Iphan lança livro sobre arte gráfica dos índios Wajãpi, do Amapá
publicado em 19 de junho de 2007, às 16h33
A obra trata dessa tradição indígena registrada, em 2002, como patrimônio imaterial do Brasil
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) lança na terça-feira, 19 de junho, às 19h, na Fortaleza de São José de Macapá, em Macapá (AP), o livro Wajãpi, que trata da arte gráfica e pintura corporal do povo indígena que dá nome ao livro. A obra trata da arte kusiwa, desenvolvida por esse grupo de índios amapaenses, que foi registrada como patrimônio cultural brasileiro em 2002 e, no ano seguinte, incluída na lista da Unesco de Obras-Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.
Além de identificar os padrões que compõem essa forma de grafismo, o livro conta a história e as tradições dos Wajãpi e define um plano de salvaguarda da sua cultura, língua e tradições. A população total dessa comunidade indígena foi estimada em 6 mil no começo do século XIX e hoje eles são apenas cerca de 670 pessoas, divididas em 48 aldeias ao norte do Amapá.
Expressão artística
A arte kusiwa é caracterizada pelo uso de urucum, suco de jenipapo verde e resinas perfumadas e apresenta um repertório codificado de padrões gráficos, composto por figuras geométricas e onças, sucuris, jibóias, peixes e borboletas. O repertório se modifica de forma dinâmica, pela própria variação dos motivos e pela apropriação de outras formas de ornamentação.
Os Wajãpi expressam a diversidade dos seres humanos, da flora e da fauna com quem compartilham o universo através das formas de seus desenhos e ornamentações. A sua arte sintetiza seu modo particular de conhecer, conceber e agir sobre o universo. “Tal forma de expressão, complementar aos saberes transmitidos oralmente, afirma, ao mesmo tempo, o contexto de origem e a fonte de eficácia dos conhecimentos dos Wajãpi sobre o seu ambiente”, conta Dominique Gallois, responsável pela pesquisa realizada com o grupo.
Essa tradição gráfica se aplica à decoração de corpos e objetos, envolvendo técnicas e habilidades diversificadas, como o desenho, o entalhe, o trançado, a tecelagem, etc. Sua função principal, no entanto, vai muito além do uso decorativo, pois o manejo do repertório dos padrões gráficos é um prisma que reflete, de forma sintética e eficaz, a cosmologia deste grupo, suas crenças religiosas e práticas xamanísticas.
Preservação
Além do Iphan, quatro instituições estão diretamente incumbidas da preservação e revitalização da forma de expressão cultural dos Wajãpi, atuando cada uma delas em seus campos específicos, mas de forma articulada. Esta articulação interinstitucional se dá por meio do Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi, criado à época do registro, que inclui outras instituições parceiras desta comunidade e que dá apoio à organização representativa desses grupos indígenas do Amapá.
As mencionadas instituições são: o Museu do Índio – ligado à FUNAI, o Conselho das Aldeias Wajãpi – registrado como organização representativa dos Wajãpi perante a sociedade nacional –, o Núcleo de História Indígena e do Indigenismo (NHII) da Universidade de São Paulo e o Núcleo de Educação Indígena (NEI) – criado com o objetivo de planejar e implementar a política de educação escolar indígena no estado.
Como parte do plano de revitalização, são tomadas medidas como campanhas dirigidas a agentes que atuem, direta ou indiretamente, junto a esta comunidade. Há também a previsão de ações para revitalização interna das formas de expressão gráfica e oral; campanhas de sensibilização, informação e difusão dos patrimônios imateriais de grupos indígenas brasileiros; pesquisa dos dados num inventário participativo; diagnósticos permanentes do processo de revitalização; e procedimentos para a avaliação dos resultados.
Na semana do lançamento, haverá um seminário promovido pelo Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena – Iepé, com a reunião de diversos grupos indígenas da região, entre os quais os Wajãpi. Na mesma semana, foi marcada uma reunião Conselho Consultivo do Plano de Salvaguarda Wajãpi, na qual será avaliado o andamento do plano e acordados os próximos passos. Segundo, Márcia Sant’Anna, Diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan, este Plano de Salvaguarda é um exemplo de ação integrada e participativa que busca fortalecer a autonomia dos Wajãpi como sujeitos do processo de preservação e valorização de sua cultura.
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