Tambor de Crioula é Patrimônio do Brasil

publicado em 19 de junho de 2007, às 16h27

 

Um cortejo com mais de três mil pessoas marcou as comemorações na noite de ontem (18 de junho), em São Luis, do registro do Tambor de Crioula no Livro das Formas de Expressão do Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro. Praticada no Maranhão desde a época da escravidão, é o décimo primeiro bem cultural de natureza imaterial inscrito em um dos quatro Livros de Registro do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial. Já haviam sido registrados: Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES), Arte Kusiwa dos Wajãpi (AP), Círio de Nazaré (PA), Samba de Roda no Recôncavo Baiano (BA), Viola-de-Cocho (MT/MS), Ofício das Baianas de Acarajé (BA), Jongo no Sudeste (RJ), Cachoeira de Iauaretê (AM), Feira de Caruaru (PE) e Frevo (PE).

Depois da reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - que se estendeu por toda tarde no terreiro mais antigo da capital maranhense, a Casa das Minas – o ministro da Cultura, Gilberto Gil, anunciou o registro para os milhares de brincantes que tomaram as ruas do centro de São Luis com seus tambores e coreiras.

Acompanhado do presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, do governador do Maranhão, Jackson Lago, da prefeita em exercício, Sandra Torres, dos representantes do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural e dos brincantes, o ministro Gil seguiu a procissão que levou o padroeiro da manifestação, São Benedito – santo protetor dos negros -, de volta à sua capela, no centro da cidade. Em seguida, participou da solenidade de celebração do registro, na Casa do Tambor de Crioula.

Plano de Salvaguarda
O ministro da Cultura afirmou que o registro foi a primeira ação de um conjunto de políticas que o Governo Federal pretende implementar para a preservação do bem cultural. “Um Plano de Salvaguarda do Tambor de Crioula deverá contemplar políticas que assegurem a transmissão dos saberes, o estímulo a novos compositores e o apoio ao registro fonográfico e audiovisual”, disse Gil, que também destacou a necessidade de se investir na difusão e no incentivo de pesquisas sobre a manifestação.

Em um discurso emocionado, alertou para a importância de se envolver jovens e crianças nas ações de preservação. Gil também aproveitou para mobilizar os brincantes e as três esferas governamentais (federal, estadual e municipal). “Não é o registro que vai garantir a sobrevivência do Tambor de Crioula, mas é a responsabilidade de todos nós”, convocou.

O presidente do Iphan, por sua vez, explicou que o registro do Tambor de Crioula se insere numa ação de mapeamento, inventário e valorização das várias formas tradicionais do samba existentes no Brasil. “Falo da diversidade que abarca o Samba de Roda baiano, o Partido Alto e o Samba de Terreiro do Rio de Janeiro, o Samba Rural paulista e o Coco do Nordeste”, disse Luiz Fernando, que lembrou da expedição folcórica empreendida pelo poeta Mário de Andrade, nos Anos 30, quando foi catalogada a manifestação maranhense.

Para o governador Jackson Lago, o registro do Tambor de Crioula foi muito importante para a consolidação cultural do estado. “O título representa para o Maranhão um momento honroso. Faz nos dar conta das nossas origens, da nossa história e da nossa força cultural”, declarou.

Diversos mestres do Tambor destacaram a importância do registro para a sustentabilidade dos grupos e das comunidades. “O registro do Tambor veio para melhorar as condições do grupo e divulgar ele em todo Brasil”, disse o mestre Amaral. Já o mestre Felipe, do Tambor de Crioula União de São Benedito, lembrou da função social que o Tambor exerce na vida dos jovens: “hoje temos muitas crianças carentes no grupo e o tambor tira essas crianças da marginalidade”. Ele, que é um dos mestres mais antigos da região, destaca orgulho que “essa é uma dança que todo o Brasil deveria conhecer”.

Neste ano celebra-se os 70 anos de existência do Iphan e de realização da expedição folclórica empreendida pelo poeta Mário de Andrade, quando foi catalogado o Tambor de Crioula do Maranhão e outras expressões populares. “Naquele momento, junto com a criação do Iphan, estavam sendo lançadas as bases de uma política de preservação que reconhece a riqueza, a dimensão, a complexidade e a diversidade do patrimônio cultural brasileiro”, declarou o presidente do Iphan.

Luiz Fernando também ressaltou a importância de reconhecer a beleza, a força, o valor e a importância das pessoas que preservam a tradição do Tambor de Crioula, uma manifestação da cultura popular maranhense que envolve dança circular, canto e percussão de três tambores.

Para a prefeita Sandra Torres, a expressão cultural é um dos mais fortes exemplos da criatividade e da resistência dos descendentes de escravos no Maranhão. “A cultura é o viés mais forte para erguer a auto-estima de um povo”, ressaltou.

Tambor de Crioula
Envolvendo dança circular, canto e percussão, o Tambor de Crioula tem sua origem ligada à resistência cultural dos negros e de seus descendentes. Seu reconhecimento veio se constituindo aos poucos.

No dia 6 de setembro, celebra-se a data dessa que é uma das mais belas manifestações culturais do Maranhão e que, desde o ano passado, passou a contar com o seu memorial, a Casa do Tambor de Crioula, instalada em uma antiga fábrica no centro de São Luís.

Atualmente, no Maranhão, vem sendo apropriado por grupos distintos e praticado por pessoas da classe média, estudantes, artistas e intelectuais. Existem mais de sessenta grupos de Tambor de Crioula catalogados no estado.

Dossie - Os Tambores da Ilha

Mais Informações:
Assessoria de Comunicação
Programa Monumenta do Ministério da Cultura
(61) 3326 6864

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