e também em terras fluminenses. Entre elas, algumas encomendadas pelos monges Beneditinos de Santos, São Paulo e Rio de Janeiro, e outras pelos Franciscanos paulistanos, além das conhecidas pinturas que realizou na igreja de Nossa Senhora da Candelária de Itu, na qual contou com o auxílio de Jesuíno para a sua execução.
O painel de Nossa Senhora com o Menino e a Santa Teresa foi executado para o forro da sacristia da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo de São Paulo, um ano antes de ele seguir para Itu. Sua harmoniosa composição, chama atenção sobretudo para a bela feição de Nossa Senhora, bem como apresenta uma característica típica de sua pintura, também presente no painel central do forro da capela-mor da Matriz de Itu, o rendilhado das franjas do véu onde está o menino Jesus.
O restauro
O trabalho de recuperação da obra de José Patrício começou com uma avaliação criteriosa sobre os danos, a instabilidade dos materiais após mais de 200 anos, os prejuízos à sua legibilidade e as possibilidades de se resgatar a resistência material, as cores e formas. Para a remoção da tela, sem causar danos ao tecido original, enfraquecido e deteriorado, foi preciso protegê-la com papel japonês, descolando-a das pranchas com bisturi cirúrgico.
Usando uma ponte metálica rolante para deslocar-se sobre a tela, os técnicos do Iphan a limparam, reverteram as suas deformações, fixaram os pontos soltos da pintura, removeram as camadas de verniz antigo e escuro e os retoques que a descaracterizavam. Uma segunda tela de proteção foi colada ao pranchado, a tela original aderida a ela, em seguida, houve o retoque das cores e perdas da pintura, quando a tela, já consolidada e resistente, foi posta de pé e as falhas e perdas foram preenchidas e neutralizadas. Por fim, ela foi devolvida ao seu local de origem, junto com a moldura original, também restaurada.
Serviço:
Data: 11 de março de 2007
Local: Igreja da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, Rua Rangel Pestana, Centro
Programação:
16:00 horas - ENTREGA OFICIAL DO PAINEL, seguida de coquetel aos convidados oferecido pela Ordem Terceira do Carmo da Cidade de São Paulo;
17:00 horas - CONCERTO MUSICAL, apresentado pelo Coral MADRIGAL ADEMUS do Depto. de Música da ECA-USP/Ribeirão Preto, sob a regência do maestro Tobias Hiller (regente alemão convidado)
Mais Informações:
Assessoria de Comunicação
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Programa Monumenta do Ministério da Cultura
Fones: (61) 3326-8907 e 3326-8014